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Reserva cognitiva: entenda por que você deve exercitar sua mente

Habilidades como atenção, raciocínio, aprendizado e memória devem ser alimentadas sempre - iStock
Habilidades como atenção, raciocínio, aprendizado e memória devem ser alimentadas sempre - iStock

Redação Publicado em 22/05/2022, às 12h00

Você já ouviu falar em reserva cognitiva? Pois se você deseja envelhecer bem, é hora de começar a pensar nesse assunto. Assim como é preciso guardar algum dinheiro todo mês para garantir o sustento durante a aposentadoria, planejar o futuro envolve não apenas manter ossos e músculos fortes, fazer as consultas e exames médicos de rotina e se alimentar bem. É preciso, também, exercitar o cérebro.

Cada vez mais estudos têm mostrado que nossas funções cognitivas (de atenção, raciocínio, aprendizado e memória) devem ser estimuladas a vida inteira. Ainda que as pessoas não ganhem novos neurônios com o passar da idade, essas células mantêm sua capacidade fazer novas conexões, o que os especialistas chamam de “neuroplasticidade”.

Ginástica para o cérebro

A chamada “estimulação cognitiva” não apenas ajuda as pessoas a manterem a mente afiada por mais tempo, como também funciona como fator de proteção para os diferentes tipos de demência que podem surgir a partir dos 50 anos, como o Alzheimer (que é o tipo mais comum, mas não o único).

Oferecer esse tipo de ginástica para os neurônios em um espaço de convivência prazeroso foi a proposta da empresária Cristina Carvalho, ao fundar, em 2019, o projeto Chronos, no Rio de Janeiro. Com uma vasta experiência em programas educacionais em emissoras públicas e privadas, ela decidiu aprofundar seus estudos sobre saúde e envelhecimento, e, com ajuda de especialistas, desenvolveu um programa específico para a maturidade.

Dicas para a vida e convívio social

Sua ideia inicial era focar nas mudanças tecnológicas, que trouxeram desafios para quem é mais maduro. “Mas me deparei com o resultado de diversas pesquisas que apontavam quais eram as maiores preocupações desse público: questões financeiras, trabalho, saúde física e mental, seu lugar dentro da sociedade, preconceitos com os mais velhos (idadismo) e desrespeito com os idosos (invisibilidade)”, explica.  

Assim, além de estimulação cognitiva, as oficinas e cursos promovem integração social e orientações sobre planejamento financeiro, uso da tecnologia, comunicação através da escrita criativa e autobiografia e mindfulness (meditação de atenção plena), entre outros temas.

Confira:

"As palavras fogem"

Uma das alunas conta que foi orientada pela médica a procurar cursos, além de fazer exercícios, porque sentiu que estava com mais dificuldades para se expressar. “Achei que o foco da minha atenção melhorou bastante, tenho encontrado melhor as palavras, as atividade têm sido muito gratificantes”, conta Rosa Maria. Essa também era a queixa de Marlene ao buscar o Chronos: “As palavras fogem; às vezes a palavra principal não vem e não consigo terminar a frase”, relata. Mas as amigas já comentaram que ela melhorou bastante desde que começou a participar do programa. Todas elogiam, também, o aspecto social. 

Muito além das palavras cruzadas

Conversamos com as psicólogas Denise Brasil e Aline de Lucena, especialistas em psicogeriatria, bem como a psicóloga Marcela Nogueira, especialista em psicologia analítica, que fazem parte do Chronos. A seguir, elas explicam como esse trabalho é capaz de trazer benefícios não apenas para o funcionamento mental, mas para a saúde e bem-estar como um todo.

Qual a importância da estimulação cognitiva para o cérebro e a saúde?

Nosso cérebro, assim como o nosso corpo, precisa de estímulo e exercícios para se manter saudável. De maneira geral, quando somos jovens e ativos nosso cérebro tende a receber e processar mais informações, porém, com o avanço da idade e com a diminuição de atividades diárias e perda de uma rotina é comum que esses estímulos diminuam. Com a redução desses estímulos, a vida entra em um tipo de piloto automático, e o nosso cérebro entra em uma “zona de conforto”, retraindo, de forma considerável, a sua função.

Os chamados “exercícios da memória” com atividades de estimulação cognitiva chegam, nesse momento, para somar saúde na vida do idoso. A estimulação cognitiva é capaz de provocar mudanças no funcionamento e na estrutura cerebral, o que pode nos proporcionar um cérebro mais ativo. As aulas do Chronos, com seus exercícios, lúdicos e criativos, atuam de forma preventiva e regenerativa no desenvolvimento das áreas da memória, percepção, atenção, linguagem e raciocínio, além de ser um excelente espaço de convívio social.

Sendo assim, com um cérebro mais ativo o idoso passa a ter mais agilidade de raciocínio, memória de trabalho e habilidades visuoespaciais, o que acaba influenciando na sua saúde como um todo.

O velho conselho de fazer palavras cruzadas continua válido? Ou existe uma metodologia que deve ser seguida?

Sim. As palavras cruzadas não deixam de ser bons exercícios para estimular o nosso cérebro. No entanto, não é indicado o uso de apenas um tipo de exercício, pois isso acaba limitando o cérebro a um único estímulo, ao invés de estar trabalhando ele como um todo.

Nós, do Chronos, buscamos montar uma aula completa, com atividades que buscam estimular diferentes áreas do cérebro. Em duas horas de aula a gente faz um passeio entre exercícios de linguagem, atenção, visuoespacial, memória de curto prazo, raciocínio e lógica. Buscamos colocar atividades de alta complexidade, para desenvolver ainda mais a cognição, mas intercalamos com atividades de menor complexidade e lúdicas para que seja prazeroso e divertido. Assim, o idoso mantém sua motivação na realização dos exercícios e desenvolve sua autonomia, o que estimula a continuar exercitando o seu cérebro.

Cada vez mais se fala sobre a importância das conexões sociais para envelhecer bem. Poderiam explicar sua importância?

As conexões sociais são importantes em qualquer faixa etária da vida. Somos seres sociáveis e nascemos para viver em grupo. É no grupo onde buscamos o nosso equilíbrio emocional, e são possíveis momentos de trocas, de conforto e de alegria. Um exemplo claro foi a pandemia pela qual passamos, e o isolamento social trouxe uma grande carga de sintomas emocionais para uma grande parte da sociedade.

Mas, trazendo o nosso olhar para o idoso, há uma tendência de isolamento “natural” nessa fase da vida, que acaba surgindo por diversos motivos, como a aposentadoria, uma maior dificuldade de locomoção, a viuvez, e até mesmo a falta de estímulo para buscar novas atividades. Além disso, sabemos que o idoso isolado tem uma maior tendência a desenvolver depressão e ansiedade, pois ficando muito ocioso, passa a perceber a sua vida muito desinteressante.

Nos grupos de estimulação cognitiva do Chronos, nós não damos importância apenas à prática dos exercícios cognitivos – apesar de buscarmos uma grande variedade de atividades - mas também valorizamos as conexões sociais. Assim, abrimos espaço para pequenas trocas, recordações, gargalhadas e um cafezinho gostoso, pois acreditamos que esse momento descontraído permite que nossos alunos vivenciem momentos de lazer e encontre no grupo novas amizades para compartilhar questões do seu dia-a-dia, além de situações complexas e estimulantes advindas das mais variadas experiências.