Cármen Guaresemin Publicado em 27/09/2022, às 13h00
Hemorroidas são veias inchadas no ânus e reto inferior semelhantes a varizes. Elas podem se desenvolver dentro do reto (hemorroidas internas) ou sob a pele ao redor do ânus (hemorroidas externas). Elas têm várias causas, mas muitas vezes é impossível identificar a origem do problema. Felizmente, existem tratamentos eficazes. E muitas pessoas obtêm alívio com medidas simples e mudanças no estilo de vida.
A coloproctologista Aline Amaro explica que todo mundo tem hemorroidas, porém existem inúmeros motivos possíveis para que elas se tornem sintomáticas. “Tudo que aumente a pressão no canal anal e prejudique as estruturas que sustentam esses vasos são fatores de risco para início dos sintomas. Algumas das principais causas são intestino preso, esforço evacuatório e fezes extremamente ressecadas. Essas alterações causam inchaço e prolapso desses vasos.”
Ela lembra que alguns outros fatores relacionados ao surgimento da doença são envelhecimento, obesidade e gestação. Herança genética também pode estar envolvida. “Em suma, é uma doença multifatorial”, diz a médica.
Homens e mulheres têm as mesmas chances de ter o problema? Aline conta que, apesar de não haver números precisos sobre a doença, acredita-se que mais de 50% da população apresentará algum sintoma relacionado a hemorroidas em algum momento da vida. A doença pode afetar homens e mulheres, principalmente na fase entre 45 e 65 anos, porém há um predomínio discretamente aumentado no sexo feminino.
É comum que as mulheres tenham hemorroidas na gravidez, e aquelas que têm ou tiveram hemorroidas têm mais chances de desenvolver o problema novamente, ou seu agravamento, durante esse período. Ela destaca, ainda, que é importante conhecer causas, sintomas e tratamentos e, principalmente, não se automedicar.
As hemorroidas podem aparecer em qualquer trimestre da gestação. “No entanto, são mais frequentes a partir do segundo, pois o aumento do peso e a pressão exercida sobre os vasos é maior. Porém, elas tendem a desaparecer no pós-parto após cerca de três meses. De tão comuns, as hemorroidas são consideradas como uma das muitas mudanças físicas pelas quais as mulheres passam durante a gravidez, sem causar qualquer prejuízo para o bebê”, esclarece Aline.
Segundo a médica, os sintomas podem variar, e entre eles estão dor na região anal, principalmente ao evacuar, andar ou sentar-se, coceira, presença de sangue vermelho vivo ao redor das fezes ou no papel higiênico após a limpeza e aparecimento de saliência no ânus, no caso de hemorroida externa.
Algumas medidas podem ser tomadas durante a gestação para melhorar sintomas, segundo a médica:
-Tomar banhos de assento: a água morna favorece a circulação sanguínea, diminuindo o inchaço e aliviando o desconforto.
-Não usar papel higiênico: a fricção desse material contra o ânus pode causar ainda mais irritação e inchaço. Lave a região com água depois de evacuar e, quando isso não for possível, utilize lenços umedecidos.
-Não comer pimenta e evitar muitos condimentos ou frituras.
-Evitar deitar-se com a barriga para cima. Essa simples mudança diminui a pressão na região anal por facilitar o retorno venoso;
-Utilizar uma almofada com um furo no meio para aliviar possíveis dores ao sentar-se.
Aline diz que uma das medidas de prevenção é evitar a prisão de ventre, pois estima-se que 38% das mulheres grávidas fiquem constipadas em algum momento da gravidez. Para isso, a médica recomenda:
- a ingestão de alimentos ricos em fibras, como frutas com casca e vegetais, além de grãos integrais como aveia, arroz integral e quinoa;
- consumir ao menos dois litros de água diariamente (a água tem o importante papel de ajudar a amolecer as fezes);
- nunca adiar as evacuações. “Segurar o impulso de ir ao banheiro faz com que o intestino absorva mais água das fezes retidas, endurecendo-as, ocasionando maior dor e atrito para eliminá-las”, afirma a especialista.
- não ficar em pé ou sentada por muitas horas seguidas, intercalando pequenas caminhadas a cada hora;
- praticar exercícios físicos, como caminhada, yoga ou hidroginástica, por exemplo.
Aline explica que durante a gestação o tratamento é um pouco diferente, já que muitas medicações podem interferir na saúde do bebê. Há indicações de banho de assento e pomadas que lubrificam a passagem das fezes, diminuem o processo inflamatório e o volume da hemorroida.
“Ocorrências agudas, como dor e trombose da hemorroida, precisam de tratamento individualizado de acordo com a situação da paciente. Geralmente, não realizamos tratamentos cirúrgicos em mulheres grávidas. Mas, caso o quadro não melhore após o nascimento do bebê, uma cirurgia para hemorroidas poderá ser indicada, especialmente em casos mais avançados”, conclui.
Ela lembra que são raros os casos de gestantes que realizam tratamento cirúrgico para doença hemorroidária durante a gestação. A intervenção cirúrgica não se justifica, exceto na presença de hemorroidas extremamente complicadas (com necrose e estranguladas). “Estima-se que a incidência desses casos é de 2% e sempre procuramos a abordagem cirúrgica menos invasiva, apenas para melhorar a crise imediata e, após término da gestação, traçamos um plano de tratamento definitivo”.
Apesar de desconfortável, o surgimento da hemorroida na gravidez não é algo grave, mas é necessário ser cuidado e acompanhado por um profissional para que a grávida possa ter uma gestação com saúde e bem-estar. Por isso, se houver aparecimento de algum dos sintomas, é importante procurar ajuda de um coloproctologista.
A hemorroida é uma doença que atinge grande parte da população, sendo mais comum após os 40 anos de idade. Apesar de não existirem estimativas sobre a incidência de casos no Brasil, segundo a Sociedade Brasileira de Coloproctologia, acredita-se que cerca de metade da população mundial será afetada pela doença. Trata-se de um problema venoso progressivo, em que acontece dilatação das veias na região anal, gerando desconforto, inflamação e uma série de outros sintomas, sendo os principais dor e sangramento.
Segundo Aline, a forma mais indicada para realizar a higiene anal é lavando a região após cada evacuação com água e sabão, além de secar com toalha macia após higiene. “Na vida real, orientamos também uso de lenços umedecidos neutros para momentos e locais onde não conseguimos realizar a higiene adequada, sempre lembrando de secar a região após uso do lenço para evitar a umidade”.
Ela frisa que o importante é evitar o papel higiênico. Ele não causa hemorroida, porém não faz higiene adequada da região, podendo causar dermatites, coceiras e outros sintomas, além de piorar as queixas dos pacientes durantes as crises.
A coloproctologista afirma que o segredo do bom funcionamento intestinal é uma alimentação rica em fibras, boa ingestão hídrica e exercício físico regular. Se o seu intestino estiver funcionando adequadamente, suas chances de desenvolver doença hemorroidária diminui drasticamente. “Alguns alimentos ricos em fibras são: aveia, gérmen de trigo, amêndoas com casca, mamão, maçã com casca, abacate, tangerina, kiwi, vegetais em geral. O recomendado é a ingestão de 20-35 gramas de fibra por dia”.
Quanto aos que se deve evitar, ela conta que não existe nenhum alimento isolado que cause a doença hemorroidária, porém, durante as crises ou em pacientes já com a doença instalada, orienta-se, como foi dito anteriormente, que evitem pimenta em excesso. “Ela não causa doença hemorroidária, porém pode piorar os sintomas devido a substâncias que causam ardência e irritação. Além disso, orientamos mudanças de hábitos alimentares para todos os pacientes em geral, como diminuição de ingestão de carne vermelha e alimentos condimentados”, finaliza.
Fonte: Aline Amaro é coloproctologista em Brasília, com residência médica em Coloproctologia e em Cirurgia Geral no Hospital de Base de São José do Rio Preto-SP. Graduada em Medicina pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).
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