Nas redes sociais, algumas mulheres que usaram semaglutida (Ozempic ou Wegovy) ou medicamentos similares para diabetes ou perda de peso têm relatado um efeito colateral inusitado — uma gravidez inesperada.
Um grupo no Facebook chamado “I got pregnant on Ozempic” ("Engravidei usando Ozempic") já conta com mais de 580 integrantes. No TikTok e no Reddit (uma plataforma popular nos EUA), também há postagens frequentes sobre gravidez não planejada durante o uso desses medicamentos.
Os relatos sobre “bebês Ozempic são anedóticos, e ninguém sabe ainda o quão comum é esse fenômeno.
Mas, segundo especialistas, a perda significativa de peso pode mesmo afetar a fertilidade. Com a melhora da resistência à insulina, o equilíbrio hormonal é restaurado e algumas mulheres que tinham a ovulação comprometida podem passar a ovular novamente.
Mas também há quem especule que as drogas conhecidas como “análogas do GLP-1” poderiam interferir na absorção dos contraceptivos orais, causando falhas no controle de natalidade. Isso aconteceria porque a semaglutida retarda o esvaziamento do estômago.
Algumas mulheres contam que engravidaram durante o tratamento com o Ozempic, após terem sofrido abortos espontâneos anteriormente ou terem enfrentado problemas de infertilidade devido aos ovários policísticos. Para mulheres com essa condição, atrasos menstruais são comuns, o que pode dificultar a suspeita de uma gravidez.
Algumas comentam ter sentido náusea, mas como esse é o principal efeito colateral do medicamento, não desconfiaram da gravidez. Nos casos relatados, as mães interromperam o tratamento ao saber da gestação e as crianças nasceram saudávels.
O problema é que pouco se sabe sobre os efeitos de Ozempic e de drogas similares no feto, já que as gestantes foram especificamente excluídas dos ensaios clínicos iniciais do medicamento.
Procurada pelo site, a Novo Nordisk, que fabrica o Ozempic e o Wegovy, reitera que mulheres grávidas ou com intenção de engravidar não fizeram parte dos estudos e existem dados limitados sobre o assunto.
A bula diz que o medicamento não deve ser utilizado durante a gravidez e por pelo menos dois meses antes de uma gravidez planejada. Seu uso também não é recomendado para quem está amamentando, pois estudos em animais sugerem que a semaglutida pode ser excretada pelo leite materno.
“A Novo Nordisk recomenda a realização de qualquer tratamento apenas sob orientação médica, sempre de acordo com orientações do médico responsável e baseada em uma avaliação individual das necessidades do paciente”, acrescenta a empresa.
Por tudo isso, mulheres em idade reprodutiva que recebam uma prescrição médica de semaglutida devem discutir o risco de gravidez com o profissional de saúde. E, caso engravidem, é fundamental entrar em contato com o médico e interromper o tratamento o quanto antes.
Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin