Você gostaria de mudar algo no seu corpo ou rosto? É muito difícil encontrar alguém que não adoraria ter braços mais fortes, um nariz mais harmonioso ou uma pele mais lisa. Além do espelho de casa, estamos todos expostos a vídeos e fotos o tempo todo, o que faz com que essas imperfeições sejam lembradas com maior frequência.
Para quem sofre do transtorno dismórfico corporal, no entanto, espelhos e selfies são apenas parte do problema. Como descreveu o médico italiano Enrico Morselli, em 1891, o paciente com o transtorno é dominado pelo medo da deformidade o tempo todo – enquanto lê, conversa ou faz suas refeições, em qualquer lugar e a qualquer momento, com uma intensidade que muitas vezes leva ao choro e ao desespero.
Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria, a estimativa é que o transtorno atinja de 1% a 2% da população. Estudos sobre o tema indicam que os principais alvos de preocupação excessiva são a pele, o cabelo e o nariz e as pessoas com o quadro têm, em média, cerca de 5 a 7 diferentes “problemas”. Para alguns indivíduos, a maior fonte de incômodo é a sensação de ter um corpo “pequeno” e sem músculos, um subtipo do transtorno que também é chamado de vigorexia.
Também chamado de dismorfia corporal, o transtorno está longe de ser um simples sinal de vaidade. Pelo contrário, quem sofre com ele tende a se achar feio ou inadequado por causa das imperfeições que julgam ter. Algumas pessoas até deixam de sair de casa por isso, ou passam a evitar situações específicas – como locais com muita luz, por exemplo.
Também são comuns as tentativas de camuflar os supostos defeitos, com roupas ou maquiagens pesadas, atividade física excessiva e sucessivos tratamentos médicos ou cosméticos, que nunca trazem a satisfação esperada.
Além da vergonha de se expor e da tentativa constante de mudar de aparência, pessoas com o transtorno podem repetir determinados comportamentos durante parte considerável do dia, como:
Esses comportamentos chegam a atrapalhar as atividades diárias da pessoa, como o estudo ou o trabalho, além de afetar o relacionamento com os outros.
Muitas vezes, o transtorno acompanha sintomas de ansiedade ou depressão. Um estudo inclusive alerta que 80% das pessoas diagnosticadas com o transtorno sofrem de ideação suicida.
Não se sabe exatamente o que provoca o transtorno, mas estima-se que haja fatores genéticos e também ambientais, como exposição a traumas ou bullying.
Estudos têm sugerido que transtornos de imagem corporal, como a dismorfia corporal, e que levam a comportamentos alimentares desordenados, como a anorexia e a bulimia, podem ter se tornado mais frequentes com o advento das redes sociais. Mas ainda são necessários mais estudos para confirmar a relação. Também há indícios que a comparação constante gerada pelas plataformas tenha deixado jovens mais perfeccionistas.
Se você se identifica com esses sintomas, ou conhece alguém com eles, é muito importante buscar ajuda de um profissional de saúde mental. O tratamento envolve psicoterapia, como a terapia cognitivo-comportamental, e o uso de antidepressivos. O apoio da família e dos amigos também é imprescindível.
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Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY. Twitter: @tatianapronin