Pedestres distraídos pelo smartphone forçam as cidades a se adaptarem para evitar acidentes
Cármen Guaresemin Publicado em 30/07/2023, às 16h00
O termo smombie é a junção das palavras smartphone e zombie (zumbi). Trata-se de um neologismo que indica um pedestre que mantém os olhos direcionados à tela de seus smartphones, a ponto de ignorar o que está ao seu redor e não prestar a devida atenção à sua segurança e à dos outros. Sim, as pessoas estão passando cada vez mais tempo vidradas nos celulares e não desgrudam dos equipamentos nem mesmo para atravessar a rua e, por vezes, nem mesmo para dirigir ou pilotar motos e bicicletas. Porém, essa falta de foco no momento presente e de atenção ao entorno pode causar graves acidentes.
Cidades já começam a se adaptar a este perfil de comportamento 100% online e desconectado da realidade. Em Seul, na Coreia do Sul, por exemplo, foram instaladas luzes nas calçadas para alertar sobre o semáforo e chamar a atenção daqueles que olham para o smartphone. Também naquele país, na cidade de Ilsan, foram colocados lasers e luzes piscantes nos cruzamentos. Isso também forçou as pessoas a olharem para a rua.
Na Alemanha, as cidades de Colônia e de Augsburg colocaram os semáforos também no chão, para os pedestres distraídos. Um modelo similar está sendo testado no Brasil, nas cidades paranaenses Araucária e Cascável, onde foram instaladas faixas de led acopladas ao poste e ao antebraço dos semáforos e nas calçadas. Além disso, em alguns países há aplicativos que conseguem fazer o celular vibrar, avisando sobre perigos na rua.
Mas será que são as cidades que precisam se adaptar sozinhas? Ou seria esse tipo de comportamento social um alerta para uma mudança de hábitos em favor da melhora da qualidade de vida e da saúde mental? O psicólogo Vitor Friary fala sobre os riscos do comportamento “smombie” para além dos acidentes de trânsito. Ele alerta que viver no automático significa estar desatento e desconectado dos sentidos.
“Existem algumas funções cerebrais que precisam que estejamos mais conscientes e despertos no dia a dia para executarem, por nós, habilidades cognitivas de muita importância, como o bom funcionamento de memória, tomada de decisão com mais calma, atenção e foco para performar tarefas desafiadoras com resultados mais eficientes. Se estamos muito no piloto automático, nosso cérebro para de desenvolver o que é preciso para manter essas funções em níveis positivos”, afirma Friary.
Ele lembra que viver no automático também faz com que a mente se aprisione a pensamentos do passado e preocupações do futuro mais facilmente. “Esses pensamentos podem ativar emoções e sensações de ansiedade e depressão no corpo, que facilitam adoecimento mental e menos imunidade”, conta.
Segundo o psicólogo, a médio e a longo prazo, o estado de desconexão com o presente pode deixar as pessoas mais vulneráveis a quadros de depressão e ansiedade. E se a pessoa já experimenta níveis de estresse elevados, pode agravar o quadro, ou perpetuá-lo no tempo, sendo difícil da pessoa experimentar o retorno ao estado de relaxamento e alivio.
Friary afirma que uma maneira de reverter esse quadro de desatenção é notando o impulso de se apressar e de pegar o celular, e “se soltar” disso. “No começo pode provocar sensações desagradáveis, mas com o tempo isso vai dobrar a sensação de prazer e relaxamento, pois o controle de impulsos tem seu lado positivo de trazer a sensação de liberdade e leveza”, ensina.
Outra dica que ele dá é andar na rua, sentindo os pés, com o corpo ereto, e de novo e de novo se ater as sensações do corpo caminhando, com vitalidade, com a coluna sempre erguida. Pode-se, assim, também perceber as coisas ao redor. “O que será que está aqui e agora nessa rua que passou que nunca prestei atenção antes, que seja novo? Esse tipo de raciocínio desliga o estado de piloto automático e ativa regiões cerebrais relacionadas a atenção e bem-estar”, finaliza ele.
Fonte: Vitor Friary é Mestre em Terapia Cognitiva e Mindfulness pela London Metropolitan University (UK). Pós Graduado em Terapia Cognitiva pelo Goldsmiths College, University of London (UK). Graduado em Psicologia pela Middlesex London University (UK).
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