Redação Publicado em 10/08/2021, às 19h30
Uma porcentagem alarmante de crianças e adolescentes está enfrentando uma crise de saúde mental global devido à pandemia de Covid-19, de acordo com um novo estudo da Universidade de Calgary (Canadá) publicado na revista JAMA Pediatrics.
A pesquisa é uma meta-análise que reúne dados de 29 estudos e 80.879 jovens de todo o mundo. Os achados mostram que os sintomas de depressão e ansiedade em crianças e adolescentes dobraram quando comparados aos tempos pré-pandêmicos.
Antes da chegada da Covid-19, as taxas de sintomas de ansiedade e depressão clinicamente significativas em grandes cortes juvenis (até 18 anos) eram de aproximadamente 11,6% e 12,9%, respectivamente. Com a pandemia, as estimativas de prevalência aumentaram para 20,5% e 25,2%.
De acordo com os pesquisadores, outras análises já revelaram que um em cada quatro jovens está experimentando sintomas depressivos clinicamente elevados, enquanto um em cada cinco apresenta sinais de ansiedade.
O estudo analisou 16 pesquisas do leste da Ásia, quatro da Europa, seis da América do Norte, duas da América Central e do Sul e uma do Oriente Médio. Além da observação do todo, as descobertas revelaram ainda que os adolescentes mais velhos e do sexo feminino estão vivenciando níveis mais altos de depressão e ansiedade.
Os pesquisadores explicam que as taxas relacionadas à saúde mental nessa faixa etária tendem a aumentar à medida que mais restrições são impostas. Assim, ficar em isolamento social, longe dos amigos, de suas rotinas escolares e das interações sociais tem se mostrado algo muito difícil para crianças e adolescentes.
Confira:
Segundo os autores, quando a pandemia começou, a maioria das pessoas acreditava que o contexto seria desafiador no início, mas que as crianças se adaptariam com o tempo. Porém, quando o isolamento social persistiu, jovens perderam muitos marcos - e um ano é um período realmente considerável na vida deles.
Para muitos adolescentes, essa perda foi especialmente impactante. Afinal, uma vez que eles entram na adolescência, inicia-se um processo de diferenciação dos familiares e outras pessoas da mesma idade podem ser a fonte mais importante de apoio social. Com a pandemia, esse suporte foi reduzido e, em alguns casos, completamente ausente.
Os jovens de uma faixa etária mais avançada, em particular, perderam eventos significativos da vida, como formaturas ou eventos esportivos. Nesse caso, eles nunca imaginaram que, ao se formarem, não poderiam dizer adeus à escola, aos professores e aos amigos.
Segundo os pesquisadores, essa situação é algo totalmente novo e que não oferece um fechamento de ciclo. Assim, existe todo um processo de luto associado a essa vivência, o que impacta diretamente a saúde mental.
À medida que a população se vacina e o fim da pandemia parece estar cada vez mais próximo, surge uma pergunta: como crianças e adolescentes lidarão com esse retorno? Irão se recuperar desse momento ou os impactos na saúde mental vão demorar a passar?
Os autores explicam que, no momento, ainda não há respostas certas. Eles acreditam que, para a maioria das crianças que experimentaram sintomas elevados de ansiedade ou depressão, parte disso irá se resolver.
Porém, ainda de acordo com a equipe envolvida, haverá uma parcela para qual a pandemia pode ter funcionado como um catalisador, desencadeando uma trajetória desafiadora. Além disso, existem aqueles que já apresentavam problemas de saúde mental pré-pandemia, e que podem precisar lutar durante um prazo maior.
De qualquer forma, porém, os níveis de sintomas de saúde mental na juventude estão aumentando e, segundo os pesquisadores, o problema não deve ser subestimado. Para eles, os efeitos compostos pela pandemia continuarão a ser observados.
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