Jovens precisam aprender a vencer a solidão com esforço pessoal

Ao contrário do que muitos especialistas acreditavam, os indivíduos que hoje têm em torno de 55 e 75 anos de idade, chamados de “baby boomers”, não estão

Jairo Bouer Publicado em 11/12/2019, às 14h03

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Ao contrário do que muitos especialistas acreditavam, os indivíduos que hoje têm em torno de 55 e 75 anos de idade, chamados de “baby boomers”, não estão mais solitários que os de gerações anteriores. De acordo com dois estudos publicados nesta semana pela Associação Americana de Psicologia (APA, em inglês), a tal “epidemia de solidão” a que todo mundo se refere pode não ser um problema tão preocupante para essa faixa etária como se imaginava. E a boa notícia talvez sirva de lição para quem se sente só, independente da idade.

Um dos estudos, liderados por pesquisadores da Universidade de Chicago, comparou dados de mais de 3 mil adultos nascidos entre 1920 e 1947, entrevistados em duas épocas diferentes. Além dessa amostra, foram analisados outro grupo de 4.777 indivíduos, que incluía também pessoas nascidas entre 1948 e 1965, os “baby boomers”.

Os autores viram que os níveis de solidão tendem a ser um pouco mais baixos entre os 50 e 74 anos de idade, mas sobem após os 75, quando problemas de saúde se agravam, a independência diminui e há perdas de amigos, parceiros ou parentes.

Esforço para interagir

Independente da geração, o que se sabe é que indivíduos que mantém uma boa saúde, têm um parceiro romântico e cultivam relacionamentos são menos propensos a relatar solidão. O segundo estudo divulgado pela APA comprova essas afirmações ao analisar uma amostra de 4.880 holandeses nascidos entre 1908 e 1957.

O que essa última pesquisa como fator mais importante para o “alívio” da solidão é a sensação de estar no controle. Quando a pessoa descobre que pode ter bons relacionamentos se fizer um esforço para isso a sensação desagradável de estar só diminui. Em outras palavras, quando alguém reúne os amigos, vai a eventos, à igreja etc, ela passa a compreender que ficar só é uma opção, e não destino.

Para os autores de ambos os trabalhos, descritos no periódico Psychology and Aging, muito da impressão que se tem ao ler, na imprensa, sobre os níveis alarmantes de solidão se deve, na verdade, ao envelhecimento da população. Com mais idosos vivos, há proporcionalmente mais queixas, mas isso não significa que os adultos mais velhos de hoje são mais solitários que os de antigamente, o que é uma boa notícia.

E os jovens solitários?

É curioso destacar que dois outros estudos recentes mostram que muitos adultos jovens têm se sentido solitários, apesar do advento das redes sociais. Um deles, feito com 1.200 norte-americanos, concluiu que 1 a cada 3 indivíduos com menos de 25 anos de idade tem essa sensação, enquanto apenas 11% dos adultos com mais de 65 anos relataram o mesmo. Esses resultados foram publicados este ano, no Annals of Family Medicine.

Outra pesquisa que saiu no ano passado, com mais de 55 mil britânicos, trouxe dados ainda mais alarmantes: 40% dos entrevistados de 16 a 24 anos de idade afirmaram se sentir solitários sempre ou quase sempre. Na faixa dos 65 aos 74 anos, o resultado foi de 29%, e na de indivíduos acima de 75 anos, ficou em 27%. As informações, divulgadas pela BBC, ainda mostram que os jovens mais solitários eram os que tinham mais amigos “exclusivamente on-line”, ou seja, amigos que só são contactados pelas redes sociais.

Se idosos podem aprender a vencer a solidão com esforço pessoal, e quem sabe até aproveitar as redes sociais para retomar amizades antigas ou criar grupos com interesses em comum, é possível que os mais jovens possam aprender com os mais velhos. Evitar que os relacionamentos fiquem restritos ao universo virtual pode ser um caminho para se sentir mais conectado na fase que, até então, era considerada “o auge” da vida.

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