Redação Publicado em 13/04/2021, às 16h46
Com a chegada da pandemia de Covid-19, muitas famílias se viram isoladas dentro de suas casas. Um ano depois, um novo estudo da Universidade Estadual da Pensilvânia (Estados Unidos) relacionou esse período com uma grande variedade de impactos negativos no funcionamento e bem estar dos indivíduos e suas respectivas famílias.
Segundo os pesquisadores, nos primeiros meses de pandemia, muitos pais relataram que seus filhos estavam experienciando altos níveis de problemas “internalizantes”, isto é, depressão e ansiedade, e “externalizantes”, como comportamentos agressivos e destrutivos, em relação ao período anterior ao isolamento social.
Além disso, os pais também contaram estar com níveis mais elevados de depressão e deram notas mais baixas para a qualidade da relação conjugal no momento de cuidar das crianças.
Os autores da pesquisa, publicada no periódico Family Process, dizem que os dados evidenciam como períodos com muito estresse social e familiar podem ser devastadores para pais e filhos, e como a parceria no relacionamento é importante para o bem-estar de toda a família.
Em geral, o estresse - seja causado por aborrecimentos diários ou por alguma crise - normalmente leva a um maior conflito nas relações familiares. Sendo assim, se os pais podem apoiar um ao outro nessas situações, eles serão capazes de ser mais pacientes e dar mais suporte aos filhos, ao invés de se tornarem mais exigentes e nervosos.
Os pesquisadores acrescentam ainda que entender o que pode ajudar os pais a manter práticas parentais positivas – como ter uma relação de parceria – é a chave para ajudar a proteger as crianças durante crises futuras, seja uma pandemia, uma crise econômica ou desastre natural.
Apesar de já existirem muitos outros estudos sobre o impacto negativo da pandemia nas famílias, a pesquisa é a primeira a mensurar quanto esses fatores mudaram de fato dentro das famílias antes e depois do isolamento social.
De acordo com os pesquisadores, artigos anteriores mostraram que períodos de estresse financeiro, como a “Grande Depressão” e a crise econômica de 2008, levaram a níveis mais elevados de estresse parental, problemas de saúde mental e conflitos entre os pais. Tudo isso compõe o cenário perfeito para uma paternidade mais dura e, até mesmo, mais abusiva.
Ainda segundo os autores, a pandemia de Covid-19 não apenas causou um estresse financeiro nas famílias, mas também trouxe problemas relacionados ao isolamento social, como a necessidade de conciliar o trabalho e o cuidado com as crianças em período integral, além do medo referente a uma doença completamente desconhecida até então.
Para a pesquisa, os estudiosos entrevistaram 129 famílias, incluindo 122 mães e 84 pais, com uma média de 2,3 crianças por núcleo familiar. Os pais responderam um questionário online com perguntas relacionadas a sintomas depressivos, ansiedade, a qualidade da relação com seus parceiros, comportamentos “internalizantes” e “externalizantes” dos filhos, entre outras.
Como os participantes faziam parte de um estudo mais longo, que media esses fatores em relação aos anos anteriores, a equipe envolvida já tinha dados sobre esses pais e filhos antes da pandemia.
Os achados revelaram que os pais eram 2.4 vezes mais propensos a apresentar níveis “clinicamente significativos” de depressão depois da pandemia do que antes. Eles também tinham 2,5 e 4 vezes mais chances de reportar problemas “internalizantes” e “externalizantes”, respectivamente, dos seus filhos, em níveis que demandaram a ajuda de um profissional.
Para os pesquisadores, essas dificuldades eram esperadas, mas o que surpreendeu foi a magnitude do declínio do bem-estar dessas famílias, que foi muito significativa. O estudo revelou um número bem maior de pais e filhos que estavam na faixa clínica - ou seja, que se beneficiariam com um tratamento - para depressão e problemas de comportamento.
Segundo os autores, existem riscos de futuras pandemias e desastres naturais devido aos efeitos das mudanças climáticas e, portanto, muitas famílias podem sofrer condições estressantes novamente no futuro.
Preparar e ajudar os núcleos familiares para esses tipos de crise não inclui apenas estocar alimentos, mas também melhorar a resiliência (tolerância ao estresse) e os recursos psicológicos para enfrentar melhor a situação.
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