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Saúde mental dos jovens nunca esteve pior, mostra relatório nos EUA

Quase 60% das garotas norte-americanas relataram sentir tristeza e falta de esperança crônicas - iStock
Quase 60% das garotas norte-americanas relataram sentir tristeza e falta de esperança crônicas - iStock

Perto de 70% dos adolescentes LGBTQIA+ experimentaram sentimentos persistentes de tristeza ou desesperança entre 2020 e 2021, nos EUA, e 45% consideraram seriamente tirar a própria vida.

Entre jovens do sexo feminino, quase 60% relataram sentir tristeza e falta de esperança crônicas, e 30% pensaram seriamente em morrer, um número 60% maior que o registrado há uma década, e o dobro do registrado entre os garotos.

Esses e outros dados publicados esta semana nos EUA mostram que a saúde mental dos jovens, que já estava abalada, sofreu ainda mais com a pandemia de Covid.

Jovens LGBTQIA+ e do sexo feminino 

Violência sexual, abuso de substâncias e pensamentos sobre suicídio têm afetado jovens de ambos os sexos, independente de raça ou etnia, há décadas, segundo diversas pesquisas.

Mas as garotas e os jovens LGBTQIA+ têm sido os mais afetados nesse sentido, assim como jovens pretos, segundo o relatório divulgado pelo CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças), que envolve 17 mil estudantes do ensino médio (de 14 a 17 anos de idade), ouvidos no segundo semestre de 2021.

A pesquisa ainda mostrou que 10% de todos os adolescentes ouvidos tentaram suicídio no ano que antecedeu a entrevista. Essa proporção é assustadora, mas é ainda mais preocupante quando se considera apenas jovens que se descrevem como lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, queer, intersexuais, assexuais e demais orientações e identidades de gênero – 22% tentaram tirar a própria vida no ano anterior à abordagem.

Nos 30 anos em que esse levantamento é realizado, nunca os resultados foram tão devastadores, de acordo com a diretora do CDC, Kathleen Ethier. “Não há dúvidas que os jovens estão nos dizendo que estão em crise”, divulgou à Associated Press. E esses dados  pedem ações, ela acrescentou. 

Violência sexual, substâncias e bullying

Do total de garotas ouvidas na pesquisa, 14% afirmaram ter sido forçadas a fazer sexo, enquanto 4% dos garotos relataram o mesmo. Quando se considera apenas alunos LGBTQIA+, a proporção é de 20%.

Vinte e sete por cento dos adolescentes LGBTQIA+ disseram ter sofrido cyberbullying (agressões via internet), enquanto a proporção geral (entre todos osjovens) foi de 16%. Quando a pergunta era sobre o bullying dentro da escola, 23% dos adolescentes LGBTQIA+ e 15% dos jovens em geral relataram ter sido vítimas.

Do total de estudantes ouvidos, 23% admitiram ter usado álcool no mês anterior à abordagem (27% das garotas e 19% dos garotos), e 16%, maconha (18% das garotas e 14% dos garotos). Ao se considerar apenas os jovens LGBTQIA+, as proporções são mais altas: 26% consumiram álcool e 22%, maconha. 

O uso de outras drogas ilícitas (cocaína, heroína, inalantes, ecstasy, alucinógenos ou metanfetamina) foi relatado por 13% de todos os adolescentes, taxa que foi mais alta entre as garotas (15%) e LGBTQIA+ (28%). E 12% dos jovens, em geral, afirmaram terem abusado de opioides (medicamentos prescritos para combate à dor), proporção que também foi maior para o sexo feminino (15%) e os LGBTQIA+ (20%). 

Se você está sofrendo...

Não tenha vergonha de pedir ajuda. Falar é sempre melhor. Se não der para conversar com alguém da família, busque um amigo, um professor, alguém de confiança na sua comunidade, um grupo de suporte ou um profissional de saúde.

O Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece apoio emocional a todas as pessoas que precisam conversar, sob total sigilo, pelo telefone 188 (ligação gratuita), ou por email, chat ou Voip, todos os dias, 24 horas. Você também pode buscar auxílio profissional dos CAPS e nas Unidades Básicas de Saúde (Saúde da Família, Postos e Centros de Saúde).

Lembre-se que a depressão é uma doença como outra qualquer. Se você não pensa duas vezes ao procurar o médico em caso de dor ou febre, não há porque ter receio de procurar um psiquiatra, psicólogo, assistente social ou mesmo um grupo de suporte em caso de sofrimento emocional.

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Tatiana Pronin

Tatiana Pronin

Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY. Twitter: @tatianapronin