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Precisa emagrecer? Saiba que a balança não é tudo para o diagnóstico

Nõa basta olhar na balança ou no espelho para saber se é necessário emagrecer - iStock
Nõa basta olhar na balança ou no espelho para saber se é necessário emagrecer - iStock

Leo Fávaro* Publicado em 01/11/2021, às 14h00

Perder peso não é tarefa simples e demanda acompanhamento por profissionais de diversas áreas. Isso porque a obesidade pode ter diversas causas, o que também necessita de direcionamento específico para cada tipo de tratamento - e nenhum deles é milagroso. Mas afinal, o que é a obesidade ou o excesso de peso? E será que a balança é a única ferramenta necessária para diagnosticar o problema? 

Obesidade enquanto doença

A endocrinologista e doutora em ciências da saúde pela USP Marina Cunha Pazolini explica que se trata de “uma doença crônica associada ao excesso de gordura corporal, ou seja, acúmulo de tecido adiposo localizado ou generalizado. Ela é recorrente, de difícil tratamento e associada a diversas outras doenças e condições”.

O aspecto estético é apenas uma parte da doença e é sua manifestação. O que pouco se vê ou que se sente são outras complicações decorrentes dela ou a ela associadas que podem causar incapacidades e reduzir a expectativa de vida das pessoas.

A obesidade pode ser classificada basicamente em dois tipos:

  • Obesidade do tipo androide: mais comum em homens, na qual o corpo adquire formato de maçã, havendo aumento importante do depósito de gordura abdominal. Está associada a maior risco de eventos cardíacos e vasculares;
  • Obesidade tipo ginecoide: o corpo formato passa a ter formato de pera, verificado mais frequentemente em mulheres, nas quais o depósito de gordura é mais no quadril. Está associado a menor risco de eventos cardíacos e vasculares.

Causas são apenas alimentação e sedentarismo?

A obesidade comumente é associada ao fato da pessoa comer muito e não fazer exercício físico, o que não é uma verdade isolada, já que outros fatores podem estar relacionados à doença - de fatores genéticos a questões ambientais. “Ainda atualmente, grande parte das pessoas considera a obesidade como consequência apenas de fatores comportamentais, como ‘falta de força de vontade’, mas a questão é maior”, afirma Marina.

“Hoje, sabe-se que a obesidade é complexa e que existem pessoas com muita predisposição ao ganho de peso e outras muito resistentes. Fatores de diversas naturezas estão associados a ela; questões ambientais (oferta de alimentos calóricos, redução de atividade física), comportamentais (alimento no papel de prazer e recompensa) e genéticas (como a presença de genes específicos) influenciam no desenvolvimento da obesidade. Existem raros casos de obesidade genética em que a pessoa se torna muito obesa, independentemente do efeito do ambiente”.

Confira:

Balança não é tudo - nem o espelho!

Basta olhar na balança ou no espelho para saber se é necessário emagrecer? Definitivamente não. Avaliar apenas o peso que aparece na balança pode dar uma percepção falsa de que ele está adequado ou elevado.

A especialista explica que “há pessoas com o peso adequado para altura, mas que apresentam aumento de gordura abdominal e pouca massa muscular, assim como há pessoas musculosas que apresentam um peso mais elevado às custas de massa magra”. Portanto, mais importante do que ver quais números aparecem ao subir na balança é entender o quanto eles representam de gordura e músculo, principalmente.

O peso não é um parâmetro absoluto, pois a pessoa pode perder massa gorda (gordura) e ganhar massa magra (musculatura) e manter o mesmo peso, mas trocou sua composição corporal”, completa.

A avaliação adequada compreende analisar a história da pessoa e lançar mão de critérios como circunferência de cintura e bioimpedância associados ao peso e à altura. Isso porque o aumento da circunferência de cintura está relacionado ao depósito de gordura abdominal e a bioimpedância se relaciona à análise da composição corporal, permitindo estabelecer percentual de gordura e de músculo por meio de corrente elétrica. A altura e o peso determinam o índice de massa corporal (IMC), que é a distribuição de massa por área de superfície do corpo humano.

IMC apresenta limitações

Mesmo sendo um critério importante e mais conhecido pelas pessoas, a análise isolada do IMC apresenta limitações. “A definição de obesidade mais utilizada é baseada no IMC, que é o peso dividido pela altura ao quadrado, porém esse índice não define exatamente o peso corporal de gordura ou de massa magra (músculo). Pessoas musculosas podem ter IMC elevado, porém não terem excesso de gordura corporal, e pessoas com pouca massa muscular podem ter IMC baixo e ter excesso de gordura corporal”, esclarece Marina.

A médica acrescenta que outro teste que pode ajudar a avaliar adequadamente se o peso está adequado para aquela pessoa é o DEXA, que é o padrão-ouro para avaliação da massa óssea e que também é utilizado na avaliação da composição corporal total, incluindo massa magra e gorda. Esse exame, realizado pelo mesmo equipamento que faz densitometria óssea, quantifica a massa óssea e a composição corporal (de gordura e músculo) por meio da emissão de raios-x de dupla energia.

*Leo Fávaro é acadêmico de medicina da Universidade Federal do Espírito Santo

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