Adolescentes que usam maconha, álcool e nicotina têm mais probabilidade de apresentar sintomas psiquiátricos subjacentes, ou seja, que podem não ser muito explícitos, além de sintomas mais graves do que seus pares que não fazem uso regular dessas substâncias. Esses são os resultados de uma pesquisa publicada no periódico Jama Pediatrics, da Associação Médica Americana.
O estudo descobriu que tais substâncias estão relacionadas a uma variedade de sintomas e condições, incluindo ansiedade, depressão, hiperatividade e ideação suicida. Esses resultados sugerem que questionar os adolescentes sobre o uso de substâncias pode fornecer uma ferramenta de triagem poderosa ao procurar problemas de saúde mental subjacentes.
Segundo o autor principal do trabalho, Brenden Tervo-Clemmens, professor assistente de psiquiatria da Universidade de Minnesota, nos EUA, todos os sintomas relacionados a saúde mental examinados estavam elevados nos usuários de substâncias como álcool e drogas. E a associação existia mesmo para quem consumia níveis baixos das substâncias.
Para o autor, adolescentes com baixos níveis de uso de substâncias podem estar se automedicando e que o uso provavelmente não era a causa dos sintomas.
Mas a pesquisa também revelou que os usuários mais frequentes e que consomem maiores quantidades das substâncias experimentaram os sintomas de saúde mental mais graves. Nesses casos, de acordo com o estudo, os adolescentes podem estar agravando seus sintomas com o uso.
O uso diário ou quase diário — mas não o uso semanal ou mensal — de substâncias estava ligado a um aumento moderado nos sintomas. Os pesquisadores descreveram a conexão como "dependente da dose", porque o nível de uso estava relacionado à intensidade dos sintomas.
O trabalho contou com dois conjuntos de dados que produziram resultados semelhantes, o que reforça sua qualidade. Uma amostra usou dados de pesquisa de 15.600 estudantes do ensino médio de Massachusetts com idade média de cerca de 16 anos. A segunda amostra baseou-se em dados auto-relatados semelhantes de 17.000 participantes da Pesquisa Nacional de Comportamento de Risco entre Jovens dos EUA.
Em ambos os grupos, os autores do estudo observaram que "o uso de álcool, maconha e nicotina teve associações significativas, moderadas e dependentes da dose, com sintomas psiquiátricos mais graves, incluindo pensamentos suicidas".
Outra descoberta importante foi que a ligação estava presente entre vários sintomas e entre várias substâncias. "Não é apenas maconha, não é apenas álcool, não é apenas nicotina", afirmou Tervo-Clemmens. "Parece ser independente da substância."
Comparados com gerações anteriores, os adolescentes de hoje estão experimentando mais sintomas de saúde mental, mas há uma diminuição no uso de drogas e álcool. O consumo excessivo de álcool e o tabagismo, em particular, caíram acentuadamente, afetando uma parcela menor da população adolescente. Essas tendências podem reforçar a ideia de que perguntar aos adolescentes sobre o uso de substâncias poderia ser uma maneira de triar problemas de saúde mental.
Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY. Twitter: @tatianapronin