Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h14 - Atualizado às 23h57
Transtornos graves como a depressão, a dependência química e a esquizofrenia podem reduzir a expectativa de vida em até 20 anos, uma perda equivalente ou até pior que a provocada pelo tabagismo. É o que mostra um estudo realizado na Universidade de Oxford, no Reino Unido.
Os pesquisadores ressaltam que a prevalência de transtornos psiquiátricos na população hoje é maior que a do tabagismo. Apesar disso, a saúde mental ainda não é prioridade entre os governos. O trabalho, financiado pelo Wellcome Trust, foi publicado no periódico World Psychiatry.
A equipe analisou revisões sistemáticas de estudos clínicos sobre risco de mortalidade para diagnósticos como abuso de álcool e drogas, depressão, demência e transtornos do espectro autismo, entre outros. Os artigos incluíam, ao todo, mais de 1,7 milhões de pessoas e 250 mil mortes.
Os pesquisadores dizem que a redução média da expectativa de vida de pessoas com transtorno bipolar é de 9 a 20 anos; para esquizofrenia, de 10 a 20 anos; para abuso de álcool e drogas, de 9 a 24 anos; e para depressão recorrente, de 7 a 11 anos. Já a redução estimada para quem fuma 20 cigarros ou mais por dia é de 8 a 10 anos.
Todos os diagnósticos estudados mostraram um aumento no risco de mortalidade , embora o tamanho desse risco tenha variado bastante, claro. Mas em muitos casos eles eram equivalentes ou superiores ao risco atribuído ao tabagismo.
Várias hipóteses podem explicar esse impacto dos transtornos mentais na expectativa de vida. Em primeiro lugar, comportamentos de risco, como uso de drogas e álcool, são comuns em pacientes psiquiátricos. Além disso, eles são mais propensos a tentar suicídio. E, para piorar, o preconceito faz muita gente não buscar tratamento.
Os pesquisadores também lembram que certos transtornos mentais podem ter consequências físicas, ou agravar condições como doenças cardíacas, diabetes e câncer.
Para os autores do estudo, o tabagismo é reconhecido como um problema grave de saúde pública, e existe vontade política e financiamento para a redução das mortes relacionadas ao fumo, o que a gente vê até no Brasil. Mas falta um esforço semelhante na área de saúde mental.