A conexão foi mais forte para crianças que consomem vídeos, chats e videogame
Tatiana Pronin Publicado em 28/02/2023, às 16h00
Há cerca de duas semanas, os EUA divulgaram um relatório com dados preocupantes sobre a saúde mental dos adolescentes, devido à enorme proporção de pensamentos sobre tirar a própria vida. No país, o suicídio é a segunda principal causa de morte entre os jovens. O cenário é ainda pior para jovens LGBTQIA+ e do sexo feminino: quase 70% e 60%, respectivamente, declaram ter sentimentos persistentes de tristeza e desesperança. E muitos afirmam ter sido vítimas de bullying, cyberbullying e violência sexual.
Agora, um novo estudo revela uma conexão significativa entre tempo excessivo de tela e um risco maior de manifestar comportamentos suicidas dois anos depois. Mas a faixa etária pesquisada torna o resultado ainda mais assustador: estamos falando de crianças de 9 a 11 anos.
O estudo, publicado na Preventive Medicine, descobriu que para cada hora adicional de tela há um risco 9% maior de comportamento suicida 24 meses depois. A ligação é mais forte para os seguintes tipos de uso da tecnologia: assistir a vídeos, jogar videogame, trocar mensagens de texto ou conversar por vídeo.
“O uso da tela pode levar a isolamento social, cyberbullying e distúrbios do sono, o que pode piorar a saúde mental”, diz o autor sênior do estudo, o médico Jason Nagata, que é professor assistente de pediatria na Universidade da Califórnia. Ele acrescenta que, além de reduzir o tempo dos jovens em situações de socialização e afetar o descanso, o uso da tecnologia ainda elimina as oportunidades para se movimentar.
Vale lembrar que a atividade física é fundamental para a saúde como um todo – gera bem-estar, melhora a autoestima e até o desempenho cognitivo em qualquer faixa etária, mas principalmente entre crianças e jovens.
O estudo contou com dados de uma pesquisa nacional chamada Adolescent Brain Cognitive Development (ABCD), considerada a maior e de mais prazo mais longo com foco em desenvolvimento cerebral dos jovens, nos EUA. Os dados incluem o tempo de tela de 11.633 crianças acompanhadas dos 9 aos 11 anos, e questionadas sobre pensamentos e comportamentos suicidas.
O estudo foi conduzido principalmente antes da pandemia de Covid-19, mas suas descobertas são especialmente relevantes agora, já que a saúde mental dos jovens piorou durante a pandemia, como observou o coautor Kyle Ganson, professor da Universidade de Toronto, no Canadá. O tempo de tela dos adolescentes dobrou para quase oito horas diárias no início da pandemia, segundo pesquisa do periódico Jama Pediatrics.
No artigo atual, Nagata recomenda aos pais que conversem regularmente com seus filhos sobre o uso da tecnologia, e também que eles deem o exemplo nesse quesito:
O tempo de tela pode trazer benefícios importantes, como educação e socialização, mas os pais devem tentar mitigar os riscos adversos à saúde mental decorrentes do tempo excessivo de tela"
O mais importante é demonstrar disposição para ouvir a pessoa sem julgamentos. Muitas vezes, as pessoas tentam ajudar com frases como “eu já passei por coisa pior”, ou “agradeça pelo que você tem de bom”, mas isso só aumenta a sensação de culpa ou de impotência.
Nos sites e páginas do CVV, do Ministério da Saúde e da campanha Setembro Amarelo, entre outros, é possível encontrar cartilhas com informações valiosas para quem quer ajudar, mas não sabe como. E se você suspeitar de uma emergência, não hesite: ligue para o SAMU (192), ou leve a pessoa para um serviço de emergência (em pronto-socorros, hospitais ou numa UPA 24H).
Não tenha vergonha de pedir ajuda. Falar é sempre melhor. Se não der para conversar sobre isso com alguém da família, busque um amigo, um professor, alguém de confiança na sua comunidade, um grupo de suporte ou um profissional de saúde.
O Centro de Valorização da Vida oferece apoio emocional a todas as pessoas que precisam conversar, sob total sigilo, pelo telefone 188 (ligação gratuita), ou por email, chat ou Voip, todos os dias, 24 horas. Você também pode buscar auxílio profissional dos CAPS e nas Unidades Básicas de Saúde (Saúde da Família, Postos e Centros de Saúde).
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