Síndrome das pernas inquietas: o que você precisa saber

A doença pode impactar o sono ea disposição; saiba como evitar ou controlar as crises

Leo Fávaro* Publicado em 24/10/2021, às 12h00

A síndrome das pernas inquietas prejudica bastante a qualidade do sono e não é incomum na gravidez - iStock

A síndrome das pernas inquietas (SPI) é um distúrbio neurológico crônico que causa alterações na sensibilidade e nas funções motoras dos membros inferiores. Ela se caracteriza por uma necessidade incontrolável de mover as pernas para aliviar uma sensação desconfortável que tal distúrbio causa.

Também conhecida como síndrome de Willis-Ekbon, ela foi descrita pela primeira vez em 1685 por Thomas Willis e, em 1995, o Grupo de Estudos Internacional da Síndrome das Pernas Inquietas (IRLSSG) elaborou a definição da síndrome e estabeleceu uma escala para avaliar a gravidade da doença.

Sintomas

A doença se manifesta exclusivamente por queixas subjetivas de quem a tem, que relata essa vontade irresistível de mover as pernas, podendo também relatar dormência, formigamento ou alterações na força e na sensibilidade do membro. É comum relatos de sensação de “arrastamento” das pernas. Em alguns casos, o desconforto pode atingir também os braços e outras partes do corpo, como o ânus (clique para saber mais sobre a síndrome do ânus inquieto).

Os sintomas são mais intensos e frequentes quando a pessoa está mais relaxada, ao entardecer ou à noite, inclusive durante o sono. Eles, por outro lado, se aliviam quando a pessoa se movimenta. Com isso, há prejuízo na quantidade e na qualidade do sono, além de causar irritabilidade diurna, cansaço mental, déficit cognitivo, ansiedade e depressão.

Causas

Ainda não se sabe o mecanismo fisiopatológico da SPI, mas três hipóteses foram estabelecidas. A primeira é que níveis elevados de estrogênio, progesterona e de outros hormônios podem aumentar a atividade neuronal. A segunda hipótese está relacionada ao aumento do estresse e da ansiedade, que exacerbam os sintomas da SPI. Por fim, há indícios de que a diminuição de ferro, ferritina e ácido fólico podem contribuir para a SPI. Todas as três hipóteses são mais evidentes em pacientes gestantes.

Certos medicamentos podem agravar os sintomas, como certas drogas contra enjoo, antipsicóticos e anti-histamínicos mais antigos e alguns antidepressivos. E a síndrome também pode ocorrer em pacientes com neuropatia ou insuficiência renal. 

Epidemiologia

A prevalência da SPI é bem variável, mas é mais baixa em países orientais, o que sugere que fatores genéticos e culturais podem exercer papel etiológico. Estima-se que 5 a 15% dos adultos são acometidos com a síndrome e que de 40 a 50% dos casos têm caráter familiar. No Brasil, a prevalência é de cerca de 6,4%. Ela pode aumentar com a idade e é mais frequente entre as mulheres. Em sua forma hereditária, pode ser verificada entre crianças e é encontrada em 10 a 20% dos pacientes com dificuldade para iniciar e manter o sono.

Diagnóstico

O diagnóstico da SPI é baseado em critérios estabelecidos pelo IRLSSG, que utiliza parâmetros como os listados abaixo para diagnosticar ou estabelecer o grau de comprometimento da síndrome das pernas inquietas.

A SPI também pode ser diagnosticada pelo exame de polissonografia, que pode ser mais útil quando o quadro diurno for leve e os episódios de fragmentação do sono forem intensos. O resultado do exame mostra um padrão de movimentos periódicos de membros durante o sono. Esses movimentos são repetitivos e estereotipados, ocorrendo em episódios periódicos. Eles são de origem não epiléptica, que ocorrem durante o sono e que são acompanhados por microdespertares que resultam num sono interrompido.

Os movimentos geralmente são a extensão do hálux (dedão dos pés) e dorsiflexão do calcanhar com ocasionais flexões de joelho e de coxa. Os movimentos duram de 0,5 a 5 segundos e ocorrem em intervalos que variam de 20 a 40 segundos entre si. Os episódios, por sua vez, podem durar de minutos a horas. Para ser considerado patológico, devem ocorrer mais de cinco movimentos por hora durante o sono.

Em alguns casos, o médico também pode solicitar exame laboratorial para verificar o nível de ferro ou ferritina, que podem estar associados ao quadro clínico.

Confira:

Tratamento

O tratamento da SPI por medicamentos é satisfatório. Ele pode ser feito a partir de diversas abordagens, direcionadas conforme o caso individual, em que o médico (geralmente um neurologista ou algum especialista em medicina do sono) pode lançar mão de medicamentos agonistas dopaminérgicos, levodopa, benzodiazepínicos, opioides ou antiepilépticos. Devem ser observados, contudo, os efeitos colaterais do tratamento indicado. Se houver carência de ferro, a suplementação também pode ser indicada.

O site da Fundação para Síndrome das Pernas Inquietas (RLSF) orienta que uma dieta balanceada pode favorecer o controle ou a redução das crises e complementar a terapia medicamentosa. Algumas substâncias que devem ser evitadas por estarem associadas ao aumento dos sintomas são cafeína, nicotina, álcool e açúcar refinado.

Além disso, o alívio dos sintomas pelo movimento pode ser estimulado. No mesmo sentido, o exercício físico é indicado e pode ajudar tanto a reduzir os sintomas como reduzir riscos de comorbidades, além de promover estimulação mental.

A RLSF também destaca que quem pratica exercícios físicos com regularidade têm 3,3 vezes menos probabilidade de desenvolver SPI do que aqueles que são sedentários. Além disso, a fundação também destaca estudos que sugerem que pessoas com SPI que praticam exercícios têm redução dos sintomas em 40% comparado àqueles que têm a doença, mas não realizam atividades. A página virtual da RLSF dá algumas dicas sobre as atividades físicas para esses casos:

 

*Leo Fávaro é acadêmico de medicina da Universidade Federal do Espírito Santo

Veja também:

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