Quando se fala em TDAH (transtorno do déficit de atenção e hiperatividade), é comum as pessoas pensarem mais em crianças e jovens, faixas de idade em que as manifestações talvez sejam mais evidentes. Agitação psicomotora, inquietação, dificuldade em manter atenção na sala de aula e agressividade estão entre alguns sintomas que podem fazer com que a condição seja levada ao médico ou a um profissional de saúde mental.
"Mas os adultos também podem apresentar sintomas de TDAH, sendo que muitos deles nunca passaram por uma avaliação na infância ou adolescência, o que dificulta o diagnóstico na vida adulta", comenta Jairo Bouer.
A Organização Mundial de Saúde estima que cerca de 4% da população adulta mundial tenha o TDAH. Isso porque cerca de duas a cada três crianças com o transtorno continuam a apresentar os sintomas depois que crescem. No Brasil, a estimativa é a de que haja 2 milhões de adultos acometidos.
"O TDAH é encarado hoje muito mais como uma síndrome em que os sintomas podem acontecer com diferentes frequências e intensidades. E o impacto desses sintomas pode variar muito de pessoa para pessoa", explica Bouer.
Questões como desempenho ruim no trabalho, mudanças frequentes de emprego, comportamentos de risco (como, por exemplo, fazer sexo sem proteção, dirigir de forma imprudente) e dificuldades nos relacionamentos interpessoais são prejuízos comuns na vida de pessoas com o transtorno.
Embora mais incomuns, jovens e adultos com TDAH ainda podem ter comportamentos como falta de cuidado com a saúde e o estilo de vida, abuso de álcool e drogas, e envolvimento em brigas e ocorrências policiais.
Para se fazer o diagnóstico de TDAH em adultos é preciso confirmar que o transtorno esteve presente na vida da criança, o que nem sempre é fácil, já que a pessoa pode não lembrar de toda sua infância e os pais podem não estar vivos quando se chega, finalmente, no diagnóstico.
"É comum que, ao fazer o diagnóstico da criança, a gente ouça o pai ou a mãe dizerem que passaram pela mesma situação", diz a psiquiatra Danielle Admoni, especializada em infância e adolescência, que atua na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Esses adultos contam, segundo a médica, que eram taxados de "burros e folgados", que apanhavam em casa ou na escola porque não conseguiam parar quietos.
"Não tratar o TDAH traz prejuízos imensos: não só profissional, como também nos relacionamentos", relata. Sem contar que, como ela também observa, muitos jovens e adultos passam a usar drogas como uma espécie de automedicação para obter alívio de alguns sintomas.
Existem três tipos diferentes de TDAH, dependendo de quais tipos de sintomas são mais fortes no indivíduo:
Predomínio da desatenção: é difícil para o indivíduo organizar ou terminar uma tarefa, prestar atenção aos detalhes ou seguir instruções ou conversas. A pessoa se distrai facilmente ou esquece detalhes de suas rotinas diárias.
Predomínio de hiperatividade ou impulsividade: a pessoa se agita e fala muito. É difícil ficar sentado por muito tempo (por exemplo, na hora de comer ou enquanto faz o dever de casa). O indivíduo se sente inquieto e tem problemas com impulsividade, ou seja, vive interrompendo muito os outros, arranca coisas da mão das pessoas ou fala em momentos inadequados. É difícil para a pessoa esperar sua vez ou ouvir instruções. Uma pessoa com impulsividade pode ter mais acidentes e lesões do que outras.
Apresentação combinada: os sintomas dos dois tipos acima estão igualmente presentes na pessoa.
Vale destacar que os sintomas de TDAH podem mudar com o tempo, conforme a pessoa envelhece.
Conheça algumas estratégias que podem ajudar a lidar com o TDAH de uma forma mais tranquila:
Ferramentas organizacionais são essenciais para pessoas com TDAH na fase adulta. Elas ajudam a priorizar e acompanhar as atividades de cada dia ou das próximas semanas.
Os materiais podem incluir uma caneta e papel para fazer listas ou aplicativos para definir lembretes, destacar dias importantes no calendário, marcar prazos e manter visíveis outras informações úteis.
Reserve, todos os dias, um tempo para atualizar suas listas e horários. Não deixe que a tarefa se torne uma tarefa em si mesma, pense nisso como algo rotineiro, como escovar os dentes. Faça isso diariamente para que se torne um hábito estabelecido.
Lembre-se: smartphones e computadores também podem se transformar em uma distração. Se você tem TDAH, você pode acabar ficando horas olhando para aplicativos ou sites não tão úteis.
Se isso for uma armadilha frequente, uma boa opção é desligar as notificações ou manter o telefone desligado ou em outro cômodo enquanto estiver tentando trabalhar.
Manter a organização não significa que seu trabalho será feito. Mas algumas abordagens simples podem pelo menos facilitar esse caminho:
Os prazos provocam dois grandes desafios quando você tem TDAH na fase adulta. Em primeiro lugar, é difícil iniciar um projeto, muitas vezes porque você quer que seja perfeito ou você se intimida com isso, então o adia. Em segundo lugar, quando você inicia um projeto, é muito fácil se distrair e deixar a tarefa inacabada.
Como você pode evitar essas armadilhas?
Vale ressaltar que as ideias listadas aqui podem ajudar a lidar melhor com o TDAH, mas desafios maiores podem surgir. Por isso, procure o apoio de um profissional de saúde mental que pode fornecer mais ferramentas e estratégias de enfrentamento.
Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin