Estudos mostram que conexões periféricas têm um enorme peso para a felicidade
Tatiana Pronin Publicado em 28/04/2023, às 13h00
Sabe aquela pessoa que você cumprimenta todos os dias na padaria, no elevador, ou ao passear com o cachorro na rua? Psicólogos e sociólogos chamam esses tipos de conexões de “laços fracos” ou “laços periféricos”, para diferenciar dos laços estreitos que temos com familiares e amigos mais íntimos.
Entram nessa categoria de laços mais fracos os colegas de classe ou de trabalho, vizinhos e pessoas que frequentam a mesma igreja, por exemplo. Mas também aquelas interações com pessoas quase desconhecidas, como o atendente da loja ou do supermercado que você frequenta.
Se você pensa que essas interações não têm importância alguma na sua vida, é bom mudar de ideia. Pesquisadores garantem que esse contato com colegas ou quase estranhos gera emoções positivas e pode reduzir o risco de você ficar com o humor deprimido, segundo reportagem publicada no The New York Times.
De acordo com um estudo coordenado pela psicóloga Gillian Sandstrom, da Universidade de Sussex, na Inglaterra, laços fracos levam a um sentimento de pertencimento. E sentir-se conectado a outras pessoas é essencial para prosperar, mesmo para quem é introvertido.
Num estudo feito em 2014, alunos de faculdade e pessoas com mais de 25 anos foram convidados a andar com um contador portátil no bolso durante vários dias. Toda vez que interagissem com alguém, elas tinham que dar um clique no aparelho. Aqueles que tinham mais interações diárias relataram pontuaram melhor em questões como sensação de bem-estar, pertencimento e felicidade.
Os efeitos não dependiam da personalidade de cada um, de acordo com os resultados. Os mesmos indivíduos relataram estar mais felizes nos dias em que tinham mais interações.
Outros estudos, feitos em países diferentes, como Canadá e Turquia, encontraram benefícios semelhantes quando as pessoas sorriam e conversavam brevemente com os baristas de uma cafeteria, ou cumprimentavam motoristas de ônibus universitários.
A maioria desses participantes era jovem, mas um estudo da Universidade de Michigan, publicado em 2020, acompanhou uma amostra com de mais de 800 adultos mais velhos na região metropolitana de Detroit, ao longo de 23 anos.
Os participantes, que no início tinham 62 anos em média, tinham que desenhar três círculos com a palavra “você” no centro, e organizar as pessoas que faziam parte da vida delas por grau de proximidade. Os mais próximos quase sempre eram os familiares. No círculo mais externo estavam colegas de trabalho, vizinhos e amigos mais distantes.
Ao longo do tempo analisado, o número de laços fracos foi mais determinante para o bem-estar da pessoa do que o número de laços estreitos. Para os autores, isso ocorre porque essas conexões têm baixa demanda, e estimulam nossa cognição (memória, raciocínio e aprendizado).
A pandemia de Covid, como se sabe, trouxe um enorme prejuízo para os idosos por causa da redução dessas interações diárias. Muitos deles até mantinham contato com os familiares, mas deixaram de fazer contato com garçons, caixas de banco etc. E isso pesou para o bem-estar.
Conforme a gente envelhece, nossas redes sociais tendem a se encolher. Mas, para os pesquisadores, é preciso fazer um pequeno esforço para isso não acontecer. Valorizar os laços periféricos pode ser uma ótima saída. Basta um sorriso, um comentário sobre o clima, qualquer interação pode valer.
A maioria dos laços fracos permanece assim, e isso não é ruim. Até porque relacionamentos íntimos às vezes são complicados, demandam reciprocidade e há risco de conflitos. Por outro lado, algumas conexões periféricas também podem evoluir e se transformar em amizades para o resto da vida.
De qualquer maneira, tomar a iniciativa de cumprimentar alguém e bater um papo de cinco minutos pode fazer uma enorme diferença para o seu bem-estar emocional e também o dos outros.
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