Saber se um jovem está com alterações de humor típicas da adolescência ou algo mais preocupante é um dos maiores desafios que os pais enfrentam ao tentar
Jairo Bouer Publicado em 18/11/2019, às 19h41 - Atualizado às 19h50
Saber se um jovem está com alterações de humor típicas da adolescência ou algo mais preocupante é um dos maiores desafios que os pais enfrentam ao tentar identificar sintomas de depressão. É o que revela uma pesquisa norte-americana feita pela Universidade de Michigan.
O relatório é baseado nas respostas de 819 pais e mães que têm pelo menos um filho com idade entre 11 e 17 anos. Embora a maioria dos pais se mostre confiante para identificar uma eventual depressão, dois terços deles admitiram que é difícil detectar certos sintomas específicos do transtorno.
Uma das questões mais capciosas é diferenciar o transtorno dos famosos altos e baixos do adolescente: 40% acham isso complicado, e com razão. Para dificultar as coisas, nem todos os filhos são transparentes com os pais – 30% dos entrevistados avaliam que eles são bons em esconder sentimentos.
Um terço dos entrevistados diz que nada disso é capaz de interferir na sua capacidade de reconhecer que um filho está deprimido. Para os autores, é preciso tomar um pouco de cuidado com essa autoconfiança toda – muitas vezes os sinais são sutis, por isso é importante ficar atento e tomar a iniciativa de falar sobre sentimentos.
Outra descoberta do estudo é que a depressão não é um tema desconhecido para as famílias. Um em cada quatro pais entrevistados disse que o filho tinha algum colega que sofria de depressão. E um em cada 10 relatou que algum colega do filho tinha morrido por suicídio.
Os dados acima são consistentes com as estatísticas nacionais. Nos EUA, a taxa de suicídios entre pessoas de 10 a 24 anos aumentou 56% entre 2007 e 2017, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC).
Os sintomas da depressão podem variar entre os jovens. Enquanto alguns manifestam mais tristeza e isolamento, outros tendem a ficar mais irritados ou até violentos. Uma dica importante é a mudança de comportamento – de repente o filho deixa de praticar o esporte que adorava, começa a ter notas baixas, emagrece ou come demais, não dorme ou não quer mais sair da cama, e assim por diante.
Apesar de muitos jovens terem algum colega que sofre de depressão, é mais fácil perceber que algo está errado no outro do que neles próprios. Daí a importância de a família, os amigos ou os professores se comunicarem entre si ao perceber que o adolescente está sofrendo. Às vezes existe um obstáculo na comunicação com os pais, mas outro adulto de confiança pode ser um canal para o filho buscar ajuda.
A maioria dos pais também acredita que as escolas devem ajudar a identificar o risco de depressão, sendo que sete em cada dez apóiam o rastreamento a partir do ensino médio, uma proposta que vem sendo discutida nos EUA. O problema é que, mesmo lá, as escolas têm poucos recursos para preparar equipes e oferecer aconselhamento adequado aos alunos que precisam.
No Brasil, essa discussão ainda é incipiente, e muitas escolas públicas não conseguem nem dar conta do básico. É por isso que os familiares devem ter atenção redobrada e manter o ambiente em casa propício para o diálogo.