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Lacuna de orgasmo: por que elas nem sempre conseguem?

Nas relações heterossexuais, os homens chegam ao orgasmo com maior frequência que as mulheres - iStock
Nas relações heterossexuais, os homens chegam ao orgasmo com maior frequência que as mulheres - iStock

Redação Publicado em 14/03/2025, às 10h00

Homens têm orgasmos com maior frequência do que as mulheres durante o sexo heterossexual. Um novo estudo sugere uma razão fundamental: os homens tendem a se concentrar em seu próprio orgasmo e se sentem apoiados nessa busca, enquanto as mulheres estão mais focadas no prazer de seus parceiros.

Essa diferença no foco sexual, denominada "lacuna de busca por orgasmo", ajuda a explicar por que as mulheres experimentam menos orgasmos e menos satisfação sexual em relacionamentos com o sexo oposto. As descobertas foram publicadas no Journal of Social and Personal Relationships.

Só nas relações heterossexuais

A "lacuna de orgasmo" é uma diferença bem documentada na frequência de orgasmos entre homens e mulheres durante encontros sexuais heterossexuais.

Diversos estudos já mostraram, contudo, que essa lacuna não existe quando as mulheres estão com outras mulheres ou quando se masturbam. Isso sugere que a questão não é apenas sobre os corpos ou as respostas das mulheres, e sim sobre a dinâmica dentro dos relacionamentos heterossexuais.

Orgasmo como meta

Para entender esse aspecto relacional, os pesquisadores por trás do novo estudo investigaram o conceito de "busca do orgasmo como meta". Eles estavam interessados ​​em explorar não apenas o desejo de um indivíduo de ter orgasmo, mas também como os parceiros influenciam as experiências sexuais um do outro.

Os pesquisadores basearam seu trabalho em uma ideia chamada “teoria da interdependência”, que sugere que em relacionamentos próximos, os parceiros afetam profundamente os pensamentos, sentimentos e ações um do outro.

Prazer próprio e do parceiro

Em um relacionamento saudável, os parceiros idealmente deixam de focar apenas em suas próprias necessidades para também valorizar e apoiar as necessidades de seus parceiros. Os pesquisadores propuseram que a lacuna do orgasmo pode ser explicada por um desequilíbrio em como homens e mulheres buscam orgasmos em seus relacionamentos.

Eles queriam examinar se homens e mulheres diferem em quanto priorizam seu próprio orgasmo, quanto priorizam o orgasmo de seus parceiros e quanto acreditam que seus parceiros estão priorizando os orgasmos deles ou delas.

Fardo sobre as mulheres

"Em meio à crescente atenção científica e da mídia sobre a lacuna do orgasmo, não pude deixar de notar que a maioria dos dados e conselhos estavam focados nas mulheres e nas etapas que as elas poderiam ou deveriam seguir para ter mais orgasmos", explicou a autora do estudo Carly Wolfer, candidata a doutorado na Universidade da Cidade de Nova York.

Para ela, tentar empoderar as mulheres para que elas sejam responsáveis pelo próprio orgasmo é algo bem-intencionado, mas um pouco sem sentido:

Esse enquadramento coloca o fardo sobre as mulheres e trata a lacuna do orgasmo como uma ‘questão feminina’ quando, na verdade, a lacuna do orgasmo existe apenas quando as mulheres fazem sexo com homens, não quando as mulheres se masturbam ou fazem sexo com outras mulheres.”

Em outras palavras, o problema não é com as mulheres, mas com a dinâmica entre homens e mulheres. 

Diário sexual

Os pesquisadores conduziram um estudo com diário online de 21 dias. Eles recrutaram 127 adultos heterossexuais em relacionamentos monogâmicos. Os participantes, aproximadamente metade homens e metade mulheres, tinham entre 18 e 40 anos e estavam com seus parceiros há pelo menos três meses, mas não mais do que cinco anos.

Todas as noites, todos tinham que responder perguntas sobre suas experiências românticas e sexuais nas últimas 24 horas. Se tivessem se envolvido em atividade sexual, eram questionados sobre vários aspectos do encontro, incluindo se eles ou seus parceiros tiveram um orgasmo e quão satisfeitos estavam com a experiência.

Os pesquisadores desenvolveram uma ferramenta específica para medir a "busca interdependente do orgasmo", composta por três partes. Primeiro, media a "busca pessoal do orgasmo como objetivo". Depois, avaliava o quanto os indivíduos estavam tentando ajudar seu parceiro a ter orgasmo. Por fim, media o quanto os indivíduos sentiam que seu parceiro estava priorizando o orgasmo deles ou delas. 

90% contra 54%

Os resultados confirmaram a existência da lacuna do orgasmo na amostra. Os homens relataram ter orgasmos em 90% dos seus encontros sexuais, enquanto as mulheres relataram orgasmos em apenas 54% dos seus encontros. Os homens também relataram níveis significativamente mais altos de satisfação sexual geral e satisfação com seus orgasmos em comparação com as mulheres.

Além disso, os homens relataram níveis mais altos de busca do orgasmo como meta do que as mulheres, o que significa que eles estavam mais focados em alcançar seu próprio objetivo. Os homens também relataram níveis mais altos de busca percebida de orgasmo do parceiro, ou seja: eles sentiam que suas parceiras apoiavam seu objetivo de orgasmo.

Por outro lado, as mulheres relataram níveis mais altos de busca de orgasmo do parceiro, demonstrando que estavam mais focadas no prazer do parceiro. Em essência, os homens estavam mais focados em seu próprio orgasmo e se sentiam apoiados nisso, enquanto as mulheres estavam mais focadas no orgasmo dos parceiros.

Apoio dos homens é insuficiente

“Descobrimos que os homens tinham 15x mais probabilidade de ter orgasmo e estavam muito mais satisfeitos do que as mulheres durante o sexo com parceiros”, disse Wolfer ao site PsyPost. “Além disso, nossa pesquisa expõe um novo tipo de lacuna de orgasmo que contribui para o prazer sexual reduzido das mulheres (e aumentado dos homens): uma lacuna de busca de orgasmo, em que o apoio dos homens ao orgasmo das mulheres é insuficiente em relação ao apoio das mulheres ao dos homens.”

Para ela, isso tem muito a ver com a forma como tratamos a relação sexual ou a penetração (a rota mais confiável para o orgasmo dos homens) como o "evento principal", mas a estimulação do clitóris (a rota mais confiável para o orgasmo das mulheres) como "preliminares" opcionais.

Em vez de seguir esse roteiro padrão, os parceiros poderiam tentar colaborar com as necessidades sexuais um do outro de uma forma mais equilibrada, segundo a pesquisadora. Isso incluiria explorar uma variedade de posições e técnicas sexuais que estimulem o clitóris e se comunicar mais sobre o que dá prazer.

Quando o outro prioriza seu prazer

Talvez o detalhe mais importante do estudo é que existe uma interação entre a busca pessoal e a busca percebida do parceiro. Assim, a chance de uma pessoa se esforçar e obter um orgasmo é maior quando ela sente que o parceiro também prioriza seu prazer.

"Nossos dados mostram que os esforços pessoais para o orgasmo produzem sexo satisfatório e orgasmos apenas quando acompanhados por apoio percebido ou colaboração de um parceiro", explicou Wolfer.

"Em outras palavras, se você quer e tenta ter orgasmo quando está fazendo sexo com um parceiro, para que o orgasmo e o sexo sejam prazerosos, é importante que você sinta que seu parceiro quer e tenta ajudá-lo a ter orgasmo também. No entanto, esse apoio mútuo ou compartilhado é precisamente o que está faltando quando homens e mulheres fazem sexo uns com os outros.”

De qualquer forma, é importante lembrar que o orgasmo é apenas uma parte do quebra-cabeça — não é um requisito ou sinônimo de prazer sexual. “Quando falamos sobre objetivos e busca do orgasmo, há o risco de criar sexo orientado para objetivos ou desempenho, o que pode aumentar a pressão e fazer as pessoas se sentirem disfuncionais, como se tivessem falhado se não ‘atingissem’ o objetivo.”