Ainda faltam evidências sólidas sobre os aspectos positivos e negativos desse tipo de conteúdo
Redação Publicado em 27/11/2021, às 12h00
A pornografia não endossa uma única ética ou abordagem do sexo e, como tal, não pode ser boa nem má. Ela inclui uma vasta gama de produtos - desde fotos caseiras de casais apaixonados até filmes eróticos produzidos em massa para gerar grandes lucros. Uma pessoa deve julgar se a pornografia é boa ou ruim com base em seus valores, na pesquisa científica sobre questões relacionadas à pornografia que mais importam para ela e no efeito que ela tem em sua vida. Continue lendo para aprender mais sobre as implicações psicológicas e sociais da pornografia e como ela pode afetar os relacionamentos.
Uma análise de 2019 feita por um painel internacional concluiu que definir a relação entre a pornografia e seu público é complexo. Até mesmo a Suprema Corte dos Estados Unidos lutou com essa questão por décadas. As pessoas geralmente definem algo como pornográfico quando envolve vídeos ou imagens que são 'sexualmente explícitos'. Um exame médico detalhado não seria pornográfico sob esta definição, mas uma cena médica sexualizada comercializada para uma comunidade fetichista seria.
A pornografia na internet tornou o gênero bem mais acessível, especialmente para os mais jovens. Por esse motivo, a maioria dos especialistas acredita que o consumo de pornografia aumentou nas últimas décadas. No entanto, pesquisadores acham difícil acessar dados confiáveis sobre o tema por muitos motivos – as pessoas podem mentir sobre o consumo de pornografia por causa de seu desejo de se conformar às normas de gênero, sexuais e morais.
Um estudo de 2018 sugere que cerca de 85% de 1.036 participantes relataram ter usado pornografia na internet durante os seis meses anteriores. Mais homens (80%) do que mulheres (26%) relataram consumir pornografia online pelo menos uma vez por semana. Pesquisadores, defensores, líderes políticos e morais e especialistas da mídia vêm debatendo a pornografia há décadas. Consequentemente, a ideologia política e religiosa influencia muitas das pesquisas sobre o assunto.
Os especialistas em saúde mental não conseguem concordar sobre se o "vício" em pornografia é real ou se pode ser comum. Para cada estudo que pretende mostrar um benefício da pornografia, há outro estudo contestando esse benefício. Muitos estudos baseiam-se em autorrelatos ou suposições não testadas. Outros têm sérias falhas metodológicas. Por esse motivo, é difícil confiar em um único estudo, e as pessoas devem olhar as evidências e afirmações com ceticismo.
Muitos usuários de pornografia afirmam que seu uso melhora seus relacionamentos e, em alguns casos, seu bem-estar. Algumas pesquisas mais antigas apoiam essa afirmação. Alguns benefícios psicológicos potenciais incluem:
Maior acesso a material sexual diverso: pessoas que consomem pornografia podem aprender sobre novas posições sexuais, ver material desestigmatizante sobre seus desejos e aprender mais sobre o corpo humano. A mídia tende a retratar o sexo e a sexualidade como heterossexuais e apresenta uma gama restrita de opções, enquanto a pornografia oferece à pessoa a oportunidade de buscar opções mais inclusivas.
Menos estigma: assistir a pornografia pode tornar o sexo menos intimidante, especialmente para pessoas que têm pouca exposição a sexo e material sexual.
Empoderamento sexual: algumas pessoas acham a pornografia sexualmente poderosa. Por exemplo, as mulheres podem descobrir que certos gêneros de pornografia validam uma ampla gama de expressões sexuais. Um artigo de 2012 argumenta, por exemplo, que a pornografia desmedicaliza a sexualidade feminina.
Alívio do estresse e lazer: estudo de 2017 identificou que muitas pessoas usam pornografia como atividade de lazer para aliviar o estresse e distraí-los de emoções adversas.
Alguns efeitos psicológicos potenciais da pornografia incluem:
Imagem corporal e o mito da beleza: muitos filmes pornográficos promovem uma imagem irreal de “beleza” ao retratar pessoas muito 'magras' e muito 'jovens'. Alguns defensores temem que isso possa contribuir para a baixa autoestima, especialmente entre as mulheres, ou fazer com que as pessoas tenham expectativas irrealistas em relação a seus parceiros sexuais.
Vício: um risco potencial, que muitos contestam, é o de dependência em pornografia. Um estudo observando o uso problemático de pornografia (PPU) descobriu que a ativação do cérebro nessas pessoas foi acompanhada por maior motivação comportamental para ver imagens eróticas. Em outras palavras, pessoas com PPU tiveram um maior 'desejo' de ver dicas relacionadas a imagens eróticas. Isso aumentava com base na quantidade de pornografia que uma pessoa usava por semana e na frequência de masturbação. Por outro lado, vários estudos sugerem que as evidências existentes sobre o vício em pornografia até agora são falhas.
Alguns efeitos físicos da pornografia podem incluir:
Excitação: pornografia pode ajudar uma pessoa a ficar fisicamente excitada. Isso pode tornar mais fácil fazer sexo com um parceiro ou desfrutar do sexo sozinho.
Saúde: de um modo geral, pesquisas sobre pornografia e resultados de saúde são mal elaborados ou produzem resultados inconclusivos. No entanto, pesquisas mostram que a sexualidade positiva pode melhorar a saúde de várias maneiras, incluindo redução da pressão arterial e melhoria do sistema imunológico. De acordo com o Centro da Saúde da Mulher, dos Estados Unidos, a pornografia pode fazer parte de uma vida sexual saudável.
Expectativas irreais: a pornografia pode ajudar a alimentar expectativas sobre os aspectos físicos do sexo que não condizem com a realidade. Uma pessoa pode acreditar que apenas a penetração vaginal e nenhuma outra estimulação vaginal leva a um orgasmo rápido na mulher, e que a disfunção erétil ou o uso de lubrificantes são raros.
Riscos sexuais: um artigo de pesquisa original na Sexuality & Culture sugere que a pornografia pode aumentar o risco sexual, como não usar preservativo ou outro método contraceptivo de barreira.
Interesse em sexo não normativo: de acordo com um relatório de 2015, consumir pornografia pode aumentar o interesse em relações sexuais com “amizades coloridas”. Se uma pessoa tem vários amigos desse tipo, isso pode aumentar sua exposição a infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), se não houver cuidados como o uso correto de preservativos.
A pornografia pode beneficiar e prejudicar um relacionamento; entenda como:
Qualidade de vida sexual: em um antigo estudo, 58,8% das pessoas que usaram pornografia disseram que isso afetava positivamente suas vidas sexuais. O estudo baseou-se em autorrelatos, não em medidas objetivas, portanto os resultados são inconclusivos.
Dessensibilização sexual: alguns especialistas argumentam que o uso crônico ou intenso da pornografia pode tornar a pessoa menos responsiva a um parceiro sexual. Uma revisão de 2016 destaca dados sobre disfunção sexual relacionada à pornografia. No entanto, alguns especialistas criticaram essas descobertas.
Mudanças nos relacionamentos: um estudo com 430 pessoas em relacionamentos heterossexuais descobriu que a pornografia melhorou a comunicação, aumentou o conforto com o sexo e apoiou a experimentação. No entanto, alguns problemas incluíram aumento da insegurança, diminuição do interesse pelo parceiro e expectativas sexuais irrealistas.
Muitos defensores argumentam que os efeitos individuais da pornografia podem se estender à sociedade. Algumas desvantagens incluem: aumento da misoginia, expectativas sexuais irreais e irracionais, que podem mudar o que as pessoas esperam do sexo "típico". Também haveria alguns benefícios, incluindo: menos estigma associado ao sexo, maior aceitação de práticas sexuais não tradicionais e comunicação sexual melhorada.
Existem, também, algumas preocupações com a produção de pornografia e como isso afeta as pessoas envolvidas na indústria. Alguns defensores argumentam que as pessoas são mais propensas a entrar na pornografia quando têm um histórico de abuso, mas um estudo de 2012 contesta essa noção. Alguns outros problemas potenciais incluem: exploração e abuso de atores pornôs; ISTs entre atores pornôs e trabalho de atores menores de idade.
Uma pessoa não precisa usar apenas a pornografia para se sentir excitada.
Algumas alternativas incluem:
-ler histórias eróticas, que incorporam muitas das mesmas fantasias, mas carecem de pessoas reais e imagens visuais, potencialmente aliviando as preocupações de algumas pessoas sobre pornografia;
-trocar textos explícitos ou e-mails com um parceiro para compartilhar fantasias e despertar o interesse;
-planejar sessões de sexo para incorporar mais elementos das fantasias de cada parceiro;
elaborando preliminares mais extensas, de modo que cada parceiro tenha tempo para ficar excitado.
A pornografia pode ser boa, ruim ou neutra. Depende de como a pessoa a usa, do tipo que consome e do efeito que o uso tem nos relacionamentos e na vida. As evidências atuais sobre os aspectos positivos e negativos do uso da pornografia não são definitivas. Muitos estudos utilizam métodos como autorrelatos, que trazem à tona a questão da confiabilidade. Mais pesquisas devem continuar a ser feitas sobre as implicações psicológicas e físicas mais profundas da pornografia.
A pornografia pode fazer parte de relacionamentos saudáveis e ter vários benefícios, embora as pessoas devam estar cientes de alguns riscos potenciais. Os casais devem discutir o assunto, e as pessoas que se preocupam com seus padrões de uso ou percebem algum prejuízo decorrente disso podem se beneficiar de uma conversa com um terapeuta.
Fonte: Medical News Today
Veja também
A pornografia tem o mesmo efeito da cocaína e pode causar dependência?
Homens: 19 segredos que as mulheres gostariam que vocês soubessem
Cuckold: três praticantes falam de suas experiências com o fetiche
Confira os hábitos dos casais que têm uma ótima vida sexual