O chamado "jejum intermitente", que consiste em restringir o número de horas do dia em que a pessoa pode se alimentar, virou moda para quem busca emagrecer. Alguns estudos têm mostrado, no entanto, que, embora perder peso seja bom para a saúde, dietas radicais desse tipo podem ter efeitos indesejados.
Um estudo em animais publicado este mês alerta que o jejum intermitente pode prejudicar a fertilidade. No trabalho, esse tipo de restrição alimentar afetou a reprodução de peixes-zebra machos e fêmeas, e as consequências negativas sobre óvulos e espermatozoides se mantiveram mesmo depois que os animais voltaram a se alimentar como antes. A hipótese é que, diante da restrição de energia, o organismo é obrigado a realocar recursos para se manter, em vez de "investir" na reprodução.
“A maneira como os organismos respondem à escassez de alimentos pode afetar a qualidade dos óvulos e espermatozoides, e esses efeitos podem continuar após o fim do período de jejum", comenta o médico Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor da Clínica Mater Prime, em São Paulo.
Esse não é o primeiro estudo a associar o jejum a possíveis prejuízos à fertilidade. Um estudo do ano passado mostrou que esse tipo de dieta pode diminuir os níveis de hormônios andrógenos entre os homens, o que pode afetar negativamente a saúde metabólica e a libido.
Vale destacar que os dados em humanos ainda são limitados. "Mais pesquisas são necessárias nessa área para entender a possível relação, mas os profissionais habilitados para o acompanhamento de recomendações dietéticas devem levar sempre em consideração o quesito fertilidade, uma vez que muitos nutrientes estão envolvidos com a melhora da qualidade dos gametas e, em dietas restritivas, eles tendem a ser ingeridos em quantidades insuficientes”, avalia Rosa.
A médica nutróloga Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), explica que existem diferentes tipos de jejum intermitente. "O principal ponto negativo é a dificuldade na manutenção dos resultados, se não houver mudança de hábitos alimentares. Outra limitação é a aderência aos protocolos, por causa de preferências pessoais relacionadas aos períodos de refeições, à pratica de atividade física, ao convívio social e familiar", comenta.
Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY. Twitter: @tatianapronin