Pensa em ter uma arma? Leia isto aqui antes

Com o decreto recente que flexibiliza o porte de armas de fogo no Brasil, além do medo de que a violência aumente no país, é possível que muita gente

Jairo Bouer Publicado em 12/06/2020, às 11h14

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Com o decreto recente que flexibiliza o porte de armas de fogo no Brasil, além do medo de que a violência aumente no país, é possível que muita gente tenha decidido adquirir um revólver para se defender. Mas aqui vai um alerta: um grande estudo revela que quem compra uma arma, por qualquer que seja o motivo, corre um risco muito alto de usá-la para acabar com a própria vida.

Uma das descobertas que mais chama atenção é que, ao levar em conta apenas as mulheres, o risco detectado no estudo foi 35 vezes maior em comparação com mulheres não armadas. Para os homens, o risco foi oito vezes mais alto. Outro detalhe importante: a probabilidade de se suicidar foi bem mais alta no primeiro mês após a aquisição, mas não diminuiu muito ao longo dos anos. Ou seja: mesmo quem não compra um revólver com o objetivo de se matar tem um risco bem mais alto de acabar fazendo isso em algum momento.

O trabalho, que acaba de ser publicado pelo The New England Journal of Medicine, compilou dados de 26 milhões de norte-americanos ao longo de 12 anos, por isso é considerado um dos mais completos já feitos até agora. Os pesquisadores puderam investigar a trajetória de quase 700 mil pessoas, desse total, que tinham comprado uma arma pela primeira vez na vida.

Nos EUA e em vários outros países, as mulheres tendem a tentar suicídio com maior frequência que os homens. Mas eles costumam usar meios mais letais do que elas, o que faz com que as estatísticas ressaltem mais o risco masculino. Os autores do estudo, das universidades de Boston e de Stanford, acreditam que se as mulheres tiverem mais acesso às armas, as taxas gerais de suicídio vão ter um aumento dramático.

Vale lembrar que, no Brasil, a taxa média de suicídios subiu 7% de 2010 a 2016, segundo dados da Organização Mundial da Saúde. Nesse último ano computado, foram 6,1 suicídios a cada 100 mil habitantes. Nos EUA, a taxa foi de 14 em 100 mil em 2017, o maior patamar registrado desde a Segunda Guerra, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). Em certos estados norte-americanos, é possível comprar espingardas e revólveres pela internet ou em lojas de departamento.

Em um artigo publicado no The New York Times nesta sexta-feira, os pesquisadores comentam que alguns levantamentos recentes já indicam que o covid-19 causou um pico na compra de armas. Mas só no futuro será possível observar o impacto desse movimento nas taxas de suicídio. O suicídio quase sempre é um ato de desespero, que envolve impulso. Ter um meio letal por perto é uma facilidade perigosa.

 

Onde buscar ajuda para prevenir o suicídio:

CAPS, Unidades Básicas de Saúde, UPS 24H, SAMU 192, pronto-socorros e hospitais.

O CVV (Centro de Valorização à Vida) oferece apoio emocional e atende gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone, email, chat e voip 24 horas todos os dias. Ligue para 188 ou acesse o site www.cvv.org.br.

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