Redação Publicado em 24/03/2021, às 19h00
Mais da metade de todos os profissionais de saúde em todo o mundo estão com "burnout", a síndrome do esgotamento físico e mental associado ao trabalho. É o que mostra um estudo da Universidade do Texas (Estados Unidos), publicado no periódico EClinicalMedicine da Lancet. Segundo a publicação, a pandemia de Covid-19 apenas piorou ainda mais a situação.
Se o problema não for tratado, essas pessoas podem deixar suas profissões e buscar ocupações menos estressantes ou a aposentadoria precoce.
Um recente estudo realizado pelo Medscape, com cerca de 7.500 médicos do mundo todo, mostrou que a condição atingiu taxas extremamente altas. Entretanto, os médicos não estão sozinhos.
Os profissionais de saúde em geral estão experimentando o problema e, de acordo com os autores, é preciso olhar para toda essa força de trabalho e definir estratégias para evitar uma espiral de burnout.
A palavra “burnout” tem origem na expressão em inglês que significa “queimar até se reduzir a cinzas”. Dessa forma, o termo é utilizado para fazer referência ao estado de esgotamento provocado pelo trabalho.
A síndrome de burnout, como é conhecida, ocorre quando o estresse crônico do trabalho não é gerenciado com sucesso e possui três dimensões:
1- Sentimento de exaustão ou esgotamento da energia: o cansaço persiste mesmo após alguns dias de folga
2- Falta de identificação com o trabalho, ou sentimentos de negativismo e desmotivação relacionados ao emprego
3- Redução do desempenho profissional: a pessoa se sente mal em relação às tarefas que realiza e a produtividade cai
A condição pode ainda provocar alguns sintomas físicos como insônia, dores de cabeça, palpitações e problemas gastrointestinais.
De acordo com a Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), o burnout afeta 30% dos trabalhadores brasileiros ou cerca de 30 milhões de pessoas. Entre os fatores de risco estão a pressão do tempo (policiais e bombeiros), falta de comunicação e suporte do chefe, tratamento injusto e carga excessiva de trabalho.
Os profissionais de saúde estão sob altos níveis de sofrimento mental, com sintomas de solidão, depressão e ansiedade. O aumento de mortes, o estresse pós-traumático, as longas jornadas de trabalho e o ritmo lento na implementação das vacinas contra a Covid-19 nos países estão criando um efeito cascata do problema sobre esse grupo.
De acordo com os autores, as mulheres da área da saúde são as que mais sofrem. A desigualdade de gênero está crescendo e, cada vez mais trabalhadoras desse campo, especialmente atuantes em cuidados intensivos e doenças infecciosas, estão se esgotando em uma taxa elevada.
Há algum tempo, um artigo da Lancet estimou que até 2030 existirá uma escassez de 18 millhões de trabalhadores da saúde, e que isso pode custar aos governos 47 trilhões de dólares.
As projeções foram feitas antes mesmo da pandemia de Covid-19 e, no cenário atual, a carência desses profissionais pode aumentar ainda mais, ter um custo muito elevado e impactar negativamente a qualidade do serviço prestado.
Para os autores, perder profissionais de saúde para outras áreas ou para a aposentadoria é insustentável, as autoridades precisam trabalhar ao lado da comunidade científica para entender as implicações do burnout e desenvolver estratégias que visem a prevenção do problema.