Novas evidências publicadas na Cochrane Library apontam benefícios positivos a curto prazo
Redação Publicado em 10/03/2021, às 15h25
Pessoas que param de fumar por pelo menos seis semanas apresentam uma melhora significativa em relação a depressão, ansiedade e estresse, quando comparados a outros fumantes. É o que mostra um estudo de especialistas da Cochrane, instituição independente dedicada à medicina baseada em evidências.
A notícia pode servir de incentivo para milhares de pessoas que resistem a abandonar o cigarro por achar que ele funciona como muleta para aliviar tensões e sentimentos negativos.
Participaram do estudo pesquisadores das universidades de Bath, Birmingham, Oxford e de Nova York. A equipe analisou resultados de 102 estudos observacionais, com quase 170 mil pessoas, para chegar às conclusões, publicadas na Cochrane Library.
O tabagismo é a principal causa mundial de doenças e mortes evitáveis. De acordo com a Organização Mundial da Sáude (OMS) morrem, aproximadamente, 8 milhões de pessoas todos os anos ao redor do mundo por doenças relacionadas ao fumo, sendo mais de 7 milhões pelo uso direto do cigarro e o restante, pelo fumo passivo. No Brasil, o tabagismo é responsável por cerca de 200 mil mortes por ano.
Uma em cada duas pessoas que fumam morrerá de uma doença relacionada ao tabaco, ao menos que pare. Mas muita gente acredita que interromper o uso pode agravar os problemas de saúde mental que, muitas vezes, serviram como gatilho inicial para o uso do tabaco. Além disso, muitos creem que abandonar o hábito de fumar é capaz de gerar um impacto negativo na vida social e nas amizades.
Os autores analisaram os resultados de 63 estudos que comparavam mudanças nos sintomas de saúde mental em pessoas que pararam de fumar com alterações observadas em indivíduos que continuavam fumando.
Eles também avaliaram outros 10 estudos com pessoas que desenvolveram algum tipo de transtorno mental durante a pesquisa. Todos os trabalhos envolviam um grupo variado de pessoas, incluindo fumantes com problemas de saúde mental prévios ou doenças crônicas. O tempo de acompanhamento variou de seis semanas a seis anos.
O estudo mostrou que ex-fumantes experimentaram sentimentos mais positivos, melhora do bem-estar psicológico. Além disso, o tabagismo não teve nenhum impacto nas relações sociais das pessoas. Entretanto, essas crenças ainda existem.
De acordo com os pesquisadores, geralmente os fumantes acreditam que o tabaco é o apoio necessário para momentos mais frágeis, de baixa emocional. Isso ocorre porque é um ciclo diário: a pessoa acorda com desejo de fumar, consome um cigarro e, em pouco tempo, deseja outro e começa tudo de novo.
Os resultados revelam que realmente existe uma ligação entre parar de fumar e melhora do humor. Para os autores, devido ao contexto difícil que o mundo inteiro enfrenta, talvez muitos fumantes sintam que esse não é o momento de parar. Porém, os benefícios da interrupção são perceptíveis e podem proporcionar um futuro melhor.
Segundo a Public Health England (PHE), a agência de saúde governamental do Reino Unido, fumantes têm um bem-estar mental mais frágil do que os não fumantes. De acordo com os dados, tabagistas tiveram uma pontuação pior que a da população geral em todos os indicadores de saúde mental, com níveis de ansiedade e infelicidade que aumentaram de 2019 para 2020.
Em 2019, 1,6 milhões de fumantes apresentaram altos índices de ansiedade. Com toda a população mais ansiosa devido à pandemia de Covid-19, esse número subiu para 2,4 milhões de fumantes reportando altos níveis de ansiedade, um aumento de 50% em 2020.
Os indicadores de infelicidade em pessoas que fumam também foram elevados. Em 2019 eram 900 mil fumantes relatando estar infelizes e, em 2020, foi registrado 1,3 milhões.
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