Em alguns homens, o tamanho do pênis é normal, mas há dificuldade em expor o órgão
Leo Fávaro* Publicado em 09/03/2022, às 13h00
A obesidade pode trazer diversas complicações à saúde e à autoestima. Para alguns homens, além de todas as suas consequências, a concentração de gordura no abdome e na região acima do púbis pode ser tão acentuada a ponto de “esconder” o pênis. Ou seja, a parte exposta do órgão fica menor por ser “envelopada” pela pele e pelo tecido adiposo da região – uma condição chamada de “pênis enterrado” (do inglês, burried penis) ou “pênis embutido”.
Descrito pela primeira vez em 1919 por E. L. Keyes, o pênis enterrado é mais frequentemente causado pelo excesso de gordura na região suprapúbica e, também, pelo enfraquecimento da ancoragem da pele e da fáscia (uma camada de tecido abaixo da pele) às camadas mais profundas que compõem a base do pênis.
Mas outras condições também podem causar esse sumiço aparente do pênis: hérnias e edema escrotal, hidrocele, excesso de prepúcio, cicatrizes, fraqueza do músculo dartos, dentre outros. Em crianças, a situação usualmente se resolve por si só com o passar do tempo, à medida que ela cresce; em adultos, há casos em que a cirurgia pode ser indicada, além do tratamento da condição de base.
É muito importante ter em mente que pênis enterrado não é sinônimo de micropênis. Enquanto no primeiro caso o tamanho do pênis é normal, estando apenas envolto por uma camada de pele e gordura que dificulta sua exposição, o micropênis é uma condição rara e definida por um pênis menor que 4 centímetros quando flácido ou de até 8 centímetros quando ereto em adultos. Em crianças, os valores são relativizados, conforme idade e estágio de desenvolvimento.
Confira:
Num estudo de três casos publicada no mês de fevereiro, pesquisadores na Austrália listaram o pênis enterrado como complicação da obesidade mórbida. As análises foram feitas em cadáveres de pessoas que tinham 62, 49 e 45 anos, com índice de massa corporal (IMC) de 46,3; 49,1 e 59,3 e que morreram em decorrência de complicações cardiovasculares. Nas três análises, os pênis apresentavam-se marcadamente reduzidos. Com base em estudos anteriores, os pesquisadores destacaram a associação do pênis embutido com complicações infecciosas, obstrutivas e malignas.
O pênis enterrado em adultos pode causar estresse, constragimento e desconforto durante as relações sexuais, com dificuldades de ereção ou mesmo ereções dolorosas. Em alguns casos, observa-se também ansiedade e depressão. Além disso, pode haver balanite (inflamação da glande ou do prepúcio), dificuldade para higiene pessoal, bem como pode causar problemas para urinar, tanto por estenose da uretra quanto pela dificuldade para direcionar o órgão durante a micção. Com isso, os pacientes podem reter a urina ou se constranger pelo jato urinário.
A pele da região também pode ser afetada. Uma vez coberta por uma camada cutânea mais extensa, a região passa a ficar mais úmida e mais predisposta a crescimento bacteriano, maceração da pele e infecções - se contínuo, esse quadro pode evoluir para mais inflamação e formação de cicatrizes. Infecções fúngicas também podem surgir.
Um estudo prévio, publicado em 2019, feito com 150 adultos com pênis enterrado adquirido (isto é, não decorrente de causas congênitas) evidenciou que 35% deles apresentavam lesões com características de pré-malignidade e 7% desenvolveram câncer de pênis. Assim, o pênis enterrado adquirido em adultos é uma condição que pode incorporar fatores de riscos para câncer, sendo também influenciado pela obesidade.
A avaliação médica é fundamental e o acompanhamento pode ser feito com um urologista.
*Leo Fávaro é acadêmico de Medicina da Universidade Federal do Espírito Santo
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