Estudo canadense buscou entender se o uso de maconha vem antes ou depois dos problemas de saúde mental
Redação Publicado em 20/07/2021, às 20h00
Estudos já mostraram que as minorias sexuais, principalmente jovens lésbicas, gays e bissexuais (LGB), usam mais maconha e experimentam maiores desafios de saúde mental em comparação a seus pares heterossexuais.
Mas será que as maiores taxas de uso de “cannabis” entre essa parcela da sociedade precedem as questões de saúde mental ou é o contrário? Um novo estudo da Universidade de Montréal (Canadá) oferece algumas respostas.
A pesquisa, publicada no Journal of Abnormal Psychology, analisou dados coletados de 1.548 adolescentes, incluindo 128 jovens LGB. Os participantes foram acompanhados desde os cinco meses de idade e as respostas ao questionário foram coletadas quando tinham 13, 15 e 17 anos.
Os achados revelaram que, embora tenha havido associação entre sintomas depressivos aos 15 anos e um aumento do consumo de maconha aos 17 na amostra geral, essa associação foi cinco vezes mais forte entre jovens LGB.
Confira:
De acordo com os pesquisadores, essa relação pode sinalizar uma tendência dos adolescentes que se identificam como lésbicas, gays e bissexuais de se automedicarem com “cannabis” para lidar com sintomas depressivos. Além disso, o uso de maconha para esses fins também pode indicar que outras fontes de apoio à depressão são carentes ou inadequadas para a realidade da juventude LGB.
Para a surpresa da equipe, os resultados mostraram ainda que os sintomas de ansiedade entre esse grupo aos 15 anos previam uma redução do consumo da substância aos 17 anos, o que vai de encontro à constatação de uma associação entre depressão e o uso de “cannabis” por jovens LGB.
Segundo os pesquisadores, a diferença entre a relação depressão-cannabis e entre ansiedade-cannabis poderia indicar a realidade que esses adolescentes experimentam, particularmente no que diz respeito à exibição pública da sua orientação sexual.
Dessa forma, os autores acreditam que os fatores sociais relacionados à experiência de uma orientação sexual minoritária desempenham um papel importante tanto no uso da maconha quanto nos problemas de saúde mental e na relação entre esses dois fatores.
Por essas e outras razões, o estudo enfatiza a necessidade de que os serviços dedicados aos jovens, particularmente de saúde mental, sejam melhor equipados e estejam preparados para atender as questões específicas da comunidade LGBTQIA+.
Os pesquisadores explicam que é na adolescência que as pessoas tentam constantemente descobrir a sua identidade o que, por si só, já é muito difícil. Assim, quando a descoberta de uma orientação sexual minoritária é adicionada a esse momento, as coisas podem ficam ainda mais complicadas.
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