Agência recebeu relatos de efeitos adversos com uso da droga destinada a cavalos
Redação Publicado em 05/03/2021, às 16h03
A Food and Drug Administration (FDA), agência federal norte-americana que regula o uso de alimentos e medicamentos, divulgou, nesta sexta-feira (5), um alerta contra o uso da ivermectina (antiverme que, nos EUA, é muito utilizado no meio veterinário).
A agência enfatiza que seu uso para tratar casos de Covid-19 não foi aprovado ou autorizado e pode causar sérios danos à saúde, o que foi observado em múltiplos relatos recebidos recentemente.
"Com o crescente número de mortes pela doença, talvez não seja surpreendente que alguns consumidores estejam buscando tratamentos não convencionais, não aprovados ou autorizados pela FDA", afirma o texto.
"A ivermectina é usada com frequência nos EUA para tratar ou prevenir parasitas em animais. A FDA recebeu múltiplos relatos de pacientes que precisaram de suporte médico e que foram hospitalizados depois de se automedicar com ivermectina indicada para cavalos."
Os comprimidos de ivermectina também são aprovados pela FDA em humanos para tratar doenças causadas por vermes, e também em formulações aplicadas na pele para o tratamento de parasitas externos - como os piolhos, além de algumas condições de pele, como é o caso da rosácea.
Mas, apesar de o medicamento para uso humano e o veterinário terem o mesmo nome, a agência esclarece que os produtos são completamente diferentes, e, portanto, seguros apenas quando prescritos corretamente e em situações nas quais seu uso é comprovado e autorizado.
A agência ainda deixa claro, no documento, o que se sabe sobre a ivermectina:
A FDA diz que não revisou os dados para comprovar o uso da ivermectina como método de tratamento ou prevenção para pacientes com Covid-19. A agência relata que existem alguns "estudos iniciais" em andamento, mas que, mesmo assim, tomar a droga para indicação não aprovada pode ser extremamente perigoso.
"Há muita desinformação circulando por aí, e você pode ter ouvido que é OK consumir altas doses de ivermectina. Isso está errado", acrescenta. "Mesmo o uso de níveis de ivermectina aprovados pode causar interações com outros medicamentos, como anticoagulantes. Você também pode sofrer uma overdose de ivermectina, o que pode causar náuseas, vômitos, diarreia, queda de pressão, reações alérgicas, tontura, ataxia (problemas de equilíbrio), convulsões, coma e até morte."
Os animais que recebem a ivermectina podem, muitas vezes, receber doses altamente concentradas porque são de grande porte, como cavalos e vacas, que pesam muito mais do que o homem - uma tonelada ou mais. Com isso, esclarece a FDA, essas dosagens são altamente tóxicas para humanos.
A agência revisa os medicamentos não apenas para verificar a segurança e a eficácia, mas também para identificar os ingredientes inativos. Muitos desses itens encontrados no produto destinado aos animais não são avaliados para o uso humano, ou incluem uma quantidade muito maior do que a usada em humanos. Em alguns casos, não se sabe ao certo como esses ingredientes inativos podem afetar a forma como a ivermectina é absorvida pelo corpo das pessoas.
Enquanto o uso do medicamento não é autorizado e aprovado, ressalta a FDA, as maneiras mais eficazes de se evitar a propagação da Covid-19 continuam sendo o uso de máscaras, distanciamento social, lavar as mãos com frequência e evitar aglomerações.
Vale mencionar que, nesta quinta-feira (4), o Journal of the American Medical Association (JAMA), períodico da Associação Médica Americana, também publicou um estudo colombiano cujos resultados também não apoiam o uso da droga em casos leves de Covid-19.
O trabalho foi realizado com 476 adultos com sintomas leves da doença e que permaneceram em casa ou foram hospitalizados entre julho e novembro do ano passado. Todos foram examinados mais uma vez em dezembro. Parte dos participantes tomou 300 μg/kg de ivermectina por cinco dias e a outra parte recebeu placebo, sendo que os médicos também não sabiam quem havia tomado o quê.
Os autores do estudo, da Universidade Dell Valle, na Colômbia, e de diversas instituições de saúde daquele país, concluem que os resultados não apontam benefícios no uso, mas que são necessários estudos com maior número de pacientes para se confirmar os dados.
O movimento de se adotar a ivermectina como opção de tratamento e prevenção da Covid-19 surgiu com a publicação de um estudo, em 2020, que sugeriu que o medicamento é eficaz para impedir a infecção do vírus em ensaios in vitro, ou seja, em estudos realizados com células cultivadas em laboratório.
Entretanto, isso não significa que o método funciona em humanos também, conforme cientistas brasileiros têm alertado. No experimento citado acima, a quantidade de droga usada tinha a concentração 50 vezes maior que a maior dose já utilizada em seres humanos e 17 vezes maior do que a dose permitida para pessoas.
Um vídeo divulgado recentemente por cientistas da União Pró-Vacina afirma que se a mesma dosagem aplicada em laboratório, por exemplo, fosse dada a um adulto de 70 kg, ele precisaria ingerir 44 comprimidos de uma só vez para receber a mesma concentração de medicamento vista no experimento, o que não é permitido e pode causar graves efeitos tóxicos. Em geral, a quantidade prescrita pelos médicos é de dois a três comprimidos de uma única vez, o que não afeta em nada o vírus e ainda causa efeitos colaterais como diarreia e efeitos neurológicos.
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