Estudo sugere forte ligação entre um microbioma intestinal saudável e maior resiliência ao estresse
Redação Publicado em 03/07/2024, às 14h00
Um novo estudo da Universidade da Califórnia (UCLA), nos Estados Unidos, descobriu que as pessoas que são resilientes diante do estresse tendem a ter microbiotas intestinais saudáveis. A forte ligação entre a saúde intestinal e cerebral revela a complexa interação entre os órgãos e os múltiplos sistemas do corpo humano. O estudo foi publicado no jornal Nature Mental Health.
Muitos especialistas referem-se ao estresse como uma epidemia, uma vez que pode prejudicar a saúde física e mental se não for controlado. De acordo com o relatório Stress in America 2022 da Associação Americana de Psicologia (APA), o estresse imobilizou em grande parte 37% dos adultos nos Estados Unidos naquele ano, tornando-os incapazes de cumprir muitas tarefas diárias básicas. Na pesquisa da APA de 2023, o estresse crônico entre os americanos saltou para 45%.
A resiliência é uma qualidade que permite a uma pessoa responder ao estresse de forma mais eficaz por meio de uma aceitação equilibrada da mudança, da tenacidade e da capacidade de se recuperar de eventos difíceis.
Para o estudo, pesquisadores do Centro de Microbioma Goodman-Luskin da UCLA entrevistaram 116 pessoas sobre o quão resilientes elas se sentiam diante da adversidade. Todos os participantes enviaram uma amostra de fezes aos pesquisadores e, alguns dias depois, foram submetidos a exames cerebrais de fMRI (ressonância magnética funcional) para examinar a atividade em diferentes regiões do cérebro. As amostras de fezes dos indivíduos mais resilientes tinham menos bactérias inflamatórias e exibiam sinais de integridade robusta na barreira intestinal.
Um dos objetivos do estudo era diferir de pesquisas anteriores que investigavam os impactos negativos de um intestino insalubre no cérebro, olhando as coisas de um ângulo positivo. Os autores dizem que suas descobertas sugerem uma inter-relação complexa entre o intestino e o cérebro, na qual a resiliência beneficia as funções psicológicas, emocionais e cognitivas.
Os pesquisadores usaram a Escala de Resiliência Connor-Davidson (CD Risc) para avaliar a resiliência dos participantes do estudo. A escala permite que as pessoas registrem seu grau de resiliência respondendo a 25 perguntas, com uma de cinco respostas variando de 0 (nada verdadeiro) a 4 (quase sempre).
Cinco áreas compreendem a resiliência no CD Risc:
-Competência pessoal, tenacidade e padrões elevados.
-Fé nos instintos e tolerância aos efeitos negativos e fortalecedores do estresse.
-Aceitação positiva da mudança e relações pessoais seguras
-Controle.
-Influências espirituais.
Para residentes nos EUA, a pontuação média do CD Risc é 80,7.
Várias conexões importantes entre o intestino e o cérebro ajudam a explicar o efeito de um sobre o outro. Pesquisas anteriores descobriram que o microbioma intestinal pode regular os níveis de ansiedade. A nossa compreensão da relação entre como o microbioma intestinal pode afetar a ansiedade ainda está em evolução, mas este estudo destaca uma nova ligação com a nossa resiliência.
“A saúde do seu intestino, a integridade das bactérias presentes basicamente afetará o quão saudável é o revestimento do intestino, esteja ele inflamado ou não”, explicou ao Medical News Today David Merrill, psiquiatra geriátrico e diretor do Centro de Saúde Cerebral do Instituto de Neurociências do Pacífico, na Califórnia,e que não esteve envolvido no estudo.
Quando o intestino fica inflamado, pode ficar “permeável” e menos eficaz na retenção e acesso aos nutrientes. A inflamação crônica está ligada a vários distúrbios de saúde mental, e a redução da inflamação pode ajudar a melhorar a função cerebral e a estabilidade emocional. Há também uma conexão direta entre o intestino e o cérebro ao longo do nervo vago que conecta os dois diretamente. Através desta “superestrada”, o intestino envia para o cérebro ácidos graxos de cadeia curta (AGCCs) produzidos através da fermentação da fibra alimentar no sistema digestivo.
Os AGCCs desempenham um papel importante na manutenção da saúde intestinal e podem ter efeitos benéficos na função cerebral e na regulação do humor. Eles ajudam a promover a produção de neurotransmissores benéficos e a reduzir a inflamação no cérebro. Entre esses neurotransmissores estão a serotonina e a dopamina. Aproximadamente 90% da serotonina é produzida no intestino, assim como 50% da dopamina.
A conexão intestino-cérebro é um dado adquirido. Se você se sente um lixo e não acha que vale a pena cuidar de você, você vai comer junk food e todos os alimentos processados e vai ter bactérias patológicas, então seu intestino vai desmoronar, apontou o psiquiatra.
Consumir uma grande variedade de alimentos ricos em fibras, como frutas, vegetais, feijões, legumes e grãos integrais, pode apoiar um microbioma intestinal saudável. Esses alimentos não apenas nutrem o corpo, mas também podem melhorar o controle do estresse, fornecendo nutrientes essenciais para uma saúde, energia e produtividade ideais.
É também recomendada a inclusão de alimentos ricos em probióticos e prebióticos que ajudam a alimentar as bactérias intestinais benéficas. Eles são encontrados em vegetais específicos, como cebola, alho, alho-poró, aspargos e jicama (raiz comestível, também conhecida como batata-mexicana ou nabo-mexicano), entre outros.
Seguir uma rotina de sono consistente e suficiente é igualmente importante para a saúde intestinal e mental, uma vez que as perturbações do sono têm sido associadas a níveis mais elevados de estresse. A atividade física também apoia a saúde intestinal e os seus conhecidos benefícios para a saúde geral.
Fonte: Medical News Today
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