Redação Publicado em 08/06/2021, às 18h00
Quando vem o desejo de engravidar, a maioria das mulheres sempre pensa em como melhorar as chances de isso virar realidade. Especialmente as que estão tentando há mais tempo. Entre as perguntas mais comuns que elas se fazem é como ter óvulos com mais qualidade. Isso porque esses óvulos precisarão ser nutridos para amadurecer, ovular, fertilizar, implantar e, finalmente, conceber um bebê.
Porém, mais importante ainda, é preciso que as mulheres se lembrem que a principal causa de infertilidade feminina é a própria idade: “A taxa de gravidez vai caindo consideravelmente após os 35, 36 anos. E de forma extremamente abrupta a partir dos 38”, afirma o ginecologista e especialista em reprodução humana Rodrigo Rosa, membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA).
Ele explica: “A queda da fertilidade feminina é decorrente do fato da mulher já nascer com o estoque de óvulos que será utilizado durante toda a vida reprodutiva dela e, ao longo do tempo, há queda da quantidade e da qualidade dos óvulos, com mais erros genéticos, dificultando a gestação e aumentando o risco de abortos espontâneos”.
Levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que o adiamento da gestação é uma realidade. Entre 2009 e 2019, houve um crescimento de 63,6% entre o número de mães na faixa etária de 35 a 39 anos; entre aquelas com idade entre 40 e 44 anos, a alta foi de 57% no mesmo período; e aumento em 27,2% até mesmo o número de mães de 45 a 49 anos. Para aquelas que querem dedicar mais tempo à vida profissional ou que ainda não se sentem prontas para ter um filho, Rosa afirma que a solução é o congelamento de óvulos.
Alimentação ajuda, e muito
Os hormônios certos são necessários na quantidade certa no momento certo durante o ciclo menstrual para fazer um óvulo crescer e amadurecer. Porém, o equilíbrio hormonal é afetado pelo excesso de açúcar, então fique de olho na sua dieta.
A célula-ovo, segundo Rosa, requer diferentes nutrientes para diferentes partes. A camada externa (a membrana celular) precisa de ácidos graxos essenciais, ômega 3 do tipo DHA, presentes na sardinha, no atum, no salmão e nas sementes (de chia e linhaça) e oleaginosas (nozes). A mitocôndria precisa de energia para quando o ovo se divide após a fertilização; a coenzima Q10 ajuda a causar mudanças químicas no corpo, particularmente a produção de energia, e é necessária para o sistema reprodutivo. Vitaminas B e zinco também são necessários para a divisão celular após a fertilização.
Já as proteínas fornecem os blocos de construção para óvulos e hormônios saudáveis. Alimentos, como peixe, frango, carnes, ovos, laticínios, bem como fontes vegetais, como as leguminosas, são cruciais para a saúde do óvulo. Estudos recentes sugerem que alimentação muito rica em proteínas pode afetar negativamente a fertilidade, mas que mudanças na dieta podem melhorar ou manter o funcionamento adequado dos ovários e, portanto, aumentar as chances de engravidar. Leite integral e proteína vegetal são bons, mas a gordura trans precisa ser eliminada, pois pode afetar a ovulação.
Medida certa
Mas quanto é necessário consumir por dia? A médica nutróloga Marcella Garcez, professora e diretora da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia) explica: “A recomendação diária de proteínas vai de 06,g a 2g/kg. A maioria das pessoas adultas têm recomendação de 0,8g a 1,8g/kg por dia. Apenas situações muito especiais e patologias indicam um consumo menor ou maior que esses”.
Ela acrescenta que, além das condições de saúde, critérios como peso, altura, composição corporal, idade, sexo e nível de atividades físicas, são condicionais para determinar as necessidades proteicas individuais: “Por exemplo, a recomendação da RDA é de 0,8g/Kg/dia de proteínas para adultos sedentários, ou seja, 12% a 15% das necessidades calóricas diárias. Um indivíduo que necessita de 2.000 Kcal por dia precisaria de uma média de 240-300 Kcal advindas das proteínas, correspondendo a algo em torno de 60-75g por dia”.
Marcela lembra que toda quantidade inferior às mínimas recomendadas vai causar deficiências e desnutrição, enquanto que quantidades maiores, além de sobrecarregarem o sistema excretor renal, serão armazenadas sob a forma de gorduras, que é o destino das calorias ingeridas além do gasto energético total.
De olho nas vitaminas e minerais
Todos os micronutrientes ajudam no desenvolvimento dos óvulos, particularmente o ácido fólico, presente nas folhas verdes, com destaque para espinafre, brócolis, couve, alface e salsa, nos cereais, feijões, cogumelos, carnes e ovos, e a vitamina B12, encontrada nos alimentos de origem animal e algas. A vitamina D parece ser uma das chaves no processo.
Os médicos citam estudos que mostraram que pessoas com níveis mais altos de vitamina D tiveram um melhor resultado no processo de fertilização in vitro. Os ácidos graxos do tipo ômega 3 podem influenciar a maturação do óvulo, portanto, é bom certificar-se de ter o suficiente na dieta. O zinco também é fundamental para o bom funcionamento do sistema endócrino. Alimentos como carnes, frutos do mar e leguminosas, não podem faltar no prato das mulheres que querem engravidar.
Estilo de vida pode pesar contra
Está bem documentado que álcool, cigarros e drogas recreativas afetam a saúde do óvulo e aumentam os danos dos radicais livres. Estar acima ou muito abaixo do peso ideal também pode afetar a fertilidade. Porém, a obesidade é mais comum entre mulheres em idade reprodutiva e está associada à função reprodutiva prejudicada. A maioria dos casos é resultado do consumo de uma dieta desequilibrada.
Portanto, excesso de peso não é sinônimo de bom estado nutrológico, muito pelo contrário. Geralmente, a mulher está desnutrida, com prejuízos na funcionalidade e na fertilidade do eixo hipotalâmico-hipofisário-ovariano. Assim, hábitos e estilo de vida, como consumo de álcool, uso de drogas, cigarros e infecções aumentam o estresse oxidativo, que, por sua vez, afeta a saúde dos folículos.
Presente no abacate e em vegetais verde-escuros, o inositol, também conhecido como vitamina B8, e seus derivados têm um papel importante na fertilidade, pois servem como mensageiros nas vias de sinalização de insulina e estão envolvidos nas vias metabólicas que regulam a ovulação. Também estão ligados ao desenvolvimento dos folículos e ao equilíbrio do açúcar no sangue. Ele pode ser suplementado e é encontrado no fluido folicular de óvulos de alta qualidade.
Marcella recomenda que as mulheres melhorem a ingestão dessa substância três meses antes de tentar engravidar, enquanto os óvulos estão se desenvolvendo: “O inositol está presente em frutas como banana e abacate, vegetais verde-escuros, ovos, nozes e sementes. Lembrando que além de aumentar o aporte dessa substãncia, o ideal é reduzir o consumo de açúcares, que pioram o perfil inflamatório e prejudicam os folículos”.
Outro vilão da fertilidade é o estresse, e a liberação de um óvulo a cada mês pode ser afetada por ele. Rosa explica que, para algumas mulheres, o estresse crônico é maléfico para a ovulação, alterando sinais para a parte do cérebro que regula os hormônios acionadores dos ovários a fim de liberar óvulos a cada mês. Mesmo nos casos em que ela ovula, apesar do estresse, pode haver problemas com a fertilização e implantação no útero.
Sim, é praticamente impossível eliminar o estresse, mas é possível administrá-lo. “Muitas mulheres desestressam com exercícios, o que é sempre bom, mas os verdadeiros benefícios vêm de parar e praticar técnicas que envolvem desacelerar e descansar. Técnicas de respiração, meditação e ioga ajudam, e 20 minutos por dia ou mais é perfeito”, sinaliza o médico.
Porém, se mesmo com todas essas mudanças a tão sonhada gravidez não vier, o ideal é procurar a ajuda de um médico especialista.
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