Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h27 - Atualizado às 23h56
A diferença entre a vida e a morte na sala de cirurgia, no campo de batalha ou durante um tiroteio muitas vezes se deve à capacidade de um profissional de se adaptar ao inesperado. E essa qualidade é ameaçada pela falta de sono, conforme um estudo feito pela Universidade do Estado de Washington, nos Estados Unidos.
Pesquisadores fizeram um experimento para simular a privação de sono e seu impacto na tomada de decisões. E os resultados, publicados na revista Sleep, indicam que dormir mal por longos períodos leva médicos, socorristas, militares e outros profissionais a tomar decisões catastróficas em situações de crise.
Os autores do trabalho dão alguns exemplos de como a falta de sono teve papel relevante em alguns acidentes históricos, como o da usina nuclear de Chernobyl e a explosão do ônibus espacial Challener.
Eles recrutaram 26 adultos saudáveis e 13 deles foram selecionados aleatoriamente para ficar 62 horas sem dormir direito, enquanto a outra parte descansou normalmente. Durante seis dias e noites, os participantes viveram em uma espécie de hotel-laboratório onde realizavam uma tarefa com o objetivo de testar sua capacidade de usar o feedback para orientar decisões futuras. Eles tinham que identificar corretamente certos números e, sempre que acertavam, recebiam uma recompensa em dinheiro fictício.
Depois de um tempo, tanto os voluntários que descansavam quanto os que dormiam mal aprenderam a escolher os números certos. Foi então que o teste ficou mais complicado: os pesquisadores trocaram os valores corretos pelos errados, obrigando os participantes a pensar rápido e se adaptar à mudança de padrão.
Depois de 40 tentativas, quem havia descansado acertou de 8 a 16 vezes. Já quem não tinha dormido direito errou praticamente todas. O resultado mostra que, mesmo sabendo qual a escolha certa, a privação de sono faz com que as pessoas não consigam usar o recurso do feedback para agir corretamente.
Os pesquisadores ressaltam que colocar pessoas que dormem pouco em situações críticas é algo extremamente arriscado. E o conselho vale para qualquer pessoa: se você precisa tomar uma decisão importante, é melhor descansar primeiro.