Vacina contra o HIV: saiba como estão os testes no Brasil

As expectativas são as melhores possíveis, afirma o infectologista Bernardo Porto Maia

Anderson José Publicado em 08/07/2021, às 13h34

A fase pré-clínica da vacina apresentou uma eficácia de 67% - iStock

Mesmo com o desenvolvimento de medidas de prevenção variadas, o Brasil ainda registra em torno de 40 mil novos casos de HIV anualmente.

Segundo a Unaids Brasil, desde o início da pandemia (até o final de 2020), uma média de 77,5 milhões de pessoas foram infectadas pelo HIV e uma média 34,7 milhões de pessoas morreram de doenças relacionadas à AIDS no mundo.

Em busca da cura: a vacina contra o HIV

De uma hora para outra, a palavra vacina passou a ocupar boa parte das rodas de conversa, noticiários e entrou na lista de desejos de milhões de pessoas ao redor do mundo. A pandemia de Covid-19 despertou a busca por um imunizante capaz de deter a infecção pelo Sars-Cov-2 e por quê? Porque vacinas salvam vidas, garantindo saúde àqueles que têm preenchido seu cartão vacinal. Diante da importância do desenvolvimento de vacinas, um estudo pioneiro está em busca da cura de uma outra doença também causada por um vírus: o HIV.

Décadas atrás era impensável imaginar que a ciência evoluiria a ponto de um projeto de vacina contra o vírus causador da Aids se tornar factível; no entanto, esse estudo existe e está acontecendo no Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo. O médico infectologista Bernardo Porto Maia é o coordenador do Estudo Mosaico e respondeu a algumas perguntas acerca da pesquisa e do futuro do tratamento do HIV.

O Estudo Mosaico é pioneiro em desenvolver uma vacina que oferecerá imunidade à infecção pelo vírus HIV. Quais as expectativas da equipe médica que coordena o estudo no Brasil?

As expectativas são as melhores possíveis. Estamos muito felizes de participar dessa jornada de pesquisa por uma vacina global contra o vírus, que protagoniza uma pandemia, há 40 anos. O Mosaico é um ensaio clínico de fase III, que busca testar a eficácia de uma vacina contra HIV, que tem como diferencial a possibilidade de prevenir a transmissão sexual de mais de 90% dos subtipos e cepas desse vírus. A fase pré-clínica [antes da aplicação em humanos] mostrou eficácia de 67% (o estudo anterior que havia apresentado maior eficácia, chegava apenas a 31%).

Por que, mesmo com o desenvolvimento de medidas de prevenção variadas, o Brasil ainda registra em torno de 40 mil novos casos de HIV anualmente?

A melhor estratégia de prevenção é aquela que o indivíduo pode, quer e consegue utilizar. É muito importante contarmos com um variado arsenal de prevenção combinada, hoje, a fim de atender as demandas das pessoas, que são diferentes entre si.

No entanto, não basta desenvolver novas estratégias. Precisamos melhorar o acesso a esses métodos, principalmente pela população-chave da infecção pelo HIV: homens que fazem sexo com homens, pessoas trans, profissionais do sexo, população privada de liberdade, usuários de múltiplas drogas, dentre outros grupos mais vulneráveis, no contexto sociocultural e econômico em que se inserem.

O acesso expandido à PrEP (Profilaxia Pré-Exposição), por exemplo, é uma medida urgente e necessária para reduzir essa realidade de novos casos de infecção pelo HIV.

Com o avanço das pesquisas, você acredita em uma possível cura do HIV?

Sim. Parece clichê, mas, de fato, estamos mais perto da cura, a cada dia. Há pesquisas já com resultados bastante promissores, inclusive no Brasil, com relatos de pacientes que atingiram a remissão da carga viral e encontra-se em seguimento para definir se de fato houve a tão sonhada cura ou não.

Os avanços são inegáveis e animadores também no tratamento curativo, mas, até lá, precisamos investir em prevenção e frear a transmissão e o número de novos casos de infecção pelo HIV no mundo.

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