Especialista explica como o estrogênio e a progesterona agem no cérebro
Tatiana Pronin Publicado em 22/08/2024, às 09h00
Mais de 85% das mulheres usam contraceptivos hormonais por pelo menos cinco anos de suas vidas. Embora seu principal uso seja para evitar a gravidez, muitas pessoas também os adotam para gerenciar sintomas relacionados à menstruação, como cólicas, mudanças de humor e acne.
Segundo a neurocientista Natalie Tronson, professora associada na Universidade de Michigan, nos EUA, os contraceptivos hormonais podem aumentar o risco de depressão para até 10% das mulheres. Saber quem terá esse efeito colateral é algo difícil de prever, como explica a professora em um artigo no site The Conversation.
A forma mais comum de contraceptivo hormonal é "a pílula" – uma combinação de um estrogênio sintético e uma progesterona sintética, dois hormônios envolvidos na regulação do ciclo menstrual, ovulação e gravidez. O estrogênio coordena a liberação programada de outros hormônios, enquanto a progesterona mantém uma gravidez.
Isto pode parecer contraditório – os hormônios necessários para uma gravidez também podem evitá-la? Isso mesmo. Os ciclos hormonais são rigidamente controlados pelos próprios hormônios. Assim, quando os níveis de progesterona aumentam, eles ativam processos nas células que interrompem a produção de mais progesterona. Isso é chamado de feedback negativo.
O estrogênio e a progesterona da pílula diária, ou de outras formas comuns de contraceptivos, como implantes ou anéis vaginais, fazem o corpo diminuir a produção natural desses hormônios, reduzindo-os a níveis observados fora do período fértil do ciclo. Isso interrompe o ciclo hormonal necessário para a ovulação, menstruação e gravidez.
Os contraceptivos hormonais afetam mais do que apenas os ovários e o útero.
O cérebro, especificamente uma área chamada hipotálamo, controla a sincronização dos níveis hormonais ovarianos. Embora sejam chamados de "hormônios ovarianos", receptores de estrogênio e progesterona também estão presentes em todo o cérebro.
O estrogênio e a progesterona têm amplos efeitos sobre os neurônios e processos celulares que não têm nada a ver com a reprodução. Por exemplo, o estrogênio desempenha um papel em processos que controlam a formação de memória e protegem o cérebro contra danos. A progesterona ajuda a regular as emoções.
Ao alterar os níveis desses hormônios no cérebro e no corpo, os contraceptivos hormonais podem modular o humor – para melhor ou para pior.
O estrogênio e a progesterona também regulam a resposta ao estresse – a reação "luta ou fuga" do corpo a desafios físicos ou psicológicos.
O principal hormônio envolvido na resposta ao estresse, o cortisol, é principalmente um hormônio metabólico, o que significa que o aumento dos níveis sanguíneos desses hormônios em condições de estresse resulta em mais energia mobilizada a partir das reservas de gordura.
A interação entre os sistemas de estresse e os hormônios reprodutivos é um elo crucial entre o humor e os contraceptivos hormonais, já que a regulação de energia é extremamente importante durante a gravidez.
Então, o que acontece com a resposta ao estresse de uma pessoa quando ela usa contraceptivos hormonais?
A especialista explica que, quando expostas a um estressor leve – como colocar o braço em água fria, por exemplo, ou fazer um discurso em público – as mulheres que usam contraceptivos hormonais apresentam um aumento menor de corsitol do que pessoas que não usam contraceptivos hormonais. O mesmo já foi observado em roedores.
Os contraceptivos hormonais aumentam o risco de depressão? A resposta curta é que isso varia de pessoa para pessoa. Mas, para a maioria das pessoas, provavelmente não.
É importante notar que respostas ao estresse aumentadas ou diminuídas não estão diretamente relacionadas ao risco ou à resiliência contra a depressão. Mas o estresse está intimamente relacionado ao humor, e o estresse crônico aumenta substancialmente o risco de depressão.
Ao modificar as respostas ao estresse, os contraceptivos hormonais alteram o risco de depressão após o evento estressor, levando à "proteção" contra a depressão para muitas pessoas e ao "aumento do risco" para uma minoria.
Mais de 9 em cada 10 pessoas que usam contraceptivos hormonais não experimentarão diminuição do humor ou sintomas de depressão, e muitas experimentarão uma melhora do humor."
Mas os pesquisadores ainda não sabem quem experimentará aumento do risco. Fatores genéticos e exposições anteriores ao estresse aumentam o risco de depressão, e parece que fatores semelhantes contribuem para as mudanças de humor relacionadas aos contraceptivos hormonais.
Atualmente, os contraceptivos hormonais são geralmente prescritos por tentativa e erro – se um tipo causar efeitos colaterais em um paciente, outro, com uma dose, método de administração ou formulação diferentes, pode ser melhor. Mas o processo de "tentar e ver" pode ser frustrante, fazendo com que muitas pessoas desistam em vez de trocar para uma opção diferente.
Para a neurocientista, identificar os fatores específicos que aumentam o risco de depressão e comunicar melhor os benefícios dos contraceptivos hormonais além do controle de natalidade poderá ajudar pacientes a tomarem decisões mais informadas sobre sua saúde.
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