Redação Publicado em 13/02/2025, às 10h00
Eles estão em todo lugar. Estudos têm mostrado que os microplásticos – pedaços extremamente pequenos de plástico que resultam da degradação de itens feitos desse material – não apenas estão se acumulando no meio ambiente, mas também nos nossos órgãos.
A estimativa é que uma pessoa consome, em média, entre 78.000 e 211.000 partículas de microplástico por ano, através da água potável, alimentos contaminados e pela inalação de ar contendo essas partículas.
Agora, um estudo publicado na revista Nature Medicine sugere que os níveis de microplásticos no cérebro são muito mais altos do que em outros órgãos, como o fígado e os rins.
Os pesquisadores também descobriram que pessoas diagnosticadas com demência apresentam até 10 vezes mais microplásticos no cérebro do que aquelas sem a condição.
Em declaração ao site MedicalNewsToday, o toxicologista Matthew Campen, que participou da pesquisa, explica que as concentrações de micro e nanoplásticos (MNPs) aumentaram exponencialmente nas últimas cinco décadas.
“Apesar desse rápido crescimento, ainda há muito a ser descoberto sobre como os MNPs podem representar riscos potenciais à saúde humana. Pesquisas contínuas são essenciais para esclarecer esses riscos, ajudando-nos a entender melhor seus efeitos e permitindo o desenvolvimento de estratégias para prevenir ou mitigar possíveis danos,” acrescentou.
Neste estudo, os pesquisadores analisaram amostras de tecido cerebral post-mortem doadas pelo Escritório de Investigação Médica do Novo México entre os anos de 2016 e 2024. A ideia foi avaliar as concentrações de microplásticos no cérebro para ajudar a determinar se essas partículas representam uma ameaça direta à saúde neurológica.
Considerando que o cérebro possui mecanismos limitados de eliminação, são necessárias mais pesquisas aprofundadas para entender totalmente os possíveis efeitos a longo prazo, segundo o toxicologista Marcus Garcia, coautor do estudo.
Usando um método especial desenvolvido pelos cientistas, eles identificaram a presença de 12 diferentes polímeros nas amostras de tecido cerebral, sendo o polietileno o mais comum. O polietileno é um plástico amplamente utilizado e pode ser encontrado em embalagens, sacolas, isolamentos e canos de água.
Após a análise dos resultados, os pesquisadores descobriram que as concentrações de microplásticos eram muito maiores no cérebro do que em outras partes do corpo, incluindo o fígado, rins, placenta e testículos.
Essa descoberta é importante por várias razões. Primeiro, porque sugere que o cérebro pode ser particularmente vulnerável ao acúmulo de micro e nanoplásticos, provavelmente devido ao seu alto metabolismo e composição rica em lipídios. Em segundo lugar, embora essa descoberta destaque a natureza penetrante da exposição aos microplásticos, também oferece um motivo para otimismo.
“Neste estudo, mostramos a ausência de concentrações mais altas em indivíduos mais velhos, o que sugere que o corpo humano pode ser capaz de eliminar ou excretar essas partículas ao longo do tempo,” afirmou Campen. “Isso reforça a importância de políticas ambientais eficazes, já que reduzir a exposição poderia impactar diretamente o acúmulo de microplásticos no corpo.”
“Além disso, nossos dados fornecem insights sobre as possíveis origens desses microplásticos, provavelmente de materiais degradados há décadas, ajudando a moldar estratégias ambientais mais direcionadas para o futuro,” acrescentou.
Os cientistas também descobriram que amostras de tecido cerebral de pessoas diagnosticadas com demência continham até 10 vezes mais microplásticos do que aquelas sem a doença.
“A descoberta de que o tecido cerebral de indivíduos diagnosticados com demência tinha até 10 vezes mais plástico do que aqueles sem a condição é significativa, mas é importante interpretar isso com cautela,” disse Garcia.
“Embora as concentrações de microplásticos pareçam mais altas em amostras de pacientes com demência, não sugerimos atualmente que os microplásticos causem demência. É possível que a própria doença influencie o acúmulo de microplásticos, talvez devido a mudanças no metabolismo cerebral, mecanismos de eliminação alterados ou outros fatores relacionados à doença,” explicou.
A observação destaca a necessidade de mais pesquisas para entender a relação entre microplásticos e condições neurológicas.
Especialistas aconselham a adoção de algumas estratégias para minimizar o descarte e, por consequência, o risco de ter microplásticos acumulados no corpo: