Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h38 - Atualizado às 23h55
No Brasil, a cada quatro mulheres que têm filho, mais de uma apresenta sintomas de depressão no período de 6 a 18 meses após o nascimento do bebê. A constatação é de um estudo realizado por pesquisadoras da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, da Fiocruz. Os resultados foram publicados no Journal of Affective Disorders.
O trabalho é considerado um dos maiores já feitos no país em relação a partos e nascimentos. Contou com quase 24 mil mulheres no período de 6 a 18 meses após o parto. A prevalência global de depressão pós-parto encontrada foi de 26,3%, mais alta que a estimada pela Organização Mundial da Saúde para países de baixa renda, que é de 19,8%.
Como esperado, foi constatado um número excessivo de cesarianas – 52% no total, sendo 88% só no setor privado. Também foi alto o número de intervenções dolorosas e muitas vezes desnecessárias, como a episiotomia (corte cirúrgico no períneo) e o uso de oxitocina ou manobras para acelerar a expulsão do bebê. As pesquisadoras não encontraram associação entre esses procedimentos e a tendência maior à depressão, o que mostra que eles são aceitos pelas mulheres como “normal”. Para as autoras, isso é preocupante.
O transtorno foi mais comum em mulheres da cor parda, com baixa condição socioeconômica, com antecedentes de transtorno mental, hábitos como o uso de álcool e que não haviam planejado a gravidez.
As mulheres que desenvolveram sintomas de depressão, na pesquisa, também foram aquelas que avaliaram pior seu atendimento na maternidade. Mas as autoras não podem dizer se a avaliação foi ruim porque a paciente já estava deprimida, ou se o atendimento de fato foi inadequado para essas parturientes.
A depressão pós-parto traz inúmeras consequências ao vínculo da mãe com o bebê, o que afeta o desenvolvimento da criança. As sequelas podem se prolongar até a infância e a adolescência. A mulher deprimida também tende a amamentar pouco.