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Marketing de fórmulas infantis pode prejudicar a amamentação, diz Unicef

A recomendação é que os bebês sejam amamentados de forma exclusiva por, pelo menos, seis meses - iStock
A recomendação é que os bebês sejam amamentados de forma exclusiva por, pelo menos, seis meses - iStock

Redação Publicado em 24/02/2022, às 16h00

Um novo relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) mostrou que 51% das mães, pais e mulheres grávidas da análise já foram alvo do marketing agressivo de empresas produtoras de fórmulas infantis, que substituem o leite materno. A prática infringe as normas internacionais sobre hábitos da alimentação infantil.

Intitulado “How marketing of formula milk influences our decisions on infant feeding” – “Como o marketing das fórmulas infantis influencia nossas decisões sobre a alimentação infantil", na tradução para o português - o documento é baseado em uma série de entrevistas com mulheres grávidas, mães, pais e profissionais de saúde de oito países do mundo. 

O objetivo do relatório é expor as estratégias de marketing utilizadas pela indústria de fórmulas infantis e realizadas de maneira antiética para influenciar as decisões das famílias em relação à alimentação das crianças.  

Quais são os perigos?

De acordo com o levantamento, as técnicas de marketing usadas por esse tipo de indústria incluem redes de aconselhamento e linhas de ajuda patrocinadas, práticas para influenciar o treinamento e recomendações entre profissionais de saúde, promoções e brindes, além de um direcionamento on-line não regulamentado e invasivo.   

Em situações como essa, famílias e profissionais da saúde recebem mensagens enganosas e sem fundamentos científicos que violam o Código Internacional de Comercialização de Substitutos do Leite Materno (o Código), um acordo criado em 1981 para proteger mães das práticas de marketing agressivas de indústrias de alimentos para bebês.

Segundo um dos porta-vozes da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, o relatório deixa claro uma comercialização enganosa e agressiva das fórmulas infantis, sendo urgentemente necessário adotar medidas com o objetivo de proteger a saúde dos pequenos.  

Falta de informação impacta na amamentação

O documento entrevistou 8.500 pessoas, entre elas pais, mães e mulheres grávidas, além de mais 300 profissionais de saúde situados em cidades como Bangladesh, China, Marrocos, Reino Unido, Nigéria, Vietnã e África do Sul. 

Segundo os dados coletados, o marketing das fórmulas infantis alcança 84% das mulheres inglesas entrevistadas, 92% das vietnamitas e 97% das chinesas, aumentando a probabilidade delas optarem pelo produto para alimentar seus bebês. 

Para a UNICEF, esse tipo de propaganda com informações enganosas sobre a alimentação por fórmula é uma barreira ao aleitamento materno, que muitos estudos já comprovaram ser a melhor opção tanto para os bebês como para as mães. 

Em todos os países pesquisados, as mulheres disseram ter um forte desejo de amamentar de forma exclusiva, variando de 49% no Marrocos a 98% em Bangladesh. No entanto, o relatório ressalta como o marketing das indústrias de fórmula está reforçando mitos sobre a amamentação e os benefícios do leite materno, afetando a confiança dessas mulheres em amamentar seus filhos.

Entre os mitos estão: os ingredientes da fórmula são comprovadamente capazes de melhorar o desenvolvimento e a imunidade do bebê; é necessário dar o produto nos primeiros dias após o nascimento; a fórmula mantém os bebês satisfeitos por mais tempo; o leite materno não é adequado ou tem sua qualidade diminuída com o tempo.  

Confira:

Por que o aleitamento materno é tão importante?

Fornecer o leite materno para o bebê em sua primeira hora de vida e de forma exclusiva por pelo menos seis meses promove uma poderosa linha de defesa contra todas as maneiras de má nutrição infantil, incluindo a obesidade e a desnutrição. 

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Conheça, aqui, oito mitos sobre a amamentação

Além disso, o aleitamento materno também funciona como a primeira vacina para os bebês, pois os protege de diversas doenças frequentes na infância. Os benefícios também são estendidos às mães que, ao amamentarem, têm o risco futuro de desenvolverem condições como diabetes, obesidade e algumas formas de câncer reduzido. 

Porém, de acordo com dados globais, apenas 44% dos bebês com menos de seis meses de idade recebem o leite materno de forma exclusiva. As taxas relacionadas ao aleitamento aumentaram muito pouco nas últimas duas décadas, enquanto as vendas de fórmulas infantis mais do que dobraram no mesmo período.

Influência dos profissionais de saúde 

Um outro dado que chama a atenção no relatório é o grande número de profissionais de saúde em todos os países que foram procurados pela indústria de fórmula e alimentação infantilpara influenciarem suas recomendações às mães – especialmente aquelas de primeira viagem – através de brindes, amostras grátis, eventos, financiamento para pesquisas e, até mesmo, comissões de venda.

Essa prática afeta diretamente as escolhas de pais e mães sobre a alimentação das suas crianças. Inclusive, no documento, mais de um terço das mulheres entrevistadas afirmou que um profissional de saúde já recomendou uma marca específica de fórmula. 

Por esses e outros motivos, a OMS e a UNICEF pedem aos governos, profissionais de saúde e à indústria de alimentos infantis que acabem com o marketing abusivo das fórmulas através de políticas públicas e programas de apoio ao aleitamento materno, além de seguirem à risca os requisitos previstos no Código que diz:

Aprovar, monitorar e aplicar leis para impedir a promoção de substitutos do leite materno, em conformidade com o Código Internacional, incluindo a proibição de alegações nutricionais e de saúde feitas pela indústria de fórmula infantil”. 

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