Saiba a diferença entre burnout e burnon

Enquanto os pacientes com burnout desabam e tiram licença médica do trabalho, aqueles com burnon continuam trabalhando

Redação Publicado em 08/07/2024, às 18h00

Se assume uma carga de trabalho muito grande e não tem tempo para mais nada, pode estar com burnon - iStock

Você deveria ter parado há muito tempo, mas ainda está na sua mesa, no escritório, na sexta-feira à noite. No sábado, você tem e-mails para escrever e, no domingo, fará o trabalho antecipado para segunda-feira. Se você assume regularmente uma carga de trabalho como essa, pode estar muito entusiasmado com seu trabalho. Porém, também pode estar sofrendo de “burnon”.

O termo foi cunhado pelos alemães Timo Schiele, psicoterapeuta e Bert te Wildt, psiquiatra e psicoterapeuta. Os dois foram coautores de um livro cujo título pode ser traduzido como “Burn-on: Always on the Brink of Burn-out” (Burnon: sempre à beira do burnout, ou seja, do esgotamento). Segundo eles, o burnout é uma exaustão depressiva aguda, enquanto o burnon é crônico. Eles dizem que sentiram que seria construtivo descrever [a exaustão depressiva crônica] e expressá-la em um termo diferente para categorizar os pacientes com mais precisão.

Vale ressaltar que a 11ª – e mais recente – revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-11), publicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), inclui o burnout como um fenômeno ocupacional, e não – ao contrário da depressão – como uma condição médica, embora seus sintomas possam ser semelhantes.

Depressão mascarada

Burnout é uma síndrome “resultante do estresse crônico no local de trabalho que não foi administrado com sucesso”, nas palavras da CID-11. Burnon também pode ser descrito como depressão mascarada, conclui Wildt. Isso porque pacientes estão sempre à beira de um colapso, mas seguem em frente e cultivam, por trás de um sorriso, um tipo diferente de exaustão e depressão. É isso que distingue o burnon do burnout, ele explica.

Enquanto os pacientes com burnout desabam e tiram licença médica do trabalho, aqueles com burnon continuam trabalhando. Wildt não vê burnon como algo positivo, mas como uma condição “acompanhada de sofrimento significativo que tende, no entanto, a ficar oculto”. A pessoa continua a desempenhar seu trabalho, mas sua vida social e privada sofre consideravelmente e não proporciona mais prazer ou diversão. Muitos dos afetados não veem a conexão entre seus sintomas e o amor pelo trabalho. Pode levar anos até que eles percebam que algo está errado.

O que causa o burnon?

Em muitas sociedades, desempenho e sucesso são uma medida do status social de uma pessoa. O burnon e o burnout são especialmente prevalentes em empregos em que um grande investimento de tempo — geralmente excedendo o horário normal de trabalho — é recompensado ou exigido.

“Depois de uma certa quantidade de trabalho e autoalienação, nenhum trabalho é mais bom”, observa Wildt. Sinais de burnon também são comuns em pessoas com empregos que não têm horário fixo de trabalho e/ou são focados e responsáveis por outras pessoas, como enfermagem, medicina, terapia e ensino.

Florian Becker, professor de psicologia empresarial, aponta o que vê como uma fraqueza em quem sofre de burnon: “Na minha opinião, tem muito a ver com estabelecer limites, especialmente com os outros.” Pessoas que se definem principalmente por suas realizações também são suscetíveis ao burnon. “Eles são superdotados e inseguros”, diz Wildt.

Quais são os sintomas de burnon?

Enquanto o burnout é caracterizado pela exaustão e uma forte aversão ao trabalho, as pessoas afetadas pelo burnon ficam cognitivamente confinadas ao seu trabalho. Isso se manifesta em um foco na eficácia e no desempenho, o que também ocorre na vida privada. No nível emocional, a depressão domina.

Embora as pessoas que sofrem de burnon sejam bem-sucedidas e voltadas para o desempenho, elas não se orgulham de suas conquistas e se consideram inadequadas. E têm sentimentos de vergonha e culpa, mesmo estando sempre lá pelo trabalho e pelas outras pessoas. Apesar de suas imensas conquistas, elas sofrem com a sensação de nunca fazer o suficiente. O resultado é um vazio interior, desespero, falta de alegria e um sentimento de falta de sentido.

Muitas delas não têm mais noção de seus limites, suas paixões, seus interesses. Também não conseguem mais aproveitar os sucessos, se sentem cansados ​​e apáticos, mas ao mesmo tempo não conseguem relaxar. Mesmo quando estão de férias, o trabalho está em suas mentes. Os sintomas físicos variam de pressão alta, dores nas costas e dores de cabeça até zumbido e insônia. O corpo deles está em constante estado de estresse.

Existe solução?

Muitas pessoas que sofrem de burnon precisam primeiro reconhecer que têm um problema e depois decidir procurar ajuda. É importante, de acordo com Wildt, que encontrem momentos e lugares que não sejam vistos como funcionais, mas que ressoem emocional e fisicamente com eles. “Gosto de usar o termo ‘santuários’ – que você cria para sua própria humanidade e que estão fora dos limites do seu modo de trabalho.”

Pode ajudar se perguntar o que realmente combina com você, o que gostava de fazer, o que sempre quis fazer e o que te apaixona. Alternar entre exercícios de relaxamento e atividades esportivas exigentes que são naturalmente exaustivas também pode ajudar. Há algo mais importante: claramente, dizer 'não' é uma habilidade muito importante que muitas pessoas não têm.

Wildt tem o seguinte conselho: “Você precisa se perguntar o que está preparado para dar, fazer e o que claramente excede suas limitações, e então traçar o limite.” Em muitos casos, a terapia ambulatorial ou hospitalar – na qual o terapeuta ajuda o paciente a elaborar estratégias e maneiras de implementá-las – é necessária para fornecer suporte. Para alívio duradouro dos sintomas de buron, o histórico do paciente deve ser examinado para determinar a fonte do sentimento de inadequação e pressão.

Fonte: The Star

 

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