Diferente do que muita gente pensa, esse órgão nem sempre "avisa" quando está doente
Redação Publicado em 09/01/2022, às 09h00
O fígado é um órgão responsável por mais de 500 funções vitais ao nosso organismo, como processar e armazenar nutrientes, converter açúcares em energia, filtrar impurezas e micro-organismos, além de produzir elementos que permitem a coagulação do sangue, entre outras.
Todos os dias, esse órgão produz de 500 a 900 ml de bile, uma substância que atua como detergente de gorduras e também ajuda na absorção de certos nutrientes. Outra característica famosa do fígado é sua capacidade de regeneração, tanto que é possível realizar transplantes “em vida” – parte do órgão é retirada de uma pessoa e implantada em outra, e ambos crescem.
Apesar dessa capacidade, certas doenças crônicas podem comprometer as funções do fígado de maneira irreversível, se não tratadas a tempo. A esteatose hepática, a popular “gordura no fígado”, é uma dessas ameaças, e tem ficado cada vez mais conhecida graças à melhora no diagnóstico, mas também por hábitos insalubres, como alimentação inadequada, sedentarismo e consumo excessivo de álcool.
O acúmulo excessivo de lipídios nas células hepáticas pode permanecer estável por muitos anos, ou até regredir, se a pessoa se cuidar. Mas se isso não ocorrer, a condição pode evoluir para a esteatoepatite, um quadro inflamatório que pode resultar em morte celular e cicatrizes que comprometem as funções do órgão – a chamada cirrose, ou até câncer no fígado.
Confira:
A seguir, confira alguns mitos comuns sobre o tema, e aproveite para aprender mais sobre a prevenção e o tratamento da esteatose hepática.
A gordura no fígado é uma doença causada apenas pelo excesso de álcool.
MITO – A esteatose hepática alcoólica é causada pelo consumo excessivo e crônico de bebidas alcoólicas. Já a doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) está associada principalmente ao ganho de peso e à obesidade abdominal, sendo também provocada por alterações bruscas de peso, cirurgias bariátricas, diabetes, dislipidemia, inflamações crônicas no fígado, toxinas ambientais, uso de medicamentos (como corticoides, estrógeno, amiodarona, antirretrovirais e tamoxifeno) e de esteroides anabolizantes.
Estima-se que 20 a 30% da população adulta seja afetada pela esteatose hepática, sendo que apenas uma parte desses casos evolui para esteoepatite, cirrose e, eventualmente, para o câncer de fígado. Vale acrescentar que algumas condições podem ser associadas à DHGNA, como hepatite crônica pelo vírus C, síndrome de ovários policísticos, hipotireoidismo e síndrome de apneia do sono (sim, dormir mal também pode afetar seu metabolismo e sua saúde hepática).
A doença do fígado sempre causa sintomas.
MITO – A grande maioria das pessoas com esteatose (gordura no fígado) ou esteatoepatite não apresenta sinais ou sintomas, ou seja, trata-se de uma doença silenciosa. Esses indivíduos acabam acabam recebendo o diagnóstico apenas quando o médico pede uma ultrassonografia de abdômen, ao avaliar fatores de risco do paciente, como a obesidade abdominal ou o consumo de álcool. Exames de laboratório, como de enzimas hepáticas, colesterol, triglicérides e glicemia também podem auxiliar o diagnóstico da DHGNA. Em casos selecionados, podem ser solicitados outros exames de imagem ou biópsia de fígado.
Num estágio intermediário, é possível haver manifestações como dor no abdômen, fadiga, perda de apetite, aumento do fígado e dor de cabeça constante. Já nos estágios mais avançados, com insuficiência hepática, os sintomas mais comuns são acúmulo anormal de líquido no abdômen, confusão mental, hemorragias, queda no número de plaquetas no sangue, icterícia (pele e olhos amarelados), fezes sem cor, alterações do sono e mudanças na coagulação, entre outros.
Dietas ou suplementos para desintoxicar o fígado ajudam.
MITO. Não existe dieta milagrosa ou suco detox capaz de melhorar a saúde do seu fígado. Para quem tem esteatose ou esteatohepatite não-alcoólica, o melhor remédio é controle ou perda do peso e atividade física, além de uma dieta balanceada pobre em alimentos ultraprocessados, ricos em açucares e gordura. Se a gordura no fígado está associada ao uso do álcool, o melhor é a abstinência até orientação médica para avaliar a extensão do dano ao fígado provocado pelo uso de bebidas alcoólicas.
O tratamento da doença hepática gordurosa não alcoólica varia de acordo com as consequências e as causas associadas. Mas envolve sempre mudanças no estilo de vida, como alimentação equilibrada, controle do peso e atividade física regular. Condições associadas, como obesidade, diabetes e hipertensão, entre outras, também devem ser controladas para melhorar a saúde do fígado. Alguns medicamentos podem ser indicados para a esteatoepatite, mas só podem ser receitados por um especialista. É fundamental consultar o médico sobre o uso de eventuais chás, plantas medicinais ou suplementos alimentares.
Fontes: Sociedade Brasileira de Hepatologia, Ministério da Saúde e Paulo Bittencourt (médico presidente do Instituto Brasileiro do Fígado - Ibrafig).
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