Redação Publicado em 25/08/2021, às 13h00
Metade dos adultos de 20 a 39 anos com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) tiveram transtorno por uso de substâncias na vida, de acordo com uma nova pesquisa publicada on-line antes da impressão neste mês na revista Alcohol and Alcoholism. O número é nitidamente maior do que os 23,6% de adultos jovens sem TDAH que tiveram um transtorno por uso de substâncias na vida.
Mesmo depois de considerar fatores como idade, etnia, renda, educação, adversidades da infância e outras doenças mentais, os jovens adultos com TDAH ainda tinham 69% mais chances de ter um transtorno por uso de substâncias, quando comparados a seus pares sem TDAH.
O controle da história de vida de doenças mentais e adversidades da infância causou a maior atenuação da relação TDAH e transtorno por uso de substâncias. Mais de um quarto (27%) das pessoas com TDAH tinha histórico de depressão, que era muito maior do que a prevalência entre aqueles sem TDAH (11%).
“Esses resultados enfatizam a importância de abordar a depressão e a ansiedade ao fornecer cuidados àqueles com TDAH e transtorno por uso de substâncias concomitantes. Indivíduos com depressão e ansiedade não tratadas podem se automedicar para controlar os sintomas de um transtorno psiquiátrico não tratado, o que pode resultar em maior uso de substâncias”, relatou a autora principal, Esme Fuller-Thomson, professora da Faculdade de Serviço Social Factor-Inwentash da Universidade de Toronto, no Canadá..
Aqueles com TDAH também experimentaram altos níveis de experiências adversas na infância, com mais de um terço dos adultos jovens (35%) relatando que haviam sido abusados fisicamente e um em cada nove relatando que foram vítimas de abuso sexual (11%) antes de 16 anos.
Uma forte associação entre adversidades na infância e transtorno por uso de substâncias também foi encontrada em pesquisas anteriores. Maus-tratos na infância podem interromper a regulação emocional e o neurodesenvolvimento das crianças, o que pode predispô-las a desenvolver dependência de substâncias mais tarde, afirmaram os pesquisadores.
Os transtornos por uso de álcool foram os transtornos por abuso de substâncias mais comuns entre os adultos jovens com TDAH (36%), seguidos por transtornos por uso de cannabis (23%). Os jovens adultos com TDAH também tinham três vezes mais probabilidade de sofrer um transtorno com drogas ilícitas (além da cannabis), quando comparados a seus pares sem TDAH (18% vs. 5%).
Os pesquisadores afirmaram que uma potencial explicação para a taxa extremamente alta de uso de drogas ilícitas entre aqueles com TDAH é a hipótese do portal acelerado. Esta teoria postula que as pessoas com TDAH tendem a iniciar o uso de substâncias ainda muito jovens, resultando em um uso mais arriscado e maior gravidade do problema na idade adulta.
Os dados foram retirados do Canadian Community Health Survey – Mental Health, a partir de uma amostra nacionalmente representativa, que incluiu 6.872 entrevistados, com idades entre 20-39, dos quais 270 tinham TDAH. A taxa de resposta à pesquisa foi de 68,9%.
Os resultados do estudo mostram a extrema vulnerabilidade dos adultos jovens com TDAH. “Há uma necessidade clara de desenvolver programas de prevenção e tratamento para abordar as questões de uso de substâncias entre aqueles com TDAH, ao mesmo tempo que promovam a saúde mental e abordem as adversidades da infância”, afirmou Esme.