Redação Publicado em 15/03/2021, às 21h25
A pandemia voltou a lotar hospitais e diversas cidades do país decretaram “fase vermelha”. Apesar disso, alguns médicos têm chamado atenção para a redução de diagnósticos e tratamentos de doenças crônicas, o que pode se reverter em problemas mais graves no futuro.
Na semana passada, a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) divulgou os resultados de um levantamento realizado em algumas instituições do Estado de São Paulo que atendem pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde). Segundo eles, a pandemia gerou uma redução de 26% no número de novos diagnósticos de câncer de rim, próstata e bexiga no primeiro semestre de 2020, em relação ao mesmo período de 2019.
Os dados foram fornecidos pelas seguintes instituições: Hospital Amaral de Carvalho (Jaú), Instituto do Câncer da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, Hospital AC Camargo Câncer Center (São Paulo), Hospital das Clínicas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e Hospital São Paulo, da Escola Paulista de Medicina – Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Só o hospital da Unicamp, por exemplo, registrou queda de 52% nos tumores de bexiga, 61% nos de próstata e 63% nos de rim.
Segundo o urologista Geraldo de Faria, presidente da SBU-SP, o medo de contrair a Covid-19 tem afastado as pessoas de consultórios, clínicas e hospitais. “Porém, a recomendação da comunidade científica é que os pacientes não deixem de fazer suas consultas de rotina e, quando estão em tratamento, não abandonem a terapia”, avisa. Vale lembrar que quando se trata de câncer e muitas outras doenças, quanto antes o diagnóstico é feito, maiores as chances de cura.
Só em relação ao câncer de próstata, o de maior prevalência na população masculina e o segundo tipo de tumor que mais mata homens, no Brasil, a redução média foi de 33%.
Segundo o Inca (Instituto Nacional do Câncer), a previsão é de que 13.650 novos casos desse tipo de câncer seriam diagnosticados em 2020. Isso significa que mais de 4.500 novos casos deixaram de ser identificados no ano passado, o que é preocupante. Ao extrapolar a comparação para o país, a SBU estima que 22 mil homens deixaram de receber um dignóstico precoce de câncer de próstata em 2020, uma vez que o Inca previa 65.840 novos casos.
É importante ressaltar que o tumor não costuma gerar sintomas em fases iniciais, e 90% dos casos podem ser curados se identificados cedo. A recomendação é que, a partir dos 50 anos, os homens procurem o urologista para uma avaliação. Como negros e indivíduos com parentes de primeiro grau com histórico de câncer de próstata têm risco maior de desenvolver a doença, essa parcela da população deve começar a fazer os exames já aos 45 anos.
Outro estudo, feito pela Unifesp, pela Faculdade de Medicina do ABC (SP) e pela Oncológica do Brasil Ensino e Pesquisa (Pará), em parceria com a Universidade de Santiago do Chile, indicou que só na cidade de São Paulo houve uma redução drástica no número de internações hospitalares por doenças crônicas não transmissíveis no primeiro semestre de 2020, em comparação com o mesmo período de 2017 a 2019.
Os principais declínios foram observados para doenças musculoesqueléticas (68%), doenças metabólicas (44%), doenças cardiovasculares (38%) e câncer (35%). Os pesquisadores utilizaram dados do Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SUS) para chegar às conclusões, publicadas no Journal of American Medical Association (Jama) na semana passada.
Segundo os autores, essa redução pode se traduzir em um aumento importante do número de pacientes com condições clínicas graves no futuro, que deixaram de buscar auxílio a tempo, e isso pode levar a um novo risco de colapso no sistema de saúde.
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