Da Redação Publicado em 22/10/2020, às 16h55 - Atualizado às 16h56
Diversos estudos publicados nos últimos meses mostram que os efeitos da pandemia de Covid-19 na saúde mental podem ser duradouros e afetar grande parte da população. Vários deles também têm mostrado que os jovens foram os mais afetados nesse aspecto.
Um deles, realizado na Europa, acaba de ser publicado no periódico Frontiers in Psychiatry. Entre 10 de abril e 28 de maio, um total de 1.538 falantes de alemão, de diferentes idades, principalmente da Áustria e da Alemanha, responderam a questionários online sobre suas condições de vida, percepções sobre a pandemia e saúde mental. O foco principal da equipe, do hospital universitário da Universidade Livre de Berlim e da Universidade de Innsbruck, foi a sensação de que a vida tem sentido e o autocontrole.
A análise mostra que os participantes mais velhos tiveram menos impactos psicológicos negativos do que os mais jovens. Para a coordenadora do estudo, a psicóloga Tatjana Schnell, isso tem a ver com o fato de que ver sentido na vida, ou enxergar as coisas com uma perspectiva mais ampla, é algo que se fortalece com o tempo e as experiências de vida.
Os resultados indicam claramente que o estresse foi muito grande no início da pandemia, com toda a mudança de rotina. Mesmo assim, o senso de significado para a vida protegeu muita gente. E o autocontrole, algo muito demandado por causa das restrições impostas, também foi benéfico para o bem-estar mental. As duas cartacterísticas, portanto, funcionaram como uma espécie de colchão para o equilíbrio emocional.
A flexibilização do isolamento, contudo, não melhorou a saúde mental das pessoas mais afetadas, de acordo com a pesquisa. Para os pesquisadores, a razão disso é que as perdas econômicas demoraram um pouco para aparecer, e elas causam tanto estresse quanto o medo da doença.
Outra hipótese da equipe é que a ambiguidade da flexibilização deixou todo mundo mais instável. No começo da pandemia, as restrições eram para todo mundo, e a situação estava muito clara. Então todos estavam, de certa forma, “no mesmo barco”.
Depois que o lockdown acabou na Alemanha e na Áustria, os pesquisadores perceberam que os participantes tiveram crises mais fortes de sofrimento psicológico, menos autocontrole e mais dúvidas sobre o sentido da vida.
Como o número de mortes não aumentou mais nos dois países, desde então, começaram a surgir dúvidas, também, sobre o sentido de todas as medidas anteriores. E aí manter o autocontrole fica mais difícil. É o que os especialistas chamam de paradoxo da prevenção.
Para os autores do estudo, os dados mostram que autocontrole é algo que depende de decisões bem informadas, e não tanto de obediência ou resistência às regras. Isso precisa ficar claro para políticos e autoridades médicas: a formulação de políticas de prevenção demanda o envolvimento de toda a sociedade, inclusive as minorias. E também deve levar em conta as ciências sociais e humanas, e não só a medicina e a economia.
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