Você não está sozinho; filósofos, biólogos, psicólogos e outros pensadores também se perguntaram isso
Redação Publicado em 22/01/2025, às 10h00
Se você está questionando se o amor é uma ilusão, você não está sozinho. Filósofos, biólogos, psicólogos e outros pensadores se perguntam isso desde o surgimento da consciência. Sua pergunta pode ser o resultado de ter tido experiências ruins no amor, ter se decepcionado, traído ou abandonado.
O amor é uma ilusão? Ou é uma projeção ou criação da mente, influenciada por fatores sociais, biológicos e culturais? De uma perspectiva biológica e evolucionária, pode-se argumentar que o amor é uma ilusão e pode ser visto como um mecanismo biológico projetado para garantir reprodução, vínculo e sobrevivência – em vez de uma experiência puramente emocional.
O amor ativa o mesmo sistema de recompensa baseado em dopamina que o vício em drogas. De fato, o amor pode parecer um vício e, portanto, quando perdemos um ente querido, também passamos por abstinência. Alguns podem argumentar que o que chamamos de amor é, na verdade, uma série de respostas hormonais que incentivam o apego e o cuidado com os filhos (e, portanto, a sobrevivência).
Teóricos evolucionistas, como Helen Fisher (professora de antropologia e pesquisadora do comportamento humano na Rutgers University e estudou a atração romântica interpessoal por mais de 30 anos e tem vários livros publicados no Brasil) dizem que o amor romântico é um processo neuroquímico que serve a uma função prática de sobrevivência em vez de refletir nossas visões romantizadas.
Enquanto a biologia evolutiva explica como o amor promove a ligação e aumenta o sucesso reprodutivo, o amor é mais profundo do que apenas instintos de sobrevivência. É uma experiência profundamente emocional, psicológica e espiritual que é crucial para o nosso bem-estar, crescimento e senso de significado na vida.
De um ponto de vista social e cultural, pode-se argumentar que o amor é uma ilusão e é influenciado por pressões sociais e ideais como o "parceiro perfeito" ou "alma gêmea". Esses ideais podem criar uma ilusão de um amor perfeito que pode não corresponder à realidade. Assim, de acordo com essa visão, o amor é uma ilusão porque é baseado em expectativas irrealistas e narrativas culturais, e atrapalha conexões autênticas e genuínas.
Embora o amor seja influenciado por fatores sociais e culturais e seu significado tenha sido sequestrado pelo romantismo e por Hollywood, ele não é meramente uma construção. A sociedade e a cultura influenciam como o amor é expresso e conceituado, mas o amor existe além disso.
A universalidade do amor entre culturas e seus fundamentos biológicos, evolutivos e psicológicos demonstram que o amor é uma parte real e essencial da experiência humana. O amor satisfaz nossa necessidade humana fundamental de pertencimento, conexão, aceitação e intimidade. Sem isso, seríamos solitários, deprimidos, ansiosos e sem propósito e motivação.
Assim, o amor é uma função e requisito quintessencial para viver uma vida saudável e significativa. Em um mundo obcecado pelo amor romântico, é útil lembrar a nós mesmos que o amor vem em muitas formas e expressões diferentes. Existem muitos tipos de amor, nenhum mais importante que os outros, e todos com qualidades e propósitos únicos.
O amor que você experimenta com as pessoas em sua vida pode evoluir e se transformar. Então, um amor que começou com paixão e desejo físico pode se tornar um amor baseado em compreensão e parceria. Mas isso torna o amor menos real?
Alguns podem argumentar que o amor é uma ilusão porque é moldado por nossos vieses cognitivos. Temos a tendência de projetar uma fantasia em nosso parceiro e no relacionamento, em vez de vê-los como realmente são. Isso significa que vemos nosso parceiro de uma forma excessivamente positiva, com uma tendência a focar em suas melhores características e ignorar falhas, especialmente nos estágios iniciais do namoro.
À medida que o amor idealizado desaparece, ele pode revelar que a experiência foi em parte uma ilusão. Nessa visão, o amor é visto como um mecanismo para lidar com inseguranças e nossa necessidade de conexão, em vez de ser um sentimento independente e puro.
Embora os vieses cognitivos possam influenciar nossas percepções de um parceiro nos estágios iniciais de um relacionamento, o amor duradouro transcende essas idealizações iniciais. Muitos casais mantêm laços emocionais profundos baseados em intimidade, confiança e comprometimento muito depois que a fase de lua de mel termina.
Assim, o amor não é apenas uma projeção de qualidades idealizadas, mas uma conexão genuína que se desenvolve e evolui ao longo do tempo. Isso significa que, se não sobrar nada entre duas pessoas depois que a fase de lua de mel acaba, provavelmente não foi amor verdadeiro, mas, sim, paixão ou encantamento.
De um ponto de vista filosófico, pode-se argumentar que o amor é uma ilusão. Sim, alguns filósofos argumentaram que o amor é uma ilusão na medida em que obscurece o pensamento racional e distorce nossa percepção da realidade. Arthur Schopenhauer, por exemplo, argumentou que o amor é "forte o suficiente para levar muitas pessoas à morte, e mais ainda ao hospício", mas que não importa o quão real ou agradável pareça, é uma ilusão instalada em nós para perpetuar a espécie.
E embora o amor seja profundamente significativo, é uma experiência temporária e, em última análise, ilusória que distrai da verdade mais existencial da vida humana (que estamos sozinhos e somos impermanentes).
Outros filósofos argumentam que, embora o amor seja difícil e complexo, ele é real. Søren Kierkegaard escreveu que o amor é algo que fundamenta nossa existência e dá significado e propósito à vida. Como tal, está longe de ser uma ilusão, mas é exatamente o que torna a vida real. Da mesma forma, Erich Fromm argumentou que o amor está enraizado na natureza humana e é necessário para criar vidas significativas e gratificantes. É uma habilidade que deve ser aprendida, nutrida e praticada.
Um forte argumento para a existência e "realidade" do amor é que pesquisas têm consistentemente descoberto que o amor (em todas as suas formas) é crítico para nossa saúde, bem-estar e longevidade (por exemplo, Mertika, 2020):
-Estudo de Desenvolvimento Adulto de Harvard, de 85 anos, revelou que o amor e os relacionamentos de qualidade são os preditores mais significativos de felicidade e satisfação com a vida.
-Reduz a pressão arterial, reduzindo o risco de doenças cardíacas.
-A ocitocina reduz o cortisol e promove o relaxamento, levando a uma melhor saúde mental e física.
-Suporta um sistema imunológico forte, permitindo que você combata doenças de forma mais eficaz.
-Inspira as pessoas a perseguir objetivos e cuidar de sua saúde pelo bem de seus entes queridos.
-Aumenta o senso de pertencimento das pessoas, levando a um melhor bem-estar e satisfação com a vida.
A questão de se o amor é uma ilusão depende, em última análise, de como você o define. Se estamos falando sobre a noção idealizada de amor dos filmes da Disney (onde o parceiro perfeito existe e o "felizes para sempre" é garantido), então, sim, a realidade dos relacionamentos amorosos pode não corresponder a essa ilusão.
Mas quando você entende o amor como laços emocionais confusos, complexos e em evolução entre humanos, então ele é inegavelmente real. Em última análise, o amor não é uma ilusão passageira, mas um elemento fundamental da vida humana que promove a sobrevivência e o bem-estar e fornece conexão e realização.
Fonte: Simply Psychology
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