Redação Publicado em 26/02/2021, às 15h40
O uso de mídias sociais, principalmente o esforço para maximizar os “likes”, segue um padrão de “aprendizado de recompensa”, ou seja, ser engajado nas redes está relacionado diretamente ao número de curtidas. Pelo menos, é o que sugere pesquisa realizada por uma equipe internacional de cientistas e publicada na revista Nature Communications.
De acordo com os pesquisadores, as descobertas podem ser úteis para compreender melhor por que as mídias sociais dominam cada vez mais o dia a dia de muitas pessoas, além de oferecer algumas pistas sobre quando o engajamento excessivo é preocupante e como deve ser abordado.
Os dados revelam, ainda, uma semelhança entre o nosso modo de reagir às redes sociais e o comportamento de animais, como ratos, na busca por recompensas alimentares.
Em 2020, mais de 4 bilhões de pessoas passaram inúmeras horas por dia em plataformas como Instagram, Facebook e Twitter. Esse engajamento generalizado nas mídias sociais é comparado a um vício – as pessoas sentem necessidade de interagir socialmente o tempo todo em busca do feedback positivo, os “likes”. Essa tendência é comparada, até mesmo, com aspectos básicos da vida, como comer quando se está com fome.
Apesar de já existirem muitos estudos que abordam o tema das redes sociais, os mecanismos que levam as pessoas a se envolverem, às vezes obsessivamente, com as mídias, ainda não é muito claro.
Com intuito de compreender melhor essas motivações, o estudo, que contou com a participação de cientistas da Universidade de Boston, nos EUA, de Zurique, na Suíça, e do Instituto Karolinska, na Suécia, analisou esses comportamentos a partir da forma como a mente humana processa e aprende com as recompensas.
Para isso, os autores do artigo avaliaram mais de 1 milhão de postagens em redes sociais de mais de 4.000 usuários, tanto no Instagram como em outras plataformas. Eles descobriram que as pessoas espaçam a publicação de posts com o objetivo de maximizar quantas “curtidas” recebem.
Os usuários analisados publicavam com mais frequência quando recebiam, em resposta, uma alta taxa de curtidas, e diminuíam o ritmo quando recebiam um número menor de likes.
Os pesquisadores, através de modelos computacionais, revelaram que o padrão de comportamento observado nas redes sociais é semelhante aos mecanismos conhecidos como “aprendizagem de recompensa”. Esse conceito psicológico estabelece que uma conduta pode ser impulsionada e reforçada por recompensas.
De forma mais específica, a análise sugere que o engajamento das mídias sociais é impulsionado por princípios equivalentes aos que levam animais não humanos, como os ratos, a potencializar suas recompensas alimentares.
Um exemplo é o experimento da Caixa de Skinner, um recurso utilizado para estudar o comportamento. Nesse caso, os animais , geralmente ratos, são colocados em um compartimento com uma alavanca e sem comida. Depois de algum tempo, ele percebe que, ao apertar a alavanca, cai uma porção de comida na caixa – a sua recompensa.
A equipe comprovou os dados objetivos por meio de um experimento online, no qual pessoas podiam postar imagens engraçadas com frases, ou “memes”, e receber curtidas como feedback em uma plataforma semelhante ao Instagram.
Após a análise, os resultados mostraram que, em média, os usuários faziam publicações com mais frequência quando recebiam mais curtidas. Segundo os pesquisadores, as descobertas ajudam a entender melhor a razão pela qual as mídias sociais dominam o cotidiano de tantas pessoas, além de fornecer algumas pistas de estratégias para combater excessos.