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ISTs: estudantes que usam app de namoro correm mais risco

Estudo aponta a relação entre uso de aplicativos de namoro e aumento de ISTs - iStock
Estudo aponta a relação entre uso de aplicativos de namoro e aumento de ISTs - iStock

Recentemente, a OMS alertou sobre o aumento da incidência de ISTs (infecções sexualmente transmissíveis em muitas regiões do mundo, uma vez que há mais de 1 milhão de novos casos por dia.

Entre os países de alta renda, os EUA têm uma das maiores prevalências de ISTs, e esse problema está se agravando. A incidência de clamídia mais que dobrou desde 2000, enquanto a gonorreia aumentou em 40% e a sífilis em 400%. A maior prevalência ocorre entre jovens adultos de 20 a 34 anos.

No Brasil, a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), de 2019, aponta que aproximadamente 1 milhão de pessoas afirmaram ter diagnóstico médico de IST ao longo do ano, o que corresponde a 0,6% da população com 18 anos de idade ou mais. O Ministério da Saúde também anunciou que, em 2021, houve um recorde histórico de casos de sífilis, com mais de 122 mil novos casos registrados só no primeiro semestre. 

Relação entre ISTs e aplicativos

A tecnologia tornou mais fácil do que nunca encontrar parceiros sexuais: mais da metade dos norte-americanos com menos de 30 anos relatam usar aplicativos de namoro. Esses aplicativos existem há mais de 20 anos, mas se tornaram populares em torno de 2010. 

Agora, um estudo publicado na Frontiers in Reproductive Health mostra que esses dois fenômenos podem estar relacionados, conforme explica a médica Jaquetta Reeves, autora correspondente da pesquisa e professora assistente da Universidade do Texas:

“Aqui mostramos que o uso de aplicativos de namoro entre estudantes universitários está ligado a um aumento nos comportamentos sexuais desprotegidos e a um maior número de parceiros sexuais, aumentando o risco de transmissão de ISTs e HIV”.

Questionários anônimos

Em 2022, Reeves e colegas utilizaram um questionário online anônimo para entrevistar 122 estudantes universitários jovens adultos, entre 19 e 35 anos, de ambos os gêneros, no norte do Texas.

Os participantes foram inicialmente questionados se já haviam usado um aplicativo de namoro. Em seguida, foram convidados a fornecer informações sobre seu comportamento sexual: por exemplo, o número de parceiros, uso de clínicas universitárias, histórico de ISTs e prática de relações sexuais sem preservativo.

Por meio de três perguntas abertas, os participantes foram questionados sobre parceiros sexuais que haviam conhecido por meio de aplicativos, tanto relacionamentos sérios, como encontros casuais.

Quem usa mais app de namoro?

Veja o que a pesquisa mostrou sobre o uso da tecnologia para encontrar parceiros nos EUA: 

- O uso de aplicativos de namoro foi mais comum entre estudantes brancos (47%) do que entre negros (12%);

- Também foi mais comum entre homens (64%) do que entre mulheres (33%);

- Por último, o uso foi mais comum entre pessoas que se identificaram como heterossexuais (86%) do que entre aqueles que se identificaram como gays ou lésbicas (14%).

Diferenças entre usuários e não usuários

As análises revelaram diferenças significativas entre os participantes que usavam aplicativos de namoro e aqueles que nunca os usaram. Veja alguns exemplos:

- Aqueles que relataram ter mais de um parceiro sexual no último ano tinham 2,2 vezes mais probabilidade de usar aplicativos de namoro do que aqueles com apenas um parceiro.

- Já os que relataram ter relações sexuais combinadas com álcool tinham 1,4 vezes mais probabilidade de usar esses aplicativos.

- Participantes que tiveram sua primeira relação sexual entre 16 e 19 anos eram 1,5 vezes mais propensos a usar aplicativos em comparação aos que relataram sua primeira relação aos 20 anos ou mais.

- Estudantes que já haviam realizado exames de HIV/IST em clínicas universitárias tinham 1,8 vezes mais probabilidade de usar aplicativos do que aqueles que nunca foram testados,

- Estudantes que já haviam testado positivo para HIV/IST tinham 1,3 vezes mais probabilidade de usar aplicativos.

- Os autores não encontraram diferenças na frequência do uso de preservativos durante sexo oral e vaginal entre usuários e não usuários de aplicativos.

- Por outro lado, aqueles que relataram usar preservativos sempre ou frequentemente durante o sexo anal tinham 1,1 vezes mais probabilidade de usar aplicativos do que aqueles que raramente ou nunca usavam preservativos nessa prática.

O que explica a associação?

Os pesquisadores concluíram que havia uma associação positiva significativa entre o uso de aplicativos de namoro e o engajamento em comportamentos sexuais de risco entre os estudantes. Mas qual seria a causa dessa associação e qual seria o efeito? Veja o que responde a pesquisadora:

“A causalidade entre comportamentos sexuais de risco e o uso de aplicativos de namoro provavelmente flui em ambas as direções. Os aplicativos de namoro facilitam o encontro de parceiros casuais, o que pode levar a comportamentos de risco, como o uso inconsistente de preservativos. Por outro lado, indivíduos que já praticam comportamentos de risco podem recorrer aos aplicativos para encontrar parceiros com práticas semelhantes”.

Como reduzir os riscos?

“Para quebrar esse ciclo vicioso, intervenções em saúde sexual devem focar em integrar educação sexual nos aplicativos, promover normas de sexo seguro por meio de campanhas para jovens, melhorar o acesso a testes de ISTs/HIV, reduzir o estigma em torno das discussões sobre saúde sexual e usar tecnologia para lembretes de testagem e notificações de exposição,” recomendou Reeves.

Tatiana Pronin

Tatiana Pronin

Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY. Twitter: @tatianapronin