Todo mundo quer ser feliz, mesmo que nunca tenha parado para pensar no que isso significa. Mas, curiosamente, um estudo mostra que a obsessão em ficar bem
Jairo Bouer Publicado em 10/01/2020, às 20h36
Todo mundo quer ser feliz, mesmo que nunca tenha parado para pensar no que isso significa. Mas, curiosamente, um estudo mostra que a obsessão em ficar bem pode aumentar a propensão a sintomas depressivos, pelo menos aqui no Ocidente.
Pesquisadores da Universidade de Reading, no Reino Unido, descobriram uma associação significativa entre a preocupação excessiva com a felicidade e a tendência desenvolver depressão. É possível que essas pessoas prestem atenção demais nas próprias emoções, e isso faz com que tenham mais dificuldade em regular pensamentos ou sentimentos negativos.
Estudos já tinham ligado o transtorno à valorização excessiva da felicidade nos EUA, e agora a hipótese foi confirmada em uma outra população, por isso ganha um peso um pouquinho maior. Como a gente sempre comenta por aqui, o resultado de uma pesquisa deve ser sempre confirmado em outros estudos e em outras populações para ser considerado uma evidência científica.
A equipe britânica acompanhou 151 estudantes, a maioria do sexo feminino, que respondeu a uma série de questionários. A análise das respostas e a frequência de sintomas depressivos verificada mostram que as pessoas mais preocupadas em ser feliz são justamente as menos propensas a alcançar esse objetivo.
Os pesquisadores ainda repetiram o experimento com outros 299 participantes, desta vez com um questionário extra para avaliar o risco de transtorno bipolar. Explico: nas fases de euforia, as pessoas podem se sentir muito felizes, mas depois de um tempo vem a depressão.
Os dados foram publicados no Journal of Happiness Studies, e divulgados no jornal The Guardian. Segundo os autores, essa tendência tem sido observada apenas no Ocidente. Estudos feitos na Rússia e em países do leste da Ásia revelam o oposto – lá, valorizar a felicidade é um passo para alcançá-la.
As limitações do estudo britânico é que fatores como saúde e status socioeconômico não foram levados em consideração. Outra questão que precisa ser melhor investigada é se a depressão, em si, é o que faria as pessoas ficarem obcecadas em ser felizes.
A outra explicação para o fenômeno é quase um clichê. A chave para ser feliz estaria em pequenas coisas, e não nos sonhos ambiciosos que muita gente, no Ocidente, costuma almejar.