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Saiba qual o protetor solar certo para o seu tipo de pele

Conhecer as características de sua pele é fundamental para que a escolha do protetor seja acertada - iStock
Conhecer as características de sua pele é fundamental para que a escolha do protetor seja acertada - iStock

Leo Fávaro* Publicado em 27/01/2022, às 10h00

Apesar das frequentes recomendações para que se use protetor solar diariamente (e especialmente no verão), aplicar o produto na pele nem sempre faz parte da rotina. Além da falta de hábito, muitas vezes condicionado às ocasiões em que se vai à praia ou à piscina, o desconhecimento sobre qual a melhor escolha para cada tipo de pele também pode ser um dos fatores que atrapalham esse cuidado que deve ser diário. O uso do protetor solar é uma recomendação que está no topo da lista dos dermatologistas e motivos para isso não faltam.

A exposição da pele ao sol de forma exagerada e sem o devido cuidado pode tornar a pele mais suscetível a queimaduras e a infecções, como herpes simples, além de danos a longo prazo, como flacidez, surgimento de manchas e envelhecimento precoce, além do risco aumentado para câncer de pele.

Conhecer as características de sua pele é fundamental para que a escolha do protetor seja acertada, sobretudo quando se fala em fator de proteção solar (FPS) e em textura – afinal, ninguém gosta de ficar com a pele grudenta depois de passar uma camada do produto –, bem como facilita que essa prática se torne um hábito.

Equilíbrio é tudo

Ao mesmo tempo que sabemos que a radiação solar é importante para o metabolismo da vitamina D, que tem papel muito importante na absorção de cálcio e na imunidade, também sabemos que o excesso de sol pode trazer prejuízos à saúde. Como manter, então, o equilíbrio de radiação na pele?

O dermatologista e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) Daniel Cassiano explica que “o Brasil é um país com altos níveis de insolação, em que poucos minutos de exposição, independentemente do clima e da estação, somente de mãos e face, seriam suficientes para a produção de vitamina D. Portanto, no que tange a essa equação, devemos estar atentos aos riscos relacionados à exposição solar, que são mais importantes do que com os riscos relacionados à não exposição”.

Assim, para alcançar níveis adequados de vitamina D no corpo, seriam suficientes cerca de 15 minutos sem proteção solar, longe da hora do almoço, e, para além disso, recomenda-se o uso de protetor. Quem já possui histórico de lesões pré-câncer ou tem a pele muito clara pode ser orientado a não se expor sem proteção nem por esse período.

Confira:

FPS varia com a pele, a idade e doenças dermatológicas

O fator de proteção solar (FPS) pode ser entendido como um índice que determina o grau de proteção dos efeitos do sol e que varia de acordo com o tipo de pele, o tempo de exposição solar e o horário da exposição. “A Sociedade Brasileira de Dermatologia recomenda um filtro solar com FPS mínimo de 30. No entanto, como a quantidade aplicada pelas pessoas é sempre inferior àquela recomendada, na prática orientamos um filtro solar com FPS de 50 ou mais”, explica Cassiano.

O dermatologista salienta ainda que mesmo fototipos mais altos devem seguir essa recomendação de usar um protetor com FPS mais alto. Os fototipos cutâneos seguem uma classificação, sendo a mais famosa a de Fitzpatrick, que variam de acordo com a quantidade de melanina, com a capacidade de bronzear e de queimar durante uma exposição solar. Segundo a regional do Rio de Janeiro da SBD, os fototipos podem ser classificados em:

  • Fototipo 1 - extremamente branca: Caracteriza-se por uma pele clara e, não raro, com sardas. Este fototipo nunca se bronzeia, apenas se queima porque é extremamente sensível à radiação solar. Neste caso, a proteção deve ser bem maior.
  • Fototipo 2 - branca: Neste caso é também uma pele clara, porém levemente mais escura que o primeiro. Os tons de olhos e cabelo também denunciam os tipos. No primeiro, geralmente são loiros ou ruivos. No segundo, geralmente castanhos. É uma pele sensível ao sol, mas se bronzeia lentamente. Os cuidados, no entanto, são os mesmos.
  • Fototipo 3 - morena clara: Aqui a pele já é um pouco mais escura e possui uma certa resistência ao sol. A sensibilidade existe, mas este tipo de pele consegue se bronzear com certa facilidade. Sem proteção, no entanto, também se queima facilmente.
  • Fototipo 4 - média: Este fototipo apresenta um tom de pele castanho claro, é mais resistente aos impactos dos raios UV e por isso bronzeia facilmente, queimando-se muito pouco – porque ainda existe sensibilidade ao sol, ainda que mínima.
  • Fototipo 5- morena escura: É a pele típica de pessoas negras claras. Raramente se queimam e ficam com um belo bronzeado. São pouco sensíveis ao sol, mas isso não quer dizer que podem se descuidar da proteção solar.
  • Fototipo 6 - negra: A pele negra é completamente pigmentada e possui uma proteção natural aos raios solares porque produz mais melanina. Também possui fibras de colágeno mais resistentes e glândulas sebáceas maiores, deixando a pele mais oleosa. Ainda assim, este tipo de pele precisa de proteção solar para evitar cânceres e envelhecimento precoce.

Assim, quanto mais clara a pele, maior deve ser o FPS. Além disso, a SBD também orienta que na hora de escolher o índice de proteção contra raios ultravioleta (UV), deve-se levar em consideração doenças relacionadas à exposição solar, como melasma, rosácea e câncer de pele, dentre outras. “No dia a dia, recomendamos uma aplicação pela manhã e uma reaplicação após o almoço em ambientes fechados. Em pacientes com dermatoses como melasma ou lúpus, doenças que são influenciadas pela radiação, essa frequência deve ser aumentada”, explica o dermatologista.

Cassiano também destaca que em crianças e em idosos, que têm pele mais sensível, o ideal é usar filtro solar de amplo espectro. Este tipo de produto oferece proteção contra os raios UVA e UVB, que são os mais nocivos para a pele, e também podem proteger da luz visível (como aquela emitida por telas eletrônicas) e infravermelha. “Crianças a partir de seis meses podem usar filtro solar e preferimos os minerais (físicos), já que esses não são absorvidos pela pele. Em idosos, recomendo filtros multifuncionais, que além de proteger a pele, têm capacidade de hidratar ou apresentam em sua formulação ação antioxidante”, ressalta.

Existe quantidade e forma corretas

Para funcionar adequadamente, é importante aplicar uma quantidade adequada de protetor solar e espalhá-lo de forma uniforme na pele. A recomendação da SBD em relação à quantidade do fotoprotetor é:

  • Uma colher de chá para a face e o pescoço;
  • Duas colheres de chá para o tronco e o abdômen;
  • Uma colher de chá para cada braço;
  • Duas colheres de chá para cada perna.

O ideal é aplicar 20 minutos antes da exposição solar e também é importante reaplicar o produto duas horas depois, ou  após mergulho ou suor intenso. Lembre-se que mesmo em dias nublados ou quando se vai ficar embaixo do guarda-sol, por exemplo, é fundamental usar filtro solar. Além disso, a SDB também recomenda que a exposição ao sol seja feita antes das 10h ou após as 15h, já que entre esse horário a incidência de raios UV é maior, logo, mais  nociva para a pele.

Para cada pele, uma textura diferente

Na hora de escolher o veículo do filtro solar, isto é, o tipo de protetor (creme, gel, sólido, dentre outros), Cassiano explica que a indicação deve ser individualizada de acordo com as atividades diárias e tipo de pele de cada pessoa. De modo geral, as recomendações para cada tipo de pele são as seguintes:

  • Peles mistas e oleosas: recomenda-se que o filtro solar tenha versões mais leves, com toque seco, em gel, oil-free ou sérum. Sua textura evita resíduos oleosos e evita o surgimento de comedões (cravos) e espinhas. O efeito matificante (matte) pode ajudar a controlar a oleosidade (untuosidade) e o brilho da pele.
  • Peles secas: o uso de versões em creme é recomendada, já que também garantem hidratação para a pele.

Com o desenvolvimento de novas tecnologias, novos produtos surgem no mercado com grande frequência. Suas propriedades variam de acordo com o objetivo pretendido: alguns oferecem uma grande variedade de cores, compatível com diversos tons de pele; outros agregam substâncias com propriedades que suavizam as linhas de expressão, por exemplo.

“Existe uma ampla oferta de produtos disponíveis no mercado brasileiro, por isso a seleção adequada do protetor solar deve ser baseada na prescrição do dermatologista para cada caso específico, de forma que o médico deve-se basear em duas fontes de informação: a formulação do produto (princípios ativos, ingredientes do veículo, presença ou não de antioxidantes ou ativos secundários que trazem outros benefícios), e a cosmeticidade do produto. Atributos da rotulagem e estudos adicionais realizados também devem ser considerados”, explica o especialista. Cassiano detalhou os principais tipos de veículo de protetor solar disponíveis no mercado brasileiro:

  • Óleo: As primeiras preparações de filtros solares foram veiculadas em óleo. Popularmente, eram conhecidas como bronzeadores. São formulações monofásicas, fáceis de espalhar e aplicar, além de muito estáveis quando incorporam ativos lipossolúveis. Nestes casos, a manipulação é simples, podendo ser realizada à temperatura ambiente. Infelizmente, a facilidade de aplicação resulta em baixa efetividade pois deixa uma fina película transparente sobre a pele, com reduzido FPS. O efeito cosmético também é um limitante.
  • Gel: Os géis são indicados para peles oleosas e acneicas, uma vez que são veículos compostos por uma fase líquida, normalmente água ou álcool, e outra sólida, representada por agentes gelificantes. Esses últimos são geralmente substâncias poliméricas, interpenetradas por um líquido de forma a modificar seu estado físico. Conforme a quantidade de agentes gelificantes presentes em uma formulação, podem ser obtidos diferentes tipos de efeitos reológicos. Os géis fotoprotetores devem ter aparência agradável, fácil aplicação e remoção, rápida secagem, suavidade e elasticidade.
  • Emulsão: Esse veículo é versátil, cosmeticamente agradável e compatível com a incorporação de substâncias lipo e hidrossolúveis, sendo assim uma das formas farmacêuticas tópicas mais prescritas. As emulsões óleo em água (O/A) apresentam baixa untuosidade, produzem efeito refrescante, secam com rapidez e podem ser facilmente laváveis com água. Estas vantagens devem-se ao fato de a fase contínua da emulsão ser a água, e a fase dispersa, o óleo. As emulsões água em óleo (A/O) apresentam maior porcentagem de óleo, sendo essa a fase contínua. Deixam a pele mais gordurosa e com brilho, repelem a água e conferem proteção contra umidade e frio. Porém, são termolábeis (sensíveis à ação da temperatura).
  • Gel Creme: Os géis cremes resultam da incorporação de um agente gelificante a uma emulsão. Muito usados em formulações fotoprotetoras, geralmente em países tropicais, por apresentarem o efeito sensorial dos géis e a emoliência (maciez) de emulsões, o que exclui a desvantagem dessas últimas (que deixam a pele pegajosa e untuosa). São indicados para protetores solares de uso diário, inclusive para pessoas de pele oleosa por aceitarem a incorporação de sequestrantes de gordura.
  • Mousse: O mousse é, tipicamente, uma emulsão fluida à qual foi adicionado um propelente. Necessita envase especial, em frascos com válvula que, quando comprimida, libera uma espuma elegante e fácil de espalhar.
  • Aerossol: Os aerossóis são dispersões coloidais de um líquido na atmosfera. Costumam ter caráter oleoso, o que pode facilitar sua aplicação ao ser facilmente espalhado na pele, porém deixam a pele untuosa. Fórmulas modernas, siliconadas ou substâncias afins têm sido empregadas como fotoprotetores, com grande aceitação, mas de resultados questionáveis, não apenas pela dificuldade em se avaliar a quantidade aplicada, como por sua distribuição irregular sobre a pele. São mais úteis quando usados para reforçar o efeito de um fotoprotetor em emulsão ou em gel, quando há necessidade de reaplicação.
  • Bastão (stick): São compostos de ceras e óleos, formando uma estrutura sólida ou semissólida, aos quais são incorporados filtros inorgânicos e/ou orgânicos lipossolúveis. Essa associação resulta em produtos muito resistentes à água. São indicados para a aplicação nos lábios, como lápis labial, dorso nasal ou em outras áreas restritas da pele.
  • Pó e Base: São produtos cosméticos destinados à maquiagem, reduzindo o brilho da pele, uniformizando cor e textura, além de proteger a pele das radiações solares. Aos pós faciais, geralmente, são incorporados filtros inorgânicos, porém, nas bases fluidas e nos pós compactos, ambos, orgânicos e inorgânicos, podem ser veiculados. Sabemos, no entanto, que, geralmente, o FPS das maquiagens é muito baixo, sendo insuficiente para proteger a pele. Então, para quem usa maquiagem, o ideal é optar por um protetor solar com cor de alta cobertura, que, além de ser eficaz na proteção, também atua como base.

Como proteger cabelo, lábios e olhos

Em algumas áreas do corpo não costumamos passar o fotoprotetor, mas elas também merecem essa proteção. Cabelos, lábios e a região dos olhos são algumas dessas áreas que acabam esquecidas ou que são negligenciadas, mas que também podem sofrer danos quando a exposição solar é exagerada, sendo necessário o uso de produtos específicos para cada uma delas. Daniel Cassiano explica como proteger essas partes do corpo:

  • Couro cabeludo e cabelos: Os fios do cabelo, principalmente quanto têm um tom mais escuro, fornecem proteção natural para o couro cabeludo. No entanto, pessoas com cabelos de fios mais claros, calvas ou que possuem o cabelo mais “ralo” podem usar chapéus e bonés para cobrir o couro cabeludo ou utilizar protetor solar nas áreas de pele glabra (sem pelos) do couro cabeludo devido à alta exposição da região. Estudos já demonstraram que a exposição solar excessiva nessa região pode levar ao surgimento de algumas condições patológicas, incluindo o câncer de couro cabeludo.

Quanto ao cabelo, a proteção dos fios tem importante efeito cosmético, pois os raios podem favorecer alterações na coloração devido à oxidação dos pigmentos do fio. A radiação também danifica os lipídios do fio de cabelo, o que aumenta o ressecamento e a fragilidade, além de afetar o brilho e a maleabilidade, pois é esse filme de gordura que proporciona essas características. A fotoproteção dos cabelos é feita com os mesmos princípios ativos utilizados na pele, adicionados a formulações de uso capilar, em condicionadores, géis e sprays.

  • Região dos olhos: A região periorbitária, que fica em torno dos olhos, além de ser área frequente de câncer de pele, mostra os sinais da idade, sendo necessários cuidados especiais nesta região devido à alta sensibilidade que apresenta. A exposição do olho humano à radiação solar sem a devida proteção, de forma intensa ou de forma continuada e repetida, pode promover alterações patológicas, como a fotoceratite e a catarata. Para a adequada proteção ocular contra os efeitos da radiação solar, é recomendável o uso de óculos escuros, preferencialmente aqueles que demonstrem capacidade de absorver acima de 99% da radiação ultravioleta. Esta medida também seria efetiva na diminuição do risco de surgimento de neoplasias cutâneas em região periorbital.

Nessa região, dá-se preferência à aplicação de protetores solares inorgânicos, devido ao baixo potencial alergênico e irritante. Outra possibilidade é o uso de maquiagens com protetores inorgânicos que podem fazer esse papel de barreira e absorver um pouco do suor da região, evitando contato com os olhos.

  • Lábios: O uso do protetor labial é fundamental para pacientes com exposição solar intensa, em particular os que apresentam lábio inferior mais protuso. É demonstrado que o uso regular de batons com fotoprotetores reduz a frequência de câncer labial. Esses batons devem preencher critérios como proteção de amplo espectro e fotoestabilidade.

*Leo Fávaro é acadêmico de Medicina da Universidade Federal do Espírito Santo.