Jairo Bouer Publicado em 13/09/2020, às 06h00
Imagine que você vive num prédio com outros 99 moradores. Pense que 17 deles já pensaram em desistir de tudo, e cinco chegaram a elaborar um plano para acabar com a própria vida. Agora tente imaginar o que essa proporção representa numa cidade grande, ou no país. É muita gente.
Quantas pessoas concretizam esses pensamentos? O Brasil registra 12 mil suicídios por ano, ou 32 a cada dia. O número vem crescendo, segundo diversas pesquisas, especialmente em certos grupos mais vulneráveis. Mas, como sugere o CVV (Centro de Valorização da Vida), entre o desejo de acabar com a dor e a vontade de viver, existe a possibilidade de buscar ajuda e desenvolver condições internas de lidar com o sofrimento. É por isso que falar sobre as nossas emoções é fundamental.
Quem sofre mais?
As taxas de suicídio no país são mais altas para os homens, pois eles tendem a utilizar meios mais letais. Mas as mulheres tentam mais vezes, segundo as estatísticas. Os índices também são mais altos na população LGBTQ+, por causa do preconceito e de questões culturais.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil teve uma taxa de 6 suicídios a cada 100 mil habitantes em 2016. Esse índice aumentou 7% de 2010 para lá, na contramão do índice mundial, que teve redução de 9,8% graças a estratégias de prevenção.
O Ministério da Saúde observa que a proporção de suicídios é mais alta para quem tem 70 anos ou mais (8,9/100 mil hab.); tem até três anos de estudo (6,8/100 mil hab.); e na população indígena (15,2/100 mil hab.).
Jovens em risco
Em todo o mundo, o suicídio é a segunda principal causa de morte entre os jovens de 15 a 29 anos. Já por aqui, violência, acidentes e doenças ainda aparecem na frente. Mas o aumento das tentativas e de casos de automutilação, nessa faixa etária, preocupa: entre 2011 e 2018, os registros passaram de quase 15 mil ao ano para mais de 95 mil. Adolescentes negros e indígenas são os mais vulneráveis.(CLIQUE AQUI para ver especial do sobre transtornos emocionais em jovens)
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O que leva alguém a se matar?
Pesquisas apontam que quase 97% dos casos de suicídio estão relacionados a transtornos mentais como depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia, transtornos de personalidade e abuso de álcool ou drogas. Mas não quer dizer que todo indivíduo que sofre com essas doenças pode se matar – longe disso! Existem diversos fatores envolvidos, como a gravidade dos sintomas, questões culturais, ausência de tratamento e impulsividade, entre outros.
Também há outros problemas e condições que aumentam o risco de alguém pensar em morrer, como discriminação, bullying, sofrimento no trabalho, perda de emprego, exposição a agrotóxicos, crises políticas e econômicas, conflitos familiares, perda de alguém querido, doenças crônicas dolorosas ou incapacitantes e acesso a meios letais, como armas ou venenos.
Dá para evitar!
Estima-se que 90% dos suicídios podem ser prevenidos. Por isso é importante perder o medo e oferecer ajuda. Muitas vezes, ter com quem falar, colocar o sofrimento para fora e poder contar com um “ombro amigo” fazem toda a diferença.
Como muitas dessas tragédias acontecem por impulso, no desespero, esse tempo para ser ouvido, ouvir e pensar podem mudar o destino de muita gente. Esse “ombro amigo” também pode ser fundamental para incentivar a pessoa a buscar tratamento, na suspeita de um transtorno mental.
A maioria das pessoas expressa a ideação suicida de alguma maneira, seja de maneira sutil (com palavras ou imagens mais sombrias nas redes sociais, abandono de atividades, isolamento ou mudanças de comportamento), ou de forma mais explícita (com frases como “a vida perdeu o sentido pra mim” e “eu sou um peso para os outros”, ou até elaboração de testamento).
Como ajudar
O mais importante é demonstrar disposição para ouvir sem julgamentos. Muitas vezes, as pessoas tentam ajudar com frases como “eu já passei por coisa pior”, “agradeça pelo que você tem de bom” ou “levanta a cabeça”, mas isso só aumenta a sensação de culpa ou de impotência diante do sofrimento.
Nos sites e páginas do CVV, do Ministério da Saúde e da campanha Setembro Amarelo, entre outros, é possível encontrar cartilhas com informações valiosas para quem quer ajudar, mas não sabe como. Se você suspeitar de uma emergência, não hesite: ligue para o SAMU (192), ou leve a pessoa para um serviço de emergência (em pronto-socorros, hospitais ou numa UPA 24H).
Se é você quem está sofrendo
Não tenha vergonha de pedir ajuda. Falar é sempre melhor. Se não der para ser alguém da família, busque um amigo, um professor, alguém de confiança na sua comunidade, um grupo de suporte ou um profissional de saúde.
O Centro de Valorização da Vida oferece apoio emocional a todas as pessoas que precisam conversar, sob total sigilo, pelo telefone 188 (ligação gratuita), ou por email, chat ou Voip, todos os dias, 24 horas. Você também pode buscar auxílio profissional dos CAPS e nas Unidades Básicas de Saúde (Saúde da Família, Postos e Centros de Saúde).
Lembre-se que a depressão é uma doença como outra qualquer. Se você não pensa duas vezes ao procurar o médico em caso de dor ou febre, não há porque ter receio de procurar um psiquiatra, psicólogo, assistente social ou mesmo um grupo de suporte em caso de sofrimento emocional.
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