Uma nova vacina contra o herpes-zóster, doença popularmente conhecida como "cobreiro", chegou ao Brasil este mês, nas clínicas privadas. O preço é alto – cada dose pode custar mais de R$ 800, a depender do local, e são necessárias duas doses para imunização completa.
A vantagem é que os estudos com a Shingrix (nome comercial da nova vacina) apontam uma eficácia de 97%, ao passo que a Zostavax, aprovada há mais tempo na rede privada e, portanto, mais barata, tem uma eficácia em torno de 70%. Assim, muita gente que já se imunizou tem se perguntado se vale a pena investir de novo na vacinação.
Quem já teve herpes-zóster nunca se esquece. A doença é provocada pelo vírus varicela-zóster (VVZ), causador da catapora, que, depois da infecção inicial, fica dormente no organismo. Mais tarde, em situações de estresse e queda de imunidade, o VVZ pode ser “reativado” e, então, provoca lesões de pele extremamente dolorosas, além de febre, mal-estar, dor de cabeça e outros sintomas. O local afetado depende da região do corpo em que o vírus ficou alojado, e as lesões seguem a trajetória de um nervo.
O tratamento é feito com antivirais e analgésicos, e deve ser iniciado o quanto antes. Vale lembrar que o herpes-zóster não tem relação, apesar do nome, com o herpes labial ou genital – estas duas condições são causadas pelo vírus herpes simples, que, apesar de pertencer à mesma família de vírus, é diferente do varicela (causador da catapora).
A médica geriatra Maisa Kairalla, presidente da Comissão de Imunização da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), conta que tem havido um aumento da incidência do herpes-zóster por causa do envelhecimento da população. É que, com o passar da idade, nosso sitema imunológico sofre um processo natural de envelhecimento, chamado de "imunosenescência".
Embora não haja números ainda, os casos de herpes-zóster aumentaram de forma significativa nos últimos dois anos, após a chegada do novo coronavírus. “Certamente com a Covid isso aconteceu [o aumento de casos]; a gente ainda não sabe ao certo se isso ocorreu por causa do vírus, ou se é por causa do estresse da pandemia”, explica Maisa.
A depender dos nervos afetados pelo vírus, é possível que o paciente venha a ter complicações graves, embora mais raras, como quadros de paralisia facial, algo que foi bastante destacado na mídia com o caso recente do cantor Justin Bieber. A síndrome de Ramsay Hunt, como ele próprio destacou em seu Instagram, envolve os nervos do ouvido e de um lado do rosto.
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Outras complicações possíveis da reativação do herpes-zóster, como informa o Ministério da Saúde, são as seguintes:
Síndrome de Reye (doença rara que causa inflamação no cérebro e que pode ser fatal, associada ao uso de AAS, principalmente em crianças).
O risco de herpes-zóster aumenta com a idade, e, por isso, a vacinação é recomendada a partir dos 50 anos de idade. Mas a doença pode, eventualmente, acometer pessoas mais jovens em situações de estresse, ou quem tem a imunidade comprometida em função de outras doenças. O mesmo vale para as complicações.
Segundo a pediatra Michele Berman descreve no site MedPageToday, a síndrome de Ramsay Hunt afeta 5 a cada 100 mil pessoas por ano nos EUA, e representa 7% dos casos de paralisia facial aguda naquele país, sendo mais comum em indivíduos de 60 e 70 anos.
Tomar a vacina contra a catapora (varicela) na infância é uma forma de evitar o risco de herpes-zóster e suas complicações, e esse imunizante já faz parte do Programa Nacional de Imunizações (PNI), ou seja, é oferecido de graça aos brasileiros. Mesmo quem tomou pode, ainda assim, ter o vírus reativado no futuro, embora o risco seja mais baixo, por isso o ideal é tomar também, mais tarde, as vacinas específicas contra o herpes-zóster, que só podem ser adquiridas no sistema privado.
Quem já tomou a vacina antiga e quer ter maior proteção pode, sim, tomar a nova. "Ela é indicada para adultos acima de 50 anos, inclusive os que já tomaram a vacina anterior. A vantagem é que pode ser usada também por imunossuprimidos a partir de 18 anos”, explica a dermatologista Adriana Vilarinho, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e da Academia Americana de Dermatologia (AAD). O tempo de proteção também aumenta, de acordo com ela, dos atuais três anos para mais de 10.
O novo imunizante é feito com vírus inativado, o que ajuda a incluir pacientes imunossuprimidos no esquema vacinal. Maisa Kairalla confirma que quem tomou a vacina anterior pode fazer a nova, desde que respeitando um período em torno de quatro a oito semanas. “A gente considera que você está protegido com a anterior, mas que esta veio para somar, com uma imunidade ainda maior”.
Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY. Twitter: @tatianapronin