Redação Publicado em 14/07/2021, às 15h00
A pandemia de Covid-19 e as situações de estresse e tristeza associadas a ela não aumentaram significativamente a prevalência de depressão e ansiedade entre pessoas de 50 a 80 anos, é o que afirma o Estudo Longitudinal Brasileiro de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil), que monitora a saúde global de 15 mil funcionários públicos em seis universidades públicas e centros de pesquisa no Brasil desde 2008.
O levantamento foi realizado em São Paulo e envolveu 2.117 participantes da Universidade de São Paulo (USP) – em serviço ativo ou aposentados – com idades entre 50 e 80 anos. O principal objetivo era comparar a saúde mental antes e durante a pandemia tanto em indivíduos “saudáveis” quanto nos que já sofriam de ansiedade ou depressão.
Segundo os pesquisadores, o achado traz uma boa notícia. Entretanto, é importante ressaltar que São Paulo tem uma das maiores taxas de prevalência de transtornos psiquiátricos do mundo, com cerca de 20% da população afetada. Para se ter uma ideia, estudos semelhantes feitos no Reino Unido, por exemplo, apontam para 16% de prevalência.
Assim, uma possível explicação para as taxas de ansiedade ou depressão terem permanecido estáveis é o chamado “efeito teto”, ou seja, a prevalência já é tão alta que não pode ficar maior.
Os resultados – publicados na revista Psychological Medicine – mostraram que a prevalência de transtornos mentais, em geral, caiu de 23,5% para 21,1% em 2020, bem como a depressão, que apresentou queda de 3,3% para 2,8% e a ansiedade, que diminuiu de 13,8% para 8%.
Assim, no período do ano em que as informações foram coletadas (maio a dezembro), a prevalência de depressão, ansiedade e estresse manteve-se estável ou caiu moderadamente.
Confira:
Os pesquisadores explicam que é fato que os brasileiros estão mais tristes e preocupados em um contexto de pandemia, sendo que 30% relataram depressão ou sintomas de ansiedade. Porém, essas foram avaliações subjetivas e os diagnósticos apontaram para a estabilidade ou, até mesmo, para a redução das taxas.
Vale lembrar que psiquiatras só diagnosticam depressão se os pacientes apresentarem, pelo menos, dois sintomas principais por mais de dois meses - por exemplo, tristeza e falta de prazer em fazer atividades que antes eram prazerosas - e cinco dos nove sintomas considerados menores: ansiedade, distúrbios do sono, perda ou ganho de peso, pensamentos de baixa autoestima e alterações na libido.
Os dados do estudo indicam que o risco para transtornos mentais foi maior entre os mais jovens e vulneráveis socialmente, como as mulheres, indivíduos sem ensino superior e não brancos.
De acordo com os pesquisadores, as chances de problemas de saúde mental são superiores para os participantes com menos de 60 anos. Isso, provavelmente, pode ser explicado porque as pessoas mais velhas foram protegidas durante a pandemia e não precisaram sair de casa para trabalhar, mesmo depois da imposição das restrições de mobilidade, como o isolamento social.
Outro aspecto observado no levantamento foi a questão da intensificação da dupla carga feminina. Os achados revelaram que os transtornos mentais não aumentaram entre os entrevistados do sexo masculino que convivem com crianças em casa, mas tiveram um crescimento entre as mulheres. Um dos próximos passos da equipe é tentar entender melhor o impacto de ter um trabalho remunerado, fazer as tarefas domésticas e cuidar dos filhos durante o confinamento.
A estabilidade financeira também foi um fator importante relacionado à manutenção da saúde mental na pandemia. O estudo foi feito com pessoas com média de idade de 62 anos, funcionários públicos que possuem cargo e outras formas de proteção social que não estão disponíveis para a população geral.
Segundo os pesquisadores, porém, a idade contribuiu mais do que a segurança financeira no não aumento dos transtornos psiquiátricos. Isso porque problemas com a saúde mental estão associados à vulnerabilidade genética e biológica, bem como a fatores ambientais, como o estresse externo. Portanto, essa condição, geralmente, atinge o ápice por volta dos 20 e 30 anos, quando o indivíduo acaba sendo mais exposto ao mundo exterior.
Além disso, cerca de 25% dos entrevistados foram diagnosticados com algum tipo de transtorno mental. Para os autores, essas pessoas passaram pela ditadura, hiperinflação, pelo Plano Collor e, provavelmente, muitas perdas ao longo da vida. O fato de terem enfrentado muitas adversidades, portanto, pode aumentar a probabilidade de transtornos mentais caso tenham uma predisposição genética.
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