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Terapia ajuda pacientes com epilepsia que têm depressão

Pessoas com epilepsia têm um risco maior de sofrer com depressão e ansiedade - iStock
Pessoas com epilepsia têm um risco maior de sofrer com depressão e ansiedade - iStock

Redação Publicado em 18/02/2025, às 10h00

A epilepsia é a segunda condição neurológica mais prevalente que existe, perdendo apenas para a enxaqueca. Cerca de 0,4 a 1% da população é afetada pela epilepsia, condição caracterizada pelo aparecimento súbito de descargas elétricas anormais no cérebro que resultam em crises, que podem incluir convulsão e perda de consciência, mas nem sempre.

“Elas acontecem por uma questão de malformações no cérebro, e os tipos de crise acontecem conforme essas alterações”, explica o psiquiatra Gerardo de Araújo Filho, livre docente da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e representante da Liga Brasileira de Epilepsia.

Algumas epilepsias são focais, ou seja, envolvem um foco bem delimitado no cérebro, enquanto outras são generalizadas. As causas podem estar ligadas a síndromes genéticas, mas, muitas vezes, não se sabe a origem do problema. Ferimentos na cabeça (recentes ou não), traumas na hora do parto, abuso de álcool ou drogas e outras doenças neurológicas também podem facilitar o aparecimento da epilepsia.

Epilepsia e depressão

Pessoas com epilepsia apresentam uma incidência maior de alterações de humor como depressão e ansiedade. Como o médico explica, isso pode ter relação com a própria causa da epilepsia, a fatores genéticos, devido às medicações usadas para controlar as crises e, ainda, pelo estigma social da doença. Dificuldade de aceitar o diagnóstico, de controlar as crises ou, eventualmente, de conseguir emprego podem se somar ao que os especialistas chamam de “causas psicossociais”.

Mas um estudo recente, ainda não publicado, indica que a terapia cognitivo-comportamental (um tipo de psicoterapia) é eficaz no tratamento da depressão em pessoas com epilepsia, tanto quanto o uso de um antidepressivo comum (sertralina). O trabalho foi conduzido por Ellen Lima, sob orientação da Prof. Dra. Kette Valente, da Universidade de São Paulo.

Após uma triagem que envolveu 583 pessoas com epilepsia, 21 participantes foram incluídos no estudo e alocados, de forma aleatória, num grupo que concluiu 16 sessões de terapia cognitivo-comportamental e outro que utilizou o antidepressivo.

Importância da terapia

Não houve diferença significativa no tempo para remissão entre os dois grupos, o que destaca a importância de abordar a depressão com medicamentos ou psicoterapia. Gerardo ressalta a vantagem da segunda opção: “Se a depressão melhora com psicoterapia, pode-se evitar tomar mais um medicamento”, diz, lembrando que sempre existe o risco de interação entre os fármacos, além de efeitos colaterais.

No entanto, a combinação entre antidepressivo e psicoterapia pode ser necessária em alguns casos. O mais importante é lembrar que tratar a depressão pode melhorar muito a qualidade de vida de uma pessoa com epilepsia. Um estudo já mostrou que sintomas depressivos e ansiosos podem atrapalhar até mais do que a frequência das crises, segundo o médico. “É importante, portanto, diagnosticar e encaminhar para tratamento quando há a presença desses sintomas.”

Mitos e verdades sobre epilepsia

A Liga Brasileira de Epilepsia esclarece uma série de mitos comuns sobre a condição, que podem ajudar os leigos a compreender melhor suas características e contribuir para reduzir o estigma em torno da doença. Veja alguns deles:

A epilepsia é uma doença contagiosa – MITO

A epilepsia é uma doença neurológica não contagiosa. Portanto, qualquer contato com alguém que tenha epilepsia não transmite a doença.

Durante uma crise convulsiva, deve-se segurar os braços e a língua da pessoa – MITO

Durante uma crise o ideal é colocar o paciente deitado com a cabeça de lado para facilitar a saída de possíveis secreções e evitar a aspiração de vômito. A cabeça deverá ser apoiada sobre uma superfície confortável. É importante não introduzir qualquer objeto na boca, não tentar interromper os movimentos dos membros e não oferecer nada para a pessoa ingerir.

Toda convulsão é epilepsia – MITO

A crise convulsiva é uma crise epiléptica na qual existe abalo motor. Para considerar que uma pessoa tem epilepsia ela deverá ter repetição de suas crises epilépticas, portanto a pessoa poderá ter uma crise epiléptica (convulsiva ou não) e não ter o diagnóstico de epilepsia.

Convulsão e ataque epiléptico são sinônimos – MITO

A convulsão é apenas um tipo de ataque epilético. “A convulsão é aquele tipo mais intenso, no qual o paciente perde os sentidos e se debate, podendo morder a língua e urinar na roupa. No entanto, existem crises mais fracas, caracterizadas por breves desligamentos, formigamentos ou contrações restritas a alguns grupos musculares. Se ocorrerem de maneira recorrente, configuram epilepsia”, diz o neurocirurgião.

Epilepsia é uma doença mental – MITO

A epilepsia é uma doença neurológica, não mental.

Os pacientes com epilepsia não podem dirigir – MITO

Segundo a Associação Brasileira de Educação de Trânsito, o paciente com epilepsia que se encontra em uso de medicação antiepiléptica poderá dirigir se estiver há um ano sem crise epiléptica – dado que deve ser apresentado através de um laudo médico. Caso o paciente esteja em retirada da medicação antiepiléptica, ele poderá dirigir se estiver há no mínimo dois anos sem crises epilépticas e ficar por mais seis meses sem medicação e sem crise. Já a direção de motocicletas é proibida.

É possível manter a consciência durante uma crise de epilepsia – VERDADE

Sim, é possível. A manifestação clínica da crise epiléptica relaciona-se com a área do cérebro de onde a crise é gerada. As crises epilépticas apresentam-se de diferentes maneiras: podem ser rápidas ou prolongadas; com ou sem alteração da consciência; com fenômeno motor, sensitivo ou sensorial; únicas ou em salvas; exclusivamente em vigília ou durante o sono.

O estresse é um fator desencadeador de crises de epilepsia – VERDADE

O estresse é um dos fatores que pode deflagrar uma crise epiléptica.

Existem medicamentos capazes de controlar totalmente a incidência das crises – VERDADE

Cerca de 70% dos casos de epilepsia são de fácil controle após o uso do medicamento adequado. Os 30% restantes são classificados como epilepsias refratárias de difícil controle.

A epilepsia pode acometer todas as idades – VERDADE

A epilepsia acomete desde o período neonatal até o idoso, e pode ter início em qualquer período da vida.

Convulsão e ataque epiléptico são sinônimos – MITO

A convulsão é apenas um tipo de ataque epilético. “A convulsão é aquele tipo mais intenso, no qual o paciente perde os sentidos e se debate, podendo morder a língua e urinar na roupa. No entanto, existem crises mais fracas, caracterizadas por breves desligamentos, formigamentos ou contrações restritas a alguns grupos musculares. Se ocorrerem de maneira recorrente, configuram epilepsia”, diz o neurocirurgião.

Epilepsia tem tratamento, mas não tem cura – MITO

Existe a possibilidade de cura em alguns casos, por exemplo, se o paciente ficar muito tempo sem ter crises (mínimo de dois anos) e a medicação for descontinuada sem recorrências; com um procedimento cirúrgico que retira a causa das crises; pelo próprio amadurecimento do cérebro em alguns tipos de epilepsias infantis.

O paciente com epilepsia pode ter uma vida normal – VERDADE

Pacientes com epilepsia, desde que controlados, podem e devem ser inseridos completamente na sociedade, ou seja, devem trabalhar, estudar, praticar esportes, se divertir.