Níveis mais altos de gordura visceral foram associados a maior presença de placas amiloides nos cérebros de indivíduos saudáveis, de acordo com um estudo. Os resultados podem explicar por que pessoas com obesidade são mais propensas à demência.
As placas amiloides são depósitos de fragmentos de proteínas (chamadas de beta-amiloides). Elas se depositam entre os neurônios, interferindo na comunicação entre essas células. O aumento de amiloide tem sido relacionado à doença de Alzheimer.
O estudo descobriu níveis de amiloide mais altos entre indivíduos com obesidade em comparação com aqueles sem obesidade. E esses níveis estavam significativamente associados ao tecido adiposo visceral, ou seja, na gordura que se concentra no abdômen, entre os órgãos.
O trabalho foi liderado por Mahsa Dolatshahi, da Escola de Medicina da Universidade de Washington, e apresentado na reunião anual da Sociedade de Radiologia da América do Norte, segundo o site MedPageToday.
Níveis mais altos de gordura visceral foram relacionados ao aumento de amiloide, explicando 77% do efeito do índice de massa corporal (IMC) elevado na acumulação de amiloide, relatou Dolatshahi. Outros tipos de gordura não explicaram o aumento da doença de Alzheimer relacionado à obesidade.
A pesquisadora também disse que os exames encontraram uma associação entre maior gordura visceral e níveis mais altos de tau, outra proteína associada ao Alzheimer.
"Até onde sabemos, nosso estudo é o único a demonstrar esses achados na meia-idade, quando nossos participantes ainda estão a décadas de desenvolver os primeiros sintomas da demência resultante da doença de Alzheimer."
Os pesquisadores também sugeriram que maior resistência à insulina e níveis mais baixos de colesterol HDL (ou “bom colesterol”) estavam associados a altos níveis de amiloide no cérebro. Além disso, o estudo mostrou que os efeitos da gordura visceral na amiloide foram parcialmente reduzidos em pessoas com níveis mais altos de HDL.
"Maiores níveis de HDL — o bom colesterol — parecem amenizar os efeitos da gordura nas patologias associadas ao Alzheimer, como o amiloide no cérebro", disse Dolatshahi. Ela sugeriu que modificar o estilo de vida para reduzir gordura e aumentar os níveis de HDL pode ter um efeito benéfico na prevenção ou no atraso da progressão da doença de Alzheimer.
O coautor do estudo, o médico Cyrus Raji, ainda sugeriu que o tratamento com os novos medicamentos para perda de peso "pode trazer benefícios à saúde cerebral na meia-idade e prevenir a doença de Alzheimer mais tarde na vida."
O estudo contou com 80 participantes de meia-idade com boa saúde cognitiva (ou seja, atenção, raciocínio e memória preservados). Homens representaram 62,5% da amostra. O IMC médio do grupo era de 32,5%, e 57,5% dos participantes tinha diagnóstico de obesidade. Todos passaram por exames de PET, ressonância magnética corporal e avaliações metabólicas.
Se os resultados forem confirmados em estudos maiores, é possível que interferir na obesidade e na distribuição de gordura corporal se torne mais uma maneira de evitar o desenvolvimento da demência.
Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY. Twitter: @tatianapronin