Jairo Bouer Publicado em 09/03/2021, às 14h33 - Atualizado em 31/03/2021, às 18h00
O álcool faz parte da vida de muita gente e, como tantos outros hábitos, é fundamental que a gente aprenda a se relacionar com seu o consumo de uma forma que não prejudique nem atrapalhe nossas vidas. Por isso, a gente reúne, aqui, algumas questões importantes sobre o tema:
No momento dramático que enfrentamos em relação à pandemia do novo coronavírus está claro que as medidas que podem nos preservar como indivíduos e sociedade é o respeito ao distanciamento social, uso de máscara, higiene das mãos e a vacina. Tudo isso implica em uma questão única: um comportamento consciente e responsável para minha vida e para a vida dos outros.
Cada um de nós pode ser um elo na cadeia de transmissão do vírus ou um obstáculo à sua propagação. Cada vez que eu fico em casa, lavo as mãos, coloco a máscara ou tomo vacina quando chegar minha vez, eu passo a ser uma barreira a mais para o coronavírus.
Por isso é tão importante que todos nós possamos nos imunizar contra a covid, da mesma forma que adotamos essa proteção cada vez que nos vacinamos contra outras tantas infecções transmissíveis que assolaram e ainda assolam a humanidade. Não acredite em fake news sobre vacina, converse com seu médico e se proteja assim que puder. Tomar vacina é se cuidar e cuidar do outro.
Da mesma forma que se vacinar é uma atitude que impacta a minha saúde e a saúde da sociedade, adotar um padrão de consumo consciente e responsável de álcool vai na mesma direção. Quando eu bebo de forma moderada eu me protejo e, por tabela, não impacto negativamente meu grupo social.
De forma contrária, se eu abuso do consumo de álcool, me coloco em situações de risco que podem ser prejudiciais não só à minha saúde e à minha vida, como para a sociedade de forma geral. Quem bebe e assume o volante, por exemplo, torna-se um perigo para todos.
Na pandemia, até como forma de tentar atenuar o sofrimento psíquico e diversos tipos de perdas e lutos, muitas pessoas passaram a beber mais e com maior frequência. Essa mudança de padrão pode trazer consequências preocupantes. Se eu começo a beber demais, posso me colocar em risco não somente em relação ao álcool, mas também em me expor mais à infecção pelo coronavírus, já que a chance de me proteger, de usar máscara e adotar outras medidas de segurança pode cair. Nesse sentido, o consumo responsável de álcool pode proteger duplamente você e a sociedade.
Antes de explicar por que beber com moderação é a melhor escolha é importante a gente tentar definir o que é um consumo moderado. Esse conceito varia entre os países e entre as diversas instituições que trabalham com consumo de álcool. De maneira geral, não existe um padrão de consumo que seja totalmente seguro para todas as pessoas.
Tem gente tão sensível ao álcool que mesmo beber pequenas quantidades pode levar a alterações significativas de comportamento. Para elas, talvez não beber seja a melhor ideia. Mas para a maior parte da população adulta, o consumo moderado gira em torno de uma “dose padrão” de álcool por dia para mulheres e duas para homens.
No Brasil, não existe um conceito de dose padrão, mas uma porção padrão, para efeito de rotulagem nutricional aceita pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), é 10 gramas de álcool puro (que podem estar em uma latinha um copo de cerveja de 330 ml, num cálice de vinho de 100 ml ou, ainda, em uma dose de destilado de 30 ml). Assim, o homem que bebe, por exemplo, dois copos de cerveja por dia e a mulher que bebe uma dose de destilado estariam dentro de um padrão moderado.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) ainda diz que para estar dentro de um padrão de consumo moderado, a ingestão de álcool não deve acontecer de forma diária e, sim, com pelo menos dois dias sem beber na semana. Também é central lembrar que algumas situações como ter menos de 18 anos, estar grávida, usar outros medicamentos com efeito no sistema nervoso central e conduzir um carro não admitem consumo moderado. Nesses casos, beber álcool não deve acontecer em nenhuma hipótese.
Só mais um dado para você não se confundir. Há uma outra classificação que explica que beber mais de 3 doses para mulheres e mais do que 4 para homens em uma única ocasião sinalizam um padrão abusivo de consumo (que em inglês se chama de binge drinking).
É importante falar de consumo abusivo porque esse é o jeito de beber que mais traz riscos para a saúde e para a sociedade. Quem bebe demais em um curto espaço de tempo pode ficar mais agressivo, mais violento, se cuidar menos, enxergar menos riscos e colocar outras pessoas, além de si mesmo, em diversas situações perigosas.
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Por que não é uma boa ideia beber álcool se você faz uso de remédios, principalmente aqueles que têm ação em nosso cérebro, tais como antidepressivos, ansiolíticos, estabilizadores de humor, anticonvulsivantes e antipsicóticos, entre outros? Você deve lembrar que o álcool é uma substância que age em nosso sistema nervoso central, e que parte das alterações de comportamento que as pessoas têm depois de consumir bebida alcoólica tem a ver com as ações dele em nosso cérebro.
Os pesquisadores costumam explicar que o álcool é um depressor do sistema nervoso, já que ele pode diminuir nossos reflexos e nossa velocidade de tomar decisões. Em doses mais elevadas, ele leva ainda à sonolência e à dificuldade de avaliar o que acontece à nossa volta. Não é à toa que a gente enfatiza o tempo todo a importância do consumo responsável, dentro dos limites de cada um, como forma de evitar problemas.
Assim, se você está fazendo uso de algum medicamento com ação no sistema nervoso e decide beber, o risco de potencialização de efeitos é maior (por exemplo, mesmo com doses mais baixas de bebida alcoólica, você fica embriagado mais rápido), e também, aumenta a chance de enfrentar efeitos colaterais indesejados.
Mas não são apenas os remédios com ação no sistema nervoso central que exigem cuidado na associação com o álcool. Outros medicamentos (e a lista é grande) também exigem atenção. Assim, anticoncepcionais, anti-inflamatórios, antibióticos, entre outros, não impedem o uso de bebida, mas podem necessitar de atenção e cuidados especiais, por isso, toda vez que você está usando qualquer remédio e quer beber, converse com o especialista antes.
O álcool tem metabolização no fígado (lá que acontece boa parte do seu processo de degradação) e muitos dos compostos dos remédios também passam por esse processo hepático. Daí, a importância de não sobrecarregar esse órgão, que é um dos grandes “filtros” do nosso organismo. Vários medicamentos irritam nosso estômago, aumentam a chance de vômitos, alteram nossa excreção renal (aumentam, por exemplo, nossa eliminação de água na urina), e todos esses processos podem impactar na forma como nosso corpo vai reagir ao álcool consumido.
Muito se fala sobre os impactos, positivos e negativos, do uso de álcool em nossa vida sexual. Será que é verdade que o álcool pode melhorar nosso desempenho? Ele traz algum risco na hora do sexo? Quem exagera no consumo de bebida alcoólica tem mais chance de acertar ou de errar em um momento de intimidade? Confira abaixo as principais relações entre álcool e sexo:
1. Quem bebe tem mais chance de se dar bem?
Não é bem assim! Em doses iniciais, o álcool pode produzir um certo relaxamento, diminuir ansiedade e aumentar a sensação de bem-estar. Isso pode facilitar o “chegar” em quem você está a fim. Mas errar na quantidade pode ser fatal. Com o aumento e exagero da ingestão você pode ficar sonolento, mais impulsivo, avaliar mal as respostas do seu “alvo” na paquera e, aí, a chance de meter os pés pelas mãos aumenta muito. Resultado: você acaba se dando mal!
2. Quem bebe mais do que deveria corre mais risco de “forçar” a barra?
Verdade! Pelas causas já explicadas acima, quem passa do seu limite pode perder as “travas” do bom senso, ficar mais ousado do que deveria e avançar o sinal sem ter sido “convidado” ou sem ter total consciência do que está fazendo.
A história vale para os dois lados, tanto para quem bebe demais e força a barra como para quem bebe e acaba “aceitando” o avanço do outro. Não é à toa que hoje se discute muito a questão do consentimento para o sexo e, para boa parte dos especialistas, quem bebe mal não está em condições de consentir em nada e deveria evitar o contato íntimo. Ou seja, a relação álcool e sexo exige cuidado, responsabilidade e atenção de todas as partes envolvidas.
3. Quem bebe pode ter um melhor desempenho na hora H?
Mito! As pessoas têm a falsa noção de que beber pode melhorar a performance no sexo, aumentar as chances de orgasmo e aumentar o tempo de ejaculação. Mas a história não é bem assim.
Quem bebe demais pode ficar muito mais lento, com sono e com demora importante das respostas do corpo. Assim, exageros podem aumentar o risco de perda de ereção e de diminuição das respostas de prazer da mulher, de não conseguir se chegar ao orgasmo, de enfrentar sonolência excessiva no meio do jogo amoroso, enfim, de ter um desempenho que mais decepciona do que impressiona.
4. Quem bebe mal corre mais risco no sexo?
Verdade! Quem exagera no consumo de bebida alcoólica pode perder a capacidade de avaliar bem o que está acontecendo e aumentar a chance de se expor a riscos no sexo (assim como outros tipos de risco).
Quem bebe mal pode escolher pior e se arrepender mais do que fez (“ressaca moral”), pode acabar fazendo mais sexo e com mais parceiros do que planejava (e isso não é bom), pode se expor mais a riscos de violência sexual, e pode acabar usando menos camisinha, o que aumenta o risco de ISTs (infecções transmitidas pelo sexo) e até de uma gravidez indesejada, caso a mulher não esteja usando outro método contraceptivo.
Essa é uma questão clássica, que, apesar de tanta informação e medidas legais bem definidas de restrição de consumo de álcool para quem vai dirigir um veículo, continua a acontecer e preocupar as autoridades em diversas partes do mundo.
A gente já contou que o álcool é um depressor do sistema nervoso central, ou seja, ele diminui algumas funções básicas e importantes do nosso cérebro. Não é à toa que quem bebe mais do que deveria fica sonolento, tem seus reflexos prejudicados e acaba com a capacidade de avaliar riscos comprometida.
Com todas essas alterações, você consegue imaginar alguém capaz de exercer uma atividade que exige máxima atenção, concentração e respostas rápidas, como operar uma máquina ou conduzir um carro?
Impossível, né? Se você precisar frear rápido, pode não conseguir. Se necessitar executar uma manobra que requeira um pouco mais de destreza, também não vai dar! Fora que você pode pegar literalmente “no sono” com as mãos no volante e aumentar muito o o risco um acidente. Para piorar, quem bebe demais perde a capacidade de avaliar corretamente seu estado e pode achar que continua capaz de guiar, mesmo mal conseguindo ficar em pé sozinho(a).
Homens e mulheres são diferentes do ponto de vista biológico e, essas diferenças podem se refletir na resposta do corpo ao álcool.
Trabalhos mostram que apesar dos efeitos nocivos do consumo exagerado da bebida poderem acontecer em qualquer pessoa, nas mulheres esse impacto pode ser ainda mais intenso e começar mais cedo, com níveis mais baixos de álcool.
As mulheres têm uma porcentagem de gordura diferente no seu organismo e, para uma mesma estatura e peso, tendem a ter menos água no corpo do que os homens. Assim, com as mesmas doses, elas alcançam concentrações mais altas de álcool. Além disso, as mulheres possuem, de forma geral, menos enzimas que degradam o álcool no fígado, e isso pode fazer com que os efeitos da bebida persistam por mais tempo no seu corpo.
O consumo nocivo pode levar mulheres a enfrentar, no futuro, mais questões de saúde do que homens por causa de álcool, como maior risco de problemas cardíacos e cirrose, já que elas são mais sensíveis aos efeitos da bebida.
Além disso, abuso de álcool pode prejudicar a fertilidade da mulher, e, mesmo para aquelas que não querem engravidar e usam pílula, a bebida pode dificultar o manejo da contracepção. Bom lembrar que os hormônios das pílulas também são metabolizados no fígado.
Você já deve ter ouvido falar que nunca é legal a gente beber para aliviar alguma emoção, sensação ou pensamento negativos. Nesse sentido, beber porque você está triste, ansioso ou estressado não é uma boa escolha. E consumir álcool para tentar esquecer alguma situação ruim ou complicada também não é boa ideia. Em primeiro lugar, o álcool não vai fazer você resolver seus problemas e, depois, corre-se o risco de usar a bebida como uma “muleta”, um “remédio” para qualquer dificuldade que você encontrar na vida.
Além de beber não ser uma medida efetiva para resolução dos seus conflitos, a repetição desse comportamento pode trazer o risco de um padrão mais complicado de consumo, como o abuso ou a dependência. Alguns estudos afirmam que entre 20% e 40% das pessoas que têm transtornos de ansiedade costumam fazer uso nocivo de bebida, e o inverso também é verdadeiro, quem bebe mal acaba tendo mais transtornos de ansiedade também!
Quem bebe para tentar aliviar ansiedade e estresse pode ter a falsa impressão que o álcool faz a pessoa se sentir melhor. Só que como esse efeito é transitório, ela logo quer beber mais, e pode necessitar de doses cada vez maiores para a tentativa de controle das emoções negativas. Resultado: além de se criar um condicionamento (estar ansioso = preciso beber), ela pode aumentar a frequência da ingestão e a quantidade de álcool consumido, o que traz riscos para sua vida e saúde.
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Quando o assunto é álcool, você já deve ter ouvido termos como “moderado”, “consciente”, ou “responsável” para se referir a padrões desejáveis de consumo. Mas o que esses termos querem enfatizar?
A gente tem alguns parâmetros para balizar o que pode ser o consumo moderado, definido por organizações e instituições que se ocupam dessa discussão. Por exemplo, para a OMS (Organização Mundial da Saúde), homens poderiam beber, no máximo, até quatro doses em uma única ocasião e mulheres, três. Para o NIAAA (National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism), dos EUA, o ideal seria que homens só bebessem até duas doses por dia e mulheres apenas uma. A OMS também enfatiza a importância de não se beber todos os dias da semana.
Mas esses parâmetros são apenas guias. O importante é que cada um de nós, individualmente, aprenda a se relacionar com a bebida de uma maneira que não seja nociva e possa administrar bem seu consumo. Para isso, é importante reconhecer nossos limites e perceber que eles podem mudar de uma fase para outra de nossas vidas. Há dias em que a pessoa pode estar mais vulnerável do ponto de vista emocional e corre o risco de beber mais, por exemplo, daí a importância de conhecer o ponto de parar. Vale destacar que em certas condições, não se pode ingerir nenhuma quantidade de álcool.
A ideia por trás da proibição do consumo de álcool por menores está em proteger os jovens dos efeitos nocivos da bebida em um período da vida em que estão mais vulneráveis tanto do ponto de vista biológico como emocional. Explico melhor: a adolescência é uma fase da vida de muitas transformações físicas e mentais. O cérebro amadurece e há intensas mudanças na organização dos neurônios. Conexões estão sendo feitas e refeitas o tempo todo em diversas áreas relacionadas às emoções e ao comportamento.
Se o álcool entra na vida do jovem nesse momento, ele pode interferir em alguns circuitos como, por exemplo, no mecanismo que controla prazer e recompensa. Assim, se ele bebe e essa é uma experiência prazerosa ou que alivia alguma emoção negativa, corre-se o risco de essa associação ficar “gravada”. No futuro, quando ele quiser aliviar algum desconforto emocional ou estiver buscando alguma forma de satisfação, ele pode buscar no álcool esse “atalho”.
Não é à toa que jovens que começam a beber mais cedo podem ter um risco maior de desenvolver padrões mais complicados de consumo de álcool, como o abuso ou até mesmo dependência.
Pois é, esse é mais um mito que ronda o imaginário das pessoas. Por essa lógica, beber cerveja, por exemplo, faria menos mal porque ela seria mais fraca. Mas a história não é bem assim! Afinal, o álcool presente em bebidas fermentadas e destiladas é o mesmo: etanol. Bebidas fermentadas podem ter uma concentração de álcool menor do que destilados, mas o que conta na hora do consumo não é a concentração, e sim a dose total de etanol ingerida pela pessoa em cada ocasião.
Para facilitar essa compreensão é importante entender o conceito de equivalência de álcool. Uma lata de cerveja (330 ml), uma taça de vinho (100 ml) ou uma dose de destilado (30 ml) têm aproximadamente a mesma quantidade de álcool, algo entre 10 g a 12 g. Ou seja, se em uma balada um amigo toma dois drinques com uma dose de destilado em cada um, e você bebe seis latinhas de cerveja (achando que ela é mais fraca), na verdade você consumiu três vezes mais álcool que seu parceiro. Entendeu essa conta?
Já que estamos falando em bebidas alcoólicas, vai mais um recado: não há comprovação de que misturar tipos diferentes de bebida em uma única ocasião aumenta os riscos de embriaguez. De novo o que vale é a soma da quantidade de álcool presente em cada uma delas.
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